23/03/2015

Fotografias da tertúlia Artur Gonçalves

Fotografias relativas à tertúlia sobre Artur Gonçalves que decorreu na Escola Artur Gonçalves no dia 19 de março de 2015. Registe-se que o patrono desta escola foi decidido em março de 1990.
Tertúlia Artur Gonçalves
António Ribeiro na comunicação inicial.
Tertúlia Artur Gonçalves
Comunicação de Joaquim Rodrigues Bicho.
Tertúlia Artur Gonçalves
Comunicação de António Mário Lopes dos Santos.
Tertúlia Artur Gonçalves
Comunicação de Ana Marques.
Tertúlia Artur Gonçalves
Comunicação de Vítor Antunes.
Tertúlia Artur Gonçalves
Participantes na tertúlia de Artur Gonçalves.

20/03/2015

Tertúlia sobre Artur Gonçalves - Intervenção de António Ribeiro

Ex.ma Senhora Vereadora da Cultura; Ex.mo Senhor Diretor do Agrupamento; Ex.mos Senhores e Senhoras e caros colegas.
A tertúlia é na sua essência uma reunião de amigos para discutir temas e assuntos diversos. E o que se pretende com esta reunião de amigos e colegas é homenagear Artur Gonçalves. Esta ideia foi, em boa hora, sugerida pelo Diretor do Agrupamento que tem Artur Gonçalves como patrono e, na minha opinião, não encontro forma mais adequada de prestar um reconhecimento a Artur Gonçalves que reunir um grupo pessoas para refletir sobre os méritos do seu trabalho.
Tenho a certeza que pelo elevado nível intelectual dos nossos convidados, que muito nos distinguem com a sua presença, esta conversa entre amigos vai ser extremamente interessante e frutuosa.
A obra de Artur Gonçalves é fundamental para a construção da memória histórica da comunidade torrejana. Entendendo-se este conceito de memória como o que fica do passado na vivência dos grupos humanos.
Infelizmente vivemos um quotidiano em que somos confrontados, através da comunicação social, com atos de damnatio memoriae, como são exemplo as ações do Estado Islâmico que ocupa a Mesopotâmia. Testemunhos das civilizações assírias, como a Suméria, precisamente a região onde nasceu a História, estão a ser alvo de uma fúria destruidora incompreensível que radica na intolerância religiosa.
Em sentido oposto, temos homens e mulheres que consagraram e consagram as suas vidas à conservação e divulgação dessa memória histórica que une e identifica uma comunidade.
Parece-me que se pode filiar a obra de Artur Gonçalves na melhor tradição de uma escola positivista que procura garantir a autenticidade do documento e a veracidade do facto. No caso português, julgo ser evidente para quem se dedica à investigação historiográfica, existe um défice nesta área.
Um historiador que também se empenhou no estudo e divulgação da história desta região, Júlio César de Sousa e Costa, em artigo datado de 1940 no jornal O Moitense, referia-se a Artur Gonçalves, a quem designa de investigador erudito, como tendo estado na origem do cumprimento de uma portaria de D. Maria II de 1847 que determinava que se fizessem os anais dos municípios. E vou citar a sua conclusão: “Posso dizer, sem receio de ser desmentido, que [Torres Novas] é a única Câmara Municipal do Distrito de Santarém que possui a história do seu burgo e das suas freguesias pelo que devem ser dadas aos diferentes Presidentes que intervieram na sua publicação as mais inequívocas e calorosas felicitações e uma saudade à memória do seu compilador que bem mereceu da sua terra adotiva”.
Mas neste ponto o município torrejano tem sido afortunado porque a obra de Artur Gonçalves tem sido brilhantemente continuada por ilustres torrejanos. É o caso do Senhor Joaquim Rodrigues Bicho que tem produzido uma extensa obra publicada em livros e artigos que aprofundam e atualizam as pesquisas historiográficas de Artur Gonçalves. O professor António Mário Lopes dos Santos que tem publicado o resultado das suas interessantes investigações nas áreas da História Económica e Social do nosso concelho e região. A Dr.ª Ana Marques que tem estado associada a uma equipa responsável pela interessante dinamização cultural do Museu Municipal Carlos Reis, provando que os museus podem ser centros dinâmicos de cultura para a comunidade e não um depósito da memória. O nosso colega Vítor Antunes, professor de Filosofia que tem dedicado muito do seu tempo à recolha de documentação relativa à história de Torres Novas.
Vou passar a palavra aos nossos convidados, a quem, em nome do nosso agrupamento agradeço afetuosamente a participação nesta atividade, para que depois, dentro do espírito de tertúlia, a conversa se possa alargar a todos os presentes.

Tertúlia de Artur Gonçalves com
Joaquim Bicho, Ana Marques, António Ribeiro, António Mário e Vítor Antunes
Escola Artur Gonçalves - Torres Novas.

Equipa de investigadores acredita ter localizado os restos mortais do autor de D. Quixote

O antropólogo forense Francisco Etxeberria, que dirige uma equipa de 30 investigadores,  disse aos jornalistas que era bem “possível” que tivesse identificado os restos mortais de Miguel de Cervantes (1547-1616), o autor do célebre romance de cavalaria D. Quixote de la Mancha. Ao longo de quase duas horas, antropólogos, historiadores e outros elementos da equipa que há um ano procura a sepultura deste escritor universal – e que nos últimos 50 dias transformou a cripta da igreja do Convento das Trinitárias Descalças, em Madrid, num verdadeiro laboratório -, explicaram de que hipóteses partiram, que documentos analisaram e como chegaram às conclusões preliminares com base nos dados científicos recolhidos. Agora, em entrevista ao diário espanhol ABC, Etxeberria, também professor de Medicina Legal da Universidade do País Basco e director da Sociedade Científica Aranzadi, garantiu que o projecto terá continuidade, sendo a próxima fase dos trabalhos, a terceira, dedicada a traçar o perfil genético de Cervantes. Para isso, a equipa deste antropólogo que também já dirigiu a exumação dos corpos do poeta Pablo Neruda e do presidente chileno Salvador Allende, bem como de dezenas de partidários republicanos depositados em valas comuns durante a Guerra Civil de Espanha, vai pegar nos ossos atribuídos a Cervantes e deles extrair ADN, “mesmo não havendo comparação possível [com o ADN de familiares do escritor]”. O perfil genético, explica, “é uma espécie de código de barras que inclui sinais de identidade provenientes do pai e da mãe. Esse código torna cada indivíduo singular. No caso de Miguel de Cervantes, e porque se tratam de restos mortais deteriorados, não sabemos como surgirá tal perfil”, disse, lembrando que o escritor e dramaturgo morreu há 400 anos e que as suas ossadas, enterradas no solo da cripta das trinitárias, estavam misturadas com as de outros 16 adultos e crianças, o que pode comprometer os resultados. Na mesma entrevista ao diário espanhol, o director desta equipa multidisciplinar, que inclui também vários arqueólogos, lamentou ainda não terem conseguido executar a reconstrução facial do escritor – os restos atribuídos a Cervantes não incluíam ossos que permitissem fazê-la – nem identificar vestígios com marcas dos ferimentos no esterno e na mão esquerda que o autor de Quixote terá sofrido na Batalha de Lepanto. Esta terceira fase dos trabalhos será “estritamente científica”, depois de uma primeira “mais técnica”, de localização e identificação dos restos mortais, e de outra “claramente científico-cultural”, em que os dados recolhidos foram analisados à luz das provas documentais e históricas conhecidas. O projecto prossegue agora em laboratórios especializados, mas Etxeberria continua cauteloso em relação ao que se poderá vir a concluir e, para o demonstrar, invoca um princípio da medicina forense que toma como conselho: “quando há pouco osso é melhor falar pouco.”
Juan de Jáuregui
Cervantes, segundo Juan de Jáuregui, c.1600.

12/03/2015

Estado compra "raríssima" pintura dos primitivos portugueses

O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, continua a ver crescer a sua colecção. Depois de no final do ano passado, a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) ter comprado uma pintura de Vieira Portuense para o museu, comprou agora um "raríssimo" tríptico a óleo sobre madeira atribuído ao Mestre de Santa Clara e datado do século XV. A compra aconteceu num leilão disputado no Palácio do Correio Velho, em Lisboa, com a obra a ser arrematada por 30 mil euros.
A obra que integrou o leilão de Antiguidades, Arte Moderna e Contemporânea, foi levada à praça por cinco mil euros mas acabou vendida muito acima do esperado – a estimativa mais alta apontava para os dez mil euros. O preço final fixou-se nos 30 mil euros, depois de uma disputa entre vários interessados.
É uma "raríssima" pintura, reconhece já esta quinta-feira de manhã Joaquim Caetano, conservador de pintura do Museu de Arte Antiga. "Não me lembro de no último quarto de século ter estado à venda uma pintura desta importância histórica". acrescenta. "Quase toda a nossa pintura entre os Painéis de São Vicente, a oficina de Nuno Gonçalves, e o ciclo manuelino de pintura, marcado por uma influência flamenga muito grande, desapareceu. Há um grande hiato de conhecimento", ou seja, "saber o que depois do ciclo dos painéis aconteceu à pintura até ao outro brilhante ciclo de pintura do tempo do rei D. Manuel". Terão sobrevivido menos de três dezenas de pinturas.
Na quarta-feira à noite, foi logo revelado que a peça vai para o Museu de Arte Antiga, que ainda em 2010 dedicou uma grande exposição aos primitivos portugueses, cujo nome maior é Nuno Gonçalves, autor dos Painéis de São Vicente, que podem ser vistos exactamente no MNAA.
É então muito raro uma obra de um pintor primitivo português aparecer em leilão, o que torna a venda desta quarta-feira um caso ímpar. A leiloeira recorreu ao professor e historiador de arte Vítor Serrão para entender a origem da peça. Segundo Serrão, lê-se no catálogo, esta obra estava dada por perdida pelo historiador de arte Reynaldo dos Santos. “O mestre conhecido como Mestre de Santa Clara é o autor do políptico de Santa Clara-a-Velha de Coimbra, de cerca de 1486, hoje no Museu Machado de Castro”, continua a descrição, colocando o autor de Nossa Senhora com o Menino Jesus e dois anjos próximo do pintor régio de D. João II, o Mestre Vicente Gil.
Mestre de Santa Clara
 Nossa Senhora com o Menino Jesus e dois anjos, atribuído ao Mestre de Santa Clara, foi levada à praça .

11/03/2015

O Direito à Memória, ou quando “do alto destas pirâmides, 40 séculos de História nos contemplam!”

Por Paulo Mendes Pinto e Fernando Catarino
Quando por volta do século XXIII a.C. um novo monarca subiu ao trono da florescente cidade de Acad, teve a necessidade de se rebaptizar com o nome Sargão, “o rei legítimo”. Mais uma vez, entre tantas que não param de se suceder, um líder terá usurpado o poder matando quem antes o detinha, apresentando-se então como o legítimo, o correcto, o escolhido, dominando com um punho férreo, e destruindo tudo o que era memória de quem tinha reinado antes.
Muito mais tarde, no início do século VIII a.C, um novo Sargão, o II de seu nome, subia ao trono da Assíria, também através de um golpe palaciano, recorrendo ao mítico nome para se robustecer numa ascensão que era frágil. Seria ele o primeiro grande invasor de Jerusalém no ano 720 a.C., e o responsável pela que por muitos é considerada a primeira diáspora hebreia. São deste monarca algumas das estátuas que nestes dias temos visto a serem destruídas no Museu de Mossul pelos militantes do autoproclamado Estado Islâmico.
Entre silêncios cúmplices e gritos de revolta, estamos mais uma vez a ouvir a lamentação do Tempo no que de irrecuperável ele tem para a nossa identidade e memória. O património da humanidade no Médio Oriente está em acentuado processo de destruição. Em 2001 foram destruídos, por grupos fundamentalistas islâmicos, talibans, os Budas de Bamian. Em 2003, foi saqueado, por permissão ou demissão das tropas que lutavam contra esse mesmo fundamentalismo, o Museu de Bagdade.
De comum a estes actos trágicos contra a memória e a história da humanidade, encontra-se a brutalidade, o choque que nos foi transmitido pela falta de sensibilidade, pela irresponsabilidade perante tais tesouros. Tal como no caso do Museu de Bagdad, em 2003, o Museu de Mossul depositava muitas das peças mais importantes para a compreensão da génese da civilização, do caminho de toda a Humanidade.
Nestes últimos dias, depois de saques e destruições realizadas um pouco por todo o Iraque e Síria por essas gentes que tentam criar algo a que chamam Estado Islâmico, ouvimos e lemos a notícia do apelo à destruição das pirâmide e da esfinge do planalto de Guiza no Egipto.
Napoleão, há dois séculos, exprimia na frase que usei para o título deste texto a reverência e a admiração perante os magníficos monumentos da antiga civilização do Egipto, recolhendo para si o valor heróico de ter as tropas naquele local, contempladas pelas quase eternas pirâmides.
Muito do que foram algumas das principais revoluções da humanidade está directamente ligado a estes territórios: a agricultura, a roda, a cerâmica, a escrita e, obviamente, a própria noção de Deus e de Profeta que os monoteísmos apresentam hoje.
Quando o alvo são as heranças das culturas politeístas, é fácil a barbárie ir aos Textos Sagrados buscar exemplos em que Profetas destruíram ídolos e realizaram purificações.
Perante essa visão buçal de querer hoje repetir supostos gestos de tempos imemoriais de afirmação dos monoteísmos, quando alguns profetas destruíram ídolos, de nada parecem valer os apelos que mundo fora são regularmente feitos para que as destruições de museus e de sítios arqueológicos parem.
De nada serve que alguns líderes religiosos islâmicos tenham vindo já equiparar a arte pré-islâmica à arte islâmica, reforçando a obrigação de a conservar. E de nada serve porque a barbárie que vemos ser feita contra esta herança que nos é comum resulta de uma visão do mundo em que este suposto Estado Islâmico se apresenta como a quase primeira efectivação certa do Islão. Tudo o resto, sejam muçulmanos, ou não, está errado. Tudo é negado na sua eventual validade, desde que venha de fora dos seus líderes.
E é nessa visão do mundo que se deve olhar para esta barbárie. A destruição que alguns grupos radicais islâmicos vão fazendo regularmente nas últimas dezenas de anos parece fazer parte de uma estratégia de anulação da memória colectiva, como se ao fazerem isso estivessem a consolidar essa ideia peregrina de que são eles os primeiros a estarem certos, escolhidos que foram para uma missão verdadeiramente civilizadora, pretendendo apagar o passado. Parece ser uma interminável história, esta a de se matar o pai, qual complexo edipiano aplicado ao correr das civilizações.
É, de facto, uma afirmação verdadeiramente “sargónica” aquela que vemos ao serem destruídas as estátuas em Mossul, ou ao pretender-se destruir as pirâmides junto ao Cairo. Não se poderá dizer que repetem Maomé na Caaba porque nas salas desse museu não se cultuavam aquelas estátuas, elas eram simplesmente memória e arte.
A suposta repetição desse gesto atribuído ao Profeta não terá muito a ver com o medo de que essas estátuas, esses monumentos, façam perceber que há mundo para lá do que os dirigentes do suposto Estado Islâmico dizem? Matar o pai, renegar a genealogia cultural de onde se vem é a mais eficaz forma de desenraizamento.
Sim, porque a memória colectiva é o primeiro instrumento que nos faculta aceder à capacidade crítica. E esse é o medo dessa gente: que aqueles que são dominados olhem para as estátuas agora quebradas dessas salas de memória, e questionem a legitimidade de quem os pretende dominar.
Afinal, o único ídolo cultuado neste momento no Médio Oriente não é a vontade milenar repetidora de Sargão, com um pseudo-califa desejoso de impor o seu poder e de se tornar legítimo, lançando a uma damnatio memoriae tudo o que vê como inimigo?
civilização assíria
"Touro alado", escultura da civilização Assíria.