Apontamentos História Local

Castelo de Torres Novas
O Castelo de Torres Novas em posição dominante sobre a cidade, à margem do rio Almonda, integrante da chamada Linha do Tejo, permanece como ex-libris da povoação. É certo que aqui existia uma povoação Muçulmana à época da Reconquista cristã da Península Ibérica, cuja posse deve ter oscilado ao sabor dos avanços e recuos da linha fronteiriça. Embora se acredite que uma conquista inicial remonte a 1135, perdida em 1137, no contexto da fundação e primeira destruição de Leiria, as fontes documentais são acordes em que Turris foi definitivamente conquistada pelas forças sob o comando de D. Afonso Henriques (1112-1185) em 1148, na sequência das conquistas de Santarém e Lisboa, no ano anterior. Admite-se que o soberano ter-lhe-á promovido reforços nas defesas, ou mesmo iniciado a reconstrução do castelo, quando a povoação terá acrescida à sua toponímia a designação "Novas", distinguindo-a da homónima, no Distrito de Lisboa, que passou a ser conhecida como Torres "Velhas" (Torres Vedras). Desse modo, embora figure como "Torres" em documento de 1159, no testamento do soberano, datado de 1179, já figura como "Torres Novas". Em 1184, as forças do califa almóada de Marrocos, Aben Jacub, acamparam no local até hoje conhecido como Arraial, a Sudeste da povoação. Dali assaltaram a vila, arrasando a sua fortificação, dirigindo-se em seguida para Santarém. No assédio a esta, vieram a ser derrotados, vindo o emir a falecer em consequência dos ferimentos recebidos na ocasião. Na narrativa da história do culto a Nossa Senhora do Ó no país, surgido nesta povoação, é referido que a imagem aqui adorada também o era sob a designação de Nossa Senhora da Alcáçova, por ter sido recuperada em uma gruta ou concavidade achada pelos trabalhadores quando da abertura dos alicerces para a edificação ou reedificação do castelo, por volta de 1187, sob o reinado de D. Sancho I (1185-1211). Ainda sob o reinado deste soberano, possivelmente com as obras do castelo ainda em progresso, a povoação sofreu novo assalto das forças almóadas, agora sob o comando de Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur, irmão do falecido Aben Jacub, vindo a cair após um cerco de dez dias (1190). Deixando guarnição em Torres Novas, as tropas daqui se dirigem ao assédio a Tomar. As forças de D. Sancho I devem ter retomado Torres Novas meses mais tarde de tal forma que, visando incrementar o seu povoamento e defesa, o soberano passou-lhe o primeiro foral, a 1 de Outubro desse mesmo ano, determinando a reconstrução da fortificação. D. Dinis (1279-1325), com o mesmo fim, fundou entre Tomar e a Golegã as póvoas da Atalaia, Tajeira e Asseiceira. Também doou os domínios de Torres Vedras e o seu castelo à Rainha Santa Isabel, ao encontrá-la em São Bartolomeu de Trancoso. Esses domínios viriam a passar posteriormente aos Infantes e deles ao Infante D. Jorge, conservando-se na Casa de Aveiro, vindo a elevar-se à categoria de ducado de Torres Novas. Após as lutas com Castela, na segunda metade do século XIV, em particular o assédio de 1372, o castelo sofreu obras de ampliação sob o reinado de D. Fernando (1367-1383), época em que foi ampliada a cerca da vila. Os trabalhos foram iniciados em 2 de Janeiro de 1374, conforme inscrição epigráfica, e concluídos em 1376, conforme outra inscrição epigráfica sobre o antigo Arco do Salvador: “O mui nobre rei D. Fernando mandou fazer esta obra a Lourenço Pais, de Santarém, juíz por el-rei, e foi acabada na era de 1414 (1376) anos e desta obra foi mestre Estêvao Domingues, pedreiro, que isto fez e lavrou”. Durante a crise de 1383-1385, aqui se recolheram as forças de João I de Castela, em Outubro de 1384, regressando do baldado cerco a Lisboa naquele ano. No ano seguinte, as forças de João I de Portugal (1385-1433), assaltaram Torres Novas, forçando a guarnição castelhana da vila a recolher-se ao castelo. Meses mais tarde, com os portugueses vitoriosos na batalha de Aljubarrota, Torres Novas tomou o partido por Portugal recebendo como Alcaide-mor a Antão Vasques. Com a perda de expressão da vila frente a outros núcleos nos séculos seguintes, o castelo mergulhou na obscuridade. No século XVIII foi severamente abalado pelo terramoto de 1755, de tal modo que veio a ser permanentemente abandonado. Na ocasião ruíram quatro das torres e diversos troços da muralha medieval. Novos danos foram registados no início do século XIX, durante a Guerra Peninsular, quando da ocupação da vila pelas tropas napoleónicas. Com o crescimento da malha urbana, a cerca medieval foi quase que inteiramente demolida. Considerado como Monumento Nacional por Decreto publicado em 23 de Junho de 1910, sofreu intervenção de consolidação e restauro na década de 1940, a cargo da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN). Posteriormente, na década de 1970, novas obras vieram a recuperar a Alcaidaria.



Villa Cardílio
As ruínas romanas da Vila de Cardílio, situam-se a cerca de três quilómetros de Torres Novas, próximo da Caveira, foram postas a descoberto pelas escavações a cargo do coronel Afonso Paço, a partir de 1962. Esta zona, conhecida há muitos anos pela população local, era utilizada como pedreira de onde recolhiam matérias para a construção de habitações. A exploração arqueológica do local só começou por influência da Câmara de Torres Novas. Do vasto espólio recolhido, podemos destacar: moedas dos séculos II, III e IV, d.C. cerâmicas, bronzes, vidros assírios e egípcios, estuques coloridos, anéis e até uma estátua de Eros. Descobertas também as bases de um edifício, com mosaicos de cores vivas e motivos geométricos, predominando as tranças e entrelaçados, distribuídos pelas diversas salas, outros quadros representam aves, motivos agrícolas, os retratos dos donos da casa e inscrições em latim. O nome que é atribuído a esta estação arqueológica, deve-se a uma das inscrições que referem o nome de «Cardilium», provável dono desta vila, em que não faltava um jardim, sistema de distribuição de água e aquecimento.

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