29/12/2013

Roteiros Republicanos

Publicados no âmbito das Celebrações do Centenário da República (2010), os Roteiros Republicanos vieram dar um contributo para o conhecimento da História da Primeira República, à escala da história regional, essencialmente na sua dimensão urbana. Cada Roteiro contempla uma cronologia política específica, indicação de toponímia republicana e património artístico (incluindo a arquitectura, as artes plásticas e o património industrial, sendo sempre dado um destaque particular, quando existam, aos Monumentos aos Mortos da Grande Guerra que, indiscutivelmente, constituem um conjunto mais popular de realização monumental em Portugal), biografias das principais personalidades republicanas e referência ao desporto e factos turísticos, quando relevantes. São 20 volumes, um por cada um dos 18 distritos e mais dois para as regiões autónomas.
Lia Ribeiro e António Ribeiro
Roteiro Republicano de Coimbra da autoria de Lia Ribeiro e António Ribeiro

Banhos judaicos medievais descobertos em Coimbra (2)

Se há males que vêm por bem, pode dizer-se que foi o caso com o rebentamento dos canos de esgoto de um prédio da Rua do Visconde da Luz, mais precisamente o n.º 21. Quando os técnicos municipais da Divisão de Promoção e Reabilitação da Habitação foram tentar resolver o problema, viram-se na necessidade de aceder a um espaço fechado nas traseiras do edifício. A divisão não seria usada há muito e foi preciso arrombar uma porta de metal. Verificou-se, então, que se tratava da entrada para uma cave, à qual se acedia por um lance de escadas em pedra. Nesta cave, uma nova abertura conduzia ainda mais abaixo, ao que parecia ser uma fonte de chafurdo ou mergulho (fontes das quais tradicionalmente se tirava água submergindo as próprias vasilhas). Alertado o Gabinete para o Centro Histórico, foram feitas duas visitas ao local nos dias 18 e 19 de Novembro. O que encontraram foi uma gruta natural de calcário, aparentemente utilizada para vários fins ao longo dos tempos. E quando desceram os degraus e viram a pequena piscina, começaram por admitir que pudesse efectivamente tratar-se de uma fonte de chafurdo. Mas à medida que investigavam mais minuciosamente o local, foi-se tornando evidente que aquele era um espaço que fora cuidadosamente concebido. Por cima da cabeceira do tanque, descobriram-se mesmo vestígios muito razoavelmente conservados de um antigo fresco com motivos florais. Os técnicos estão convencidos de que esta pintura datará dos séculos XVI ou XVII e corresponderá à última fase de utilização ritual deste tanque. Dado que a estrutura se encontra na área da judiaria velha, e parece corresponder perfeitamente às descrições dos banhos de purificação judaicos da época, a convicção actual é de que se trata mesmo de uma mikvá (também grafado mikvah ou mikveh). Os frescos, e a própria dimensão reduzida do tanque, apontam para que fosse usado por mulheres. Nos meios do judaísmo ortodoxo a mikvá, que tem de ser alimentada por uma fonte natural de água, desempenha ainda hoje um papel importante. As mulheres usam as que lhes são destinadas para recuperar a “pureza ritual”, designadamente após o ciclo menstrual ou depois de um parto. Os regulamentos obrigam a que todo o corpo entre em contacto com a água e as mikvá actuais têm geralmente uma funcionária encarregada de ajudar as mulheres a cumprir correctamente este e outros preceitos.
piscina para rituais religiosos judaicos
Pormenor da piscina para rituais religiosos judaicos (mikvá)

Banhos judaicos medievais descobertos em Coimbra (1)

Uma rotura de canos num prédio de Coimbra levou à descoberta do que se julga ser uma estrutura medieval destinada a banhos rituais femininos judaicos. Esta espécie de pequena piscina para fins religiosos apareceu na cave de um edifício da Rua do Visconde da Luz, na área da antiga judiaria da cidade, e está surpreendentemente bem preservada. O arqueólogo Jorge Alarcão diz que, neste estado de conservação, “pode ser caso único em Portugal”. E o presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado, embora ressalve que “o estudo do achado ainda está a decorrer”, admite que se trate da “descoberta arqueológica mais importante que se fez em Coimbra ao longo dos últimos 70 anos”. Ou seja, depois da descoberta do criptopórtico romano, agora devidamente recuperado e visitável no recentemente reaberto Museu Nacional Machado de Castro, o achado destes banhos judaicos promete oferecer mais uma peça importante ao património de Coimbra. O que para já se trouxe à luz parece ter boas possibilidades de ser um dos mais antigos banhos rituais judaicos (mikvá) descobertos na Europa, já que tudo indica que não seja posterior ao século XIV. E se efectivamente se destinava a banhos rituais femininos, é ainda mais raro. A comunidade judaica está documentada em Coimbra desde tempos anteriores à nacionalidade, e sabe-se que a Rua de Visconde da Luz, outrora chamada do Coruche, era um dos limites da chamada judiaria velha, que terá sido desactivada no reinado de D. Fernando I, por volta de 1370. Daí que Jorge Alarcão acredite que estes banhos “já funcionavam certamente antes do tempo de D. Fernando”.
Piscina para rituais religiosos judaicos
Pequena piscina para rituais religiosos judaicos em cave de uma habitação na Rua Visconde da Luz (Coimbra)


Tráfico de património da civilização egípcia

O Governo egípcio tem feito um enorme esforço para travar o contrabando do seu património e recuperar muitas das peças históricas que perdeu no meio da instabilidade política dos últimos anos. A iniciativa mais recente, este mês [dezembro de 2013], visou as leiloeiras Sotheby’s e Gorny & Mosch, ameaçadas de processos judiciais se não conseguissem provar a proveniência legal de peças levadas a leilão. O Ministério das Antiguidades egípcio controla, através da Internet, os lotes que são levados a leilão e recentemente pediu à norte-americana Sotheby’s que retirasse de venda 23 peças do Antigo Egipto, um conjunto que incluía estátuas, bustos, vasos e fragmentos de inscrições. O Egipto já conseguiu a devolução de peças que estavam em Israel e que iam ser entregues a uma leiloeira israelita; recentemente foi o Governo francês a devolver cinco peças que tinham sido roubadas do Egipto depois da revolta da Primavera Árabe, em 2011, e que iam ser vendidas online e uma outra colecção de artefactos antigos, que estava nos Estados Unidos, deverá também ser devolvida ao Egipto nos próximos dias, depois de três anos de negociações para que as autoridades egípcias pudessem provar a propriedade das peças, encontradas durante escavações ilegais. Ao mesmo tempo que decorre este esforço de recuperação do património, o Museu Egípcio do Cairo, onde estão guardadas muitas das mais valiosas peças do Egipto faraónico, enfrenta também uma luta pela sobrevivência. Muitas das manifestações, protestos e confrontos a que o Cairo tem assistido, e que antecederam o afastamento do islamista Mohammed Morsi da Presidência, aconteceram precisamente na Praça Tahrir, onde fica situado o museu. Apesar disso, há planos ambiciosos para o futuro das antiguidades egípcias. Está já a nascer junto à Pirâmide de Gizé um novo grande museu, o Grand Egyptian Museum (GEM), para as antiguidades do período faraónico – uma colecção tão grande que mais de metade não pode ser exposta no Museu da Praça Tahrir. Está previsto que o novo museu abra em 2015, e receba, entre muitos outros objectos, o tesouro de Tutankhamon.
Antigo Egipto
Sarcófago de Tutankhamon

25/12/2013

Modernismo

Chama-se genericamente modernismo ao conjunto de movimentos culturais, escolas e estilos que caracterizaram as artes da primeira metade do século XX. Encaixam-se nesta classificação a literatura, a arquitetura, o design, a pintura, a escultura, o teatro e a música modernas. O movimento modernista baseou-se na ideia de que as formas "tradicionais" das artes, da organização social e da vida quotidiana tornaram-se ultrapassadas e que deviam dar lugar uma nova estética cultural. A primeira metade do século XIX na Europa foi marcada pelo movimento romântico, baseado na experiência individual subjetiva, na supremacia da Natureza como um tema padrão na arte, meios de expressão revolucionários ou radicais e na liberdade do indivíduo. Duas escolas originadas em França gerariam um impacto particular no final desse século. A primeira seria o Impressionismo, a partir de 1872, uma escola de pintura que argumentava que o ser humano não via objetos, mas a própria luz refletida pelos objetos. A segunda escola seria o Simbolismo, marcado pela crença de que a linguagem é um meio de expressão simbólico e que a poesia e a prosa deveriam seguir conexões que as curvas sonoras e a textura das palavras pudessem criar. Tendo suas raízes em As Flores do Mal, de Baudelaire, publicado em 1857, poetas Rimbaud, Lautréamont e Stéphane Mallarmé seriam de particular importância. Na década de 1890 uma linha de pensamento passou a defender que era necessário deixar completamente de lado as normas prévias e, ao invés de meramente revisitar o conhecimento passado à luz das técnicas atuais, seria preciso implantar mudanças mais drásticas. Nos primeiros quinze anos do século XX, uma série de escritores, pensadores e artistas fizeram a rutura com os meios tradicionais de se organizar a produção cultural.
olive trees
Vincent van Gogh, Olive trees - 1889



20/12/2013

Castelo de Torres Novas

O Castelo de Torres Novas em posição dominante sobre a cidade, à margem do rio Almonda, integrante da chamada Linha do Tejo, permanece como ex-libris da povoação. É certo que aqui existia uma povoação Muçulmana à época da Reconquista cristã da Península Ibérica, cuja posse deve ter oscilado ao sabor dos avanços e recuos da linha fronteiriça. Embora se acredite que uma conquista inicial remonte a 1135, perdida em 1137, no contexto da fundação e primeira destruição de Leiria, as fontes documentais são acordes em que Turris foi definitivamente conquistada pelas forças sob o comando de D. Afonso Henriques (1112-1185) em 1148, na sequência das conquistas de Santarém e Lisboa, no ano anterior. Admite-se que o soberano ter-lhe-á promovido reforços nas defesas, ou mesmo iniciado a reconstrução do castelo, quando a povoação terá acrescida à sua toponímia a designação "Novas", distinguindo-a da homónima, no Distrito de Lisboa, que passou a ser conhecida como Torres "Velhas" (Torres Vedras). Desse modo, embora figure como "Torres" em documento de 1159, no testamento do soberano, datado de 1179, já figura como "Torres Novas".




19/12/2013

Anglicanismo

Anglicanismo é a designação de uma tradição dentro do Cristianismo que inclui a Igreja de Inglaterra e outras igrejas historicamente ligadas àquela ou que têm crenças, práticas e estruturas semelhantes. O termo Anglicano tem origem em ecclesia anglicana, uma expressão medieval latina datada de c. 1246 e que significa Igreja Inglesa. Os adeptos do Anglicanismo são designados por Anglicanos. A grande maioria dos Anglicanos são membros de igrejas que fazem parte da Comunhão Anglicana internacional. Contudo, existem algumas igrejas fora da Comunhão Anglicana que se consideram, também, Anglicanos, em particular aqueles que se designam por igrejas do Movimento Anglicano Contínuo.
A fé dos Anglicanos tem por base as escrituras, as tradições da Igreja Apostólica, da sucessão apostólica e dos Pais da Igreja iniciais. O Anglicanismo declarou a sua independência do pontificado romano no período da Regulamentação religioso de Isabel I, o qual é designado por monasticismo britânico. Muitos dos formulários anglicanos de meados do século XVI são semelhantes àqueles do Protestantismo reformado contemporâneo, e estas reformas na Igreja de Inglaterra foram vistas pelo Arcebispo da Cantuária, Thomas Cranmer, como um meio termo entre duas das tradições Protestantes emergentes, nomeadamente o Luteranismo e o Calvinismo. No final do século, a manutenção no Anglicanismo de muitas formas litúrgicas tradicionais, e o episcopado, eram vistas como inaceitáveis por aqueles que divulgavam os princípios do Protestantismo.
westminster abbey
Abadia de Westminster

Calvino

Calvino (Noyon, 10 de julho de 1509 — Genebra, 27 de maio de 1564) foi um teólogo cristão francês. Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, uma influência que continua até hoje. A forma de Protestantismo que ele ensinou e viveu é conhecida por Calvinismo. Esta variante do Protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos. Nascido na Picardia, ao norte da França, foi batizado com o nome de Jean Cauvin. A tradução do apelido de família "Cauvin" para o latim Calvinus deu a origem ao nome "Calvin", pelo qual se tornou conhecido. Calvino foi inicialmente um humanista. Depois do seu afastamento da Igreja católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das perseguições aos protestantes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo Europeu.
Jean Calvin
Calvino

18/12/2013

Martinho Lutero

Martinho Lutero, (Eisleben, 1483 — Eisleben, 1546) foi um sacerdote católico agostiniano e professor de teologia que foi figura central da Reforma Protestante. Contestando a alegação de que a liberdade da punição de Deus sobre o pecado poderia ser comprada, confrontou o vendedor de indulgências Johann Tetzel com suas 95 Teses em 1517. A sua recusa em retirar seus escritos a pedido do Papa Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 resultou em sua excomunhão pelo Papa e a condenação como um fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano Antigo. Lutero ensinava que a salvação não se consegue com boas ações, mas é um livre presente de Deus, recebida apenas pela graça, através da fé em Jesus como único redentor do pecador. Apesar disso, nas suas teses não negava a necessidade da confissão, considerando-a necessária para o perdão da falta. A sua teologia desafiou a autoridade papal na Igreja Católica Romana, pois ele ensinava que a Bíblia é a única fonte de conhecimento divinamente revelada e opôs-se ao sacerdotalismo, por considerar todos os cristãos batizados como um sacerdócio santo. Aqueles que se identificavam com os ensinamentos de Lutero eram chamados luteranos.
Lutero com tonsura monástica

16/12/2013

Reforma Protestante no século XVI

A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão culminado no início do século XVI por Martinho Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica, propondo uma reforma no catolicismo romano. Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento.
O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou protestantes.
Martinho Lutero
Martinho Lutero

Primeira exposição do Museu do Prado em Lisboa

“RUBENS, BRUEGHEL, LORRAIN. A Paisagem Nórdica do Museu do Prado” em Lisboa, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) − exposição de 57 pinturas de grandes mestres do século XVII −, é a primeira exposição em Portugal composta exclusivamente por obras do Prado, um dos mais importantes museus do mundo. A coleção de paisagens flamengas e holandesas do Prado conta com inquestionáveis obras-primas de alguns dos seus principais representantes, pintores que foram responsáveis pela consolidação da paisagem como género pictórico autónomo. As coleções reais espanholas são o núcleo original de onde provém a maioria dos quadros que compõem a exposição do MNAA. Na segunda metade do século XVI, começa a observar-se uma mudança nas temáticas usadas pelos artistas do norte da Europa, sobretudo dos Países Baixos, que os italianos designavam na época por “nórdicos”. Ao longo do século XVII, pintores e colecionadores afastam-se dos motivos heróicos, característicos da pintura histórica, acercando-se de temas mais quotidianos, que passam a considerar dignos de serem representados. Entre esses temas, encontra-se a paisagem, que acaba por tornar-se num género pictórico independente. Esta exposição encontra-se dividida em nove núcleos, correspondentes às diversas tipologias da paisagem, surgidas na Flandres e na Holanda: “A Montanha: encruzilhada de caminhos”, “O Bosque como Cenário: a vida no bosque, o bosque bíblico e a floresta encantada, encontro de viajantes”, “Rubens e a Paisagem”, “A Vida no Campo”, “No Jardim do Palácio”, “Paisagem de Gelo e de Neve”, “Paisagem de Água: marinhas, praias, portos e rios”, “Paisagens Exóticas, Terras Longínquas” e, ainda, “Em Itália Pintam a Luz”. Os mais destacados mestres da paisagem nórdica do século XVII compõem esta mostra, com obras tão importantes como Paisagem Alpina, de Tobias Verhaecht, A vida no Campo, A Abundância e os Quatro Elementos e Boda Campestre de Jan Brueghel o Velho, além de A Visão de Santo Huberto, pintada em colaboração com Rubens, Paisagem com Ciganos e Tiro ao Arco, de David Teniers, ou os dramáticos Cerco de Aire-sur-la-Lys, de Peeter Snayers, e Bosque, de Simon de Vlieger. As duas tipologias mais características das paisagens pintadas por artistas do do norte da Europa – a paisagem de inverno e a paisagem de água - estão representadas, entre outras, pela delicada pintura O Porto de Amesterdão no Inverno, de Hendrick Jacobsz. Um Porto de Mar ou Desembarque de Holandeses no Brasil, de Jan Peeters, aludem a terras longínquas, às quais o comércio marítimo fez chegar os holandeses. Por último, Rubens, o grande mestre da paisagem nórdica, com a soberba pintura Atalanta e Meleagro Caçando o Javali de Cálidon.
A exposição termina com algumas das paisagens encomendadas pelo rei Felipe IV de Espanha a Claude Lorrain e a Jan Both, para decorar o Palácio do Bom Retiro de Madrid. Dois jovens pintores que iniciaram em Roma a chamada paisagem italianizante.
Boda campestre
JAN BRUEGHEL, O VELHO - Boda Campestre (c. 1621-1623)
Madrid, Museu Nacional do Prado


15/12/2013

Democracia Ateniense

Democracia (grego: δεμοκρατια; demos = povo + cracia = poder) é o nome dado a uma forma de governo adotada em Atenas a partir do século VI a.C.. Considerada a matriz da democracia moderna, a democracia ateniense vigorou por muitos anos após a instauração de sua forma primitiva com as reformas de Sólon por volta de 590 a.C. Embora a democracia possa ser definida como "o governo do povo, pelo povo e para o povo", é importante lembrar que o significado de "governo" e "povo" na pólis ateniense difere das democracias contemporâneas. Enquanto a atual democracia considera o "governo" um corpo formado por representantes eleitos e o "povo" como um conjunto de cidadãos próprios de uma nação, homens e mulheres, a partir dos 18 anos, os atenienses consideravam o "governo" como sendo a assembleia (eclésia) que tomava decisões (democracia direta) e o "povo" identificava-se com os cidadãos: indivíduos do sexo masculino, filhos de pais atenienses, com o serviço militar cumprido. Estes constituíam cerca de 12% da população que habitava em Atenas no século V a.C..
eclésia, ekklesia
Reconstituição de uma reunião da Eclésia

09/12/2013

Charleston

O Charleston é uma dança surgida na década de 1920 pouco depois da Primeira guerra mundial, sendo um divertimento dos cabarés, onde as mulheres dançavam e mostravam mais as pernas porque as saias eram mais curtas e tinham o cabelo à " la garçonne". O nome se origina da cidade de Charleston. na Carolina do Sul. Dança vigorosa e popular, caracterizada por movimentos dos braços e projeções laterais rápidas dos pés. Originalmente era dançada pelos negros do sul dos Estados Unidos e recebeu o nome da cidade de Charleston, na Carolina do Sul. Dançavam em pistas de clubes, como o Cotton Club, ao som de uma orquestra formada exclusivamente por negros e frequentada por uma elite branca. As mulheres agitam os vestidos curtos, de cintura baixa e muitas franjas e, ao som do charleston, balançando os longos colares de cristal ou ondulando as plumas e os leques. As mãos cruzavam e descruzavam sobre os joelhos, levemente curvados cobertos por meias de seda em tons de bege, sugerindo pernas nuas, que se encostam e se afastam, seguindo o ritmo frenético. Num outro passo, levantavam as pernas e finalizavam com os gestos das mãos no ar imitando pandeiros. O chapéu, até então acessório obrigatório, ficou restrito ao uso diurno.

Foxtrote

O foxtrote é uma dança de salão de origem norte-americana, surgida por volta de 1912. Ela é caracterizada por movimentos longos e contínuos, cuja direção segue o sentido anti-horário, em andamento suave e progressivo. Dança-se para música executada pelas grandes bandas de jazz – as big bands (geralmente com acompanhamento vocal) – com sensação de elegância e sofisticação. Visualmente a dança assemelha-se à valsa, embora o ritmo seja quaternário (em vez do ritmo ternário da valsa). Desenvolvido logo após a Primeira Guerra Mundial, o foxtrote atingiu o auge de popularidade na década de 1930.
A origem exata do nome da dança é desconhecida. Uma hipótese afirma que o nome foxtrot (literalmente "trotar da raposa") faz alusão a danças primitivas de origem africana, praticadas por afro-americanos, cuja coreografia imitava passos de animais e que teria inspirado o estilo de dança original do foxtrote. Outra hipótese de origem vincula o nome da dança ao de seu primeiro divulgador, o ator de vaudeville Harry Fox.

foxtrot
Cartaz da época

30/11/2013

Tempos Modernos

Tempos Modernos é um filme de 1936 de Charles Chaplin, em que o seu famoso personagem "Charlot"  tenta sobreviver no mundo moderno e industrializado. A cena que podes observar é considerada uma forte crítica ao fordismo. Neste filme Chaplin quis passar uma mensagem social. Tempos Modernos é ao mesmo tempo comédia, mesmo tempo drama e romance.

I Guerra Mundial 1914-1918

Primeira Guerra Mundial foi uma guerra global centrada na Europa, que começou em 28 de julho de 1914 e durou até 11 de novembro de 1918. O conflito envolveu as grandes potências de todo o mundo, que se organizaram em duas alianças opostas: os Aliados (com base na Tríplice Entente entre Reino Unido, França e Império Russo) e os Impérios Centrais (originalmente Tríplice Aliança entre Império Alemão, Áustria-Hungria e Itália). Estas alianças reorganizaram-se (a Itália lutou pelos Aliados) e expandiram-se em mais nações que entraram na guerra. Em última análise, mais de 70 milhões de militares, incluindo 60 milhões de europeus, foram mobilizados em uma das maiores guerras da história. Mais de 9 milhões de combatentes foram mortos, em grande parte por causa de avanços tecnológicos que determinaram um crescimento enorme na letalidade de armas. Foi o sexto conflito mais mortal na história da humanidade e que posteriormente abriu caminho para várias mudanças políticas, como revoluções em muitas das nações envolvidas.
Entre as causas da guerra inclui-se as políticas imperialistas estrangeiras das grandes potências da Europa, como o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o Império Otomano, o Império Russo, o Império Britânico, a Terceira República Francesa e a Itália. Em 28 de junho de 1914, o assassinato do arquiduque Francisco Fernando da Áustria, o herdeiro do trono da Áustria-Hungria, pelo nacionalista jugoslavo Gavrilo Princip, em Sarajevo, na Bósnia, foi o gatilho imediato da guerra, o que resultou em um ultimato Habsburgo contra o Reino da Sérvia. Diversas alianças formadas ao longo das décadas anteriores foram invocadas, assim, dentro de algumas semanas, as grandes potências estavam em guerra; através das suas colónias, o conflito estendeu-se ao planeta.
Soldados na I Guerra Mundial
Soldados nas trincheiras, Ypres 1917

Apontamentos de história local - Villa Cardílio

As ruínas romanas da Vila de Cardílio, situam-se a cerca de três quilómetros de Torres Novas, próximo da Caveira, foram postas a descoberto pelas escavações a cargo do coronel Afonso Paço, a partir de 1962. Esta zona, conhecida há muitos anos pela população local, era utilizada como pedreira de onde recolhiam matérias para a construção de habitações. A exploração arqueológica do local só começou por influência da Câmara de Torres Novas. Do vasto espólio recolhido, podemos destacar: moedas dos séculos II, III e IV, d.C. cerâmicas, bronzes, vidros assírios e egípcios, estuques coloridos, anéis e até uma estátua de Eros. Descobertas também as bases de um edifício, com mosaicos de cores vivas e motivos geométricos, predominando as tranças e entrelaçados, distribuídos pelas diversas salas, outros quadros representam aves, motivos agrícolas, os retratos dos donos da casa e inscrições em latim. O nome que é atribuído a esta estação arqueológica, deve-se a uma das inscrições que referem o nome de «Cardilium», provável dono desta vila, em que não faltava um jardim, sistema de distribuição de água e aquecimento.




Leonardo da Vinci

Leonardo da Vinci (Anchiano, 15 de abril de 1452 — Amboise, 2 de maio de 1519), uma das figuras mais importantes do Alto Renascimento, que se destacou como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. É ainda conhecido como o precursor da aviação e da balística. Leonardo frequentemente foi descrito como o arquétipo do homem do Renascimento, alguém cuja curiosidade insaciável era igualada apenas pela sua capacidade de invenção. É considerado um dos maiores pintores de todos os tempos e como possivelmente a pessoa dotada de talentos mais diversos a ter vivido.


Capela Sistina

A Capela Sistina é uma capela situada no Palácio Apostólico, residência oficial do Papa no Vaticano. É famosa pela sua arquitetura, inspirada no Templo de Salomão do Antigo Testamento, e sua decoração de frescos, pintada pelos maiores artistas da Renascença, incluindo Michelangelo, Rafael, Bernini e Sandro Botticelli. A capela tem o seu nome em homenagem ao Papa Sisto IV, que restaurou a antiga Capela Magna, entre 1477 e 1480. Durante este período, uma equipe de pintores que incluiu Pietro Perugino, Sandro Botticelli e Domenico Ghirlandaio criaram uma série de painéis de frescos que retratam a vida de Moisés e de Cristo, juntamente com retratos papais e de cenas bíblicas de Cristo. Estas pinturas foram concluídas em 1482. Hoje é o local onde se realiza o conclave, o processo pelo qual um novo Papa é escolhido.



Renascimento

Renascentismo é o termo usado para identificar o período da História da Europa dos séculos XV e XVI. Este período foi marcado por transformações em muitas áreas da vida humana que assinalam o final da Idade Média e o início da Idade Moderna. Apesar destas transformações serem bem evidentes na cultura, sociedade, economia, política e religião, caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo e significando uma ruptura com as estruturas medievais, o termo é mais usado para descrever seus efeitos nas artes, na filosofia e nas ciências.
Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista e naturalista. O termo foi registado pela primeira vez por Giorgio Vasari no século XVI mas a noção de Renascimento como hoje o entendemos surgiu a partir da publicação do livro de Jacob Burckhardt, A cultura do Renascimento na Itália (1867), onde ele definia o período como uma época de "descoberta do mundo e do homem". O Renascimento cultural manifestou-se primeiro na região italiana da Toscana, tendo como principais centros as cidades de Florença e Siena, de onde se difundiu para o resto da península Itálica e depois para praticamente todos os países da Europa Ocidental, impulsionado pelo desenvolvimento da imprensa por Johannes Gutenberg. A Itália permaneceu sempre como o local onde o movimento apresentou maior expressão, porém manifestações renascentistas de grande importância também ocorreram na Inglaterra, Alemanha, Países Baixos e em Portugal.

23/11/2013

Império Romano

Iniciou-se em 27 a. C., a 16 de janeiro, com a ascensão de Augusto (Octávio) ao Império, na sequência daderrota imposta a Marco António e Cleópatra em Ácio (31 a. C.). Ocupou o sólio até 19 de agosto de 14 d.C., tendo sido o primeiro imperador, iniciando também a dinastia Júlio-Claudiana. Este título de imperador assumia não só uma conotação política mas também religiosa, com uma posição apoiada numa autoridade superior à de todos os magistrados romanos. O reordenamento político-institucional operado por Augusto lançou as bases da estrutura do governo imperial: através de uma hábil propaganda, redimensionou a política expansionista romana (organização das províncias em imperiais e senatoriais, estacionamento de legiões nas fronteiras) e criou um forte aparelho burocrático dinamizado essencialmente pela classe equestre; participação no governo imperial da plebe e dos estamentos em ascensão, através de mecanismo clientelares; restauração dos valores de romanidade; criação de colónias com veteranos de guerra; manutenção de uma paz civil durante um longo período de tempo, depois de várias lutas fratricidas. Todo este edifício legislativo de Augusto visava a estabilidade à pesada estrutura imperial e que não podia ser governado com os antigos mecanismos republicanos.

mapa do império romano
Mapa do Império Romano

Timgad

Timgad é uma cidade fundada de raiz pelos romanos por voltado ano 100 a. C. no território da atual Argélia, e que reflete um plano concebido pelos romanos para aplicar nas colónias do Império.
O urbanismo romano difundido por todo o Mundo, através das suas colónias no Norte de África, na Palestina, na Renânia e na Grã-Bretanha, simboliza a unidade e a centralização do poder que caracterizam esta civilização. As colónias eram construídas segundo um esquema preconcebido derivado da planificaçãode um campo militar (castrum), dividido em quarteirões regulares estruturados a partir de dois eixos, um cardo (eixo norte-sul) e um decumano (eixo este-oeste).
O centro urbano de Timgad é composto por quatro quarteirões racionais protegidos por um muro fortificado.No seu interior distribuíam-se as habitações e os edifícios mais importantes, a biblioteca, a Casa de Jano,as termas a este e no norte os banhos e o Templo de Ceres.

planta de timgad
Planta de Timgad

Pax Romana

A Pax Romana, expressão latina para "a paz romana", é o longo período de relativa paz, gerada pelas armas e pelo autoritarismo, experimentado pelo Império Romano que iniciou-se quando Augusto, em 28 a.C., declarou o fim das guerras civis e durou até o ano da morte de Marco Aurélio, em 180 d.C..
Este termo enquadra-se historicamente nos dois primeiros séculos do Império Romano, instaurado em 27 a.C. por Augusto. Neste período, a população romana viveu protegida do seu maior receio: as invasões dos bárbaros que viviam junto às fronteiras. Pax Romana era uma expressão já usada na época, possuindo um sentido de segurança, ordem e progresso para todos os povos dominados por Roma. Tem maior expressão nas dinastias imperiais dos Flávios (68-96) e dos Antoninos (96-192). Plínio, o Velho realçava já a "imensa majestade da paz romana, essa dádiva dos deuses que parece ter trazido os Romanos ao mundo para o iluminar".


pax romana
Ara Pacis


22/11/2013

Tácito

Tácito, (55 — 120) foi um historiador, orador e político romano. Ocupou os cargos de questor, pretor (88), cônsul (97) e procônsul da Ásia (c. 110-113). É considerado um dos maiores historiadores da Antiguidade. Escreveu por volta do ano 102 um Diálogo dos oradores e depois sobre a vida e o carácter de Júlio Agrícola, um elogio ao seu sogro, que havia sido um eminente homem público durante o reinado de Domiciano e que havia completado, como general, a conquista da Britânia, além de ter feito uma expedição à Escócia. As obras principais foram os Annales ("Anais") e as Historiae ("Histórias") que tinham por tema, respetivamente, a história do Império Romano no primeiro século, desde a morte de Augusto e a chegada ao poder do imperador Tibério até à morte de Nero (Annales), e da morte de Nero à de Domiciano (Historiae).
No livro XV dos Anais, Tácito descreve a perseguição que Nero empreende, culpando os cristãos pelo incêndio de Roma. Segundo Tácito, havia suspeitas de que o próprio Nero teria causado o incêndio. A passagem sobre os cristãos é considerada por muitos autores a primeira referência pagã à existência histórica de Jesus Cristo. Outra obra importante de Tácito foi o ensaio etnográfico Germânia, uma descrição detalhada da Germânia e seus povos, contra os quais a Roma da época de Trajano estava em guerra.
Tácito tem as características do historiador antigo: o gosto pela moralização - ele é um severo juiz de carácter -, pelo retrato dos grandes homens, o mais absoluto desinteresse pelo povo comum e o amor à retórica dos grandes discursos.

Historiador romano
Tácito

20/11/2013

Tito Lívio

Tito Lívio (Pádua, c. 59 a.C. — Pádua, 17). é o autor da obra histórica intitulada Ab urbe condita ("Desde a fundação da cidade"), onde tenta relatar a história de Roma desde o momento tradicional da sua fundação 753 a.C. até ao início do século I da Era Cristã.
De origem humilde, a base de sua educação foi o estudo de filosofia. Cresceu em meio às guerras civis que assolaram a Itália antes e depois da morte de Júlio César, e que se encerraram com a vitória de Octávio. Estabeleceu-se em Roma no ano de 30 a.C. e adquiriu grande prestígio junto Imperador, sendo nomeado preceptor do jovem Cláudio. Faleceu em Pádua no ano de 17.
Tito Lívio escreveu primeiro algumas obras filosóficas, todas elas perdidas. Nos últimos quarenta anos de sua vida dedicou-se à narrativa da História de Roma, desde a sua fundação até o ano de 9 d.C. Essa obra, denominada Ab Urbe condita, é composta por 142 livros, dos quais apenas se conhecem 35. Foi uma realização impressionante em tamanho e abrangência, tornando-se posteriormente um clássico e influenciando a historiografia produzida até o século XVIII — grandes influências foram sentidas em Nicolau Maquiavel, Alexis de Tocqueville e Montesquieu. Para escrever sua obra, Tito Lívio recorreu a diversos textos escritos por historiadores anteriores, dos quais a maioria dos textos sobreviveu apenas em pequenos fragmentos. Contudo, em boa parte da quarta e quinta década de Tito Lívio (ou, seja, dos livros 30 até 45) podemos ver a utilização direta da obra do grego Políbio como fonte, o que nos permite fazer hoje comparações metodológicas importantes a respeito da forma de se escrever história no mundo antigo.
A obra está concebida sobre secções cronológicas marcadas pelos eventos mais importantes de cada ano, tais como a eleição de cônsules, que são usados como pontos de referência e datação. Uma epítome, ou resumo de todos os livros, foi compilada no Baixo Império e é conhecida como Periochae. Sua importância para o estudo de Tito Lívio é fundamental, pois nos permite obter alguma informação sobre o conteúdo dos livros perdidos. Muitos autores romanos usaram a obra de Lívio como fonte.


Historiador Romano
Tito Lívio em representação do século XX

18/11/2013

Políbio

Políbio (Megalópolis, c. 203 a.C. — 120 a.C.) foi um geográfo e historiador da Grécia Antiga, famoso pela sua obra Histórias, cobrindo a história do mundo Mediterrâneo no período de 220 a.C. a 146 a.C.. Fazendo parte da nobreza da sua cidade natal ingressou na atividade política, devotando-se à defesa da independência da Liga Aqueia. Chegou a ser eleito hiparco (comandante de cavalaria) do exército da liga, e encaminhava-se para uma brilhante carreira política que foi subitamente interrompida na Terceira Guerra da Macedónia (171 a.C. - 168 a.C.), que opôs Roma a Perseu da Macedónia. Políbio liderou a defesa da neutralidade da Acaia naquele conflito mas não conseguiu conquistar a confiança romana, o que derrotou as intenções de neutralidade da liga. Em consequência, os romanos decidiram levar 1000 nobres da Aqueia como reféns para Roma em 167 a.C., forçando-os a permanecer no exílio durante 17 anos. Entre estes reféns, encontrava-se Políbio. Sendo um homem culto, teve a oportunidade de ser preceptor do jovem Cipião Africano, futuro herói da Terceira Guerra Púnica, estabelecendo laços que os ligariam durante toda a vida. Apesar de em 150 a.C. ter obtido, por intercessão de Cipião, a possibilidade de regressar à Aqueia, parece ter previsto o choque inevitável das pretensões de independência da Liga e dos desejos romanos de submissão incondicional, e decidiu acompanhar Cipião, como conselheiro informal, nas suas campanhas na Numância e na guerra contra Cartago. Assim, presenciou a destruição de Cartago, legando à posteridade um relato presencial dos acontecimentos. Deve-se a Políbio o registo da estela que num templo de Cartago descrevia a viagem de Hanno e de diversas informações que permitiram preservar, embora de forma ténue, o legado cultural púnico. No mesmo ano a cidade de Corinto foi destruída e a romanização da Grécia atingia o seu auge. Neste contexto, Políbio regressou à Grécia, tendo-se dedicado, dadas as suas ligações à elite romana, a tentar minorar a dureza do jugo romano sobre as cidades gregas. Foi-lhe confiada a missão de nelas introduzir a governação romana. Alguns anos depois voltou a Roma, tendo-se dedicado aos seus trabalhos históricos, nos quais a proximidade à elite governante e a sua cultura, fizeram de Políbio um observador privilegiado da política e cultura romanas. No âmbito desses trabalhos, empreendeu diversas viagens, procurando observar em primeira mão os lugares e o cenário dos eventos que descrevia na sua história. Procurando obter rigor na descrição histórica, entrevistou veteranos das guerras que descreveu, procurando obter informação presencial dos eventos mais recentes. Através da sua influência em Roma, obteve acesso privilegiado aos arquivos públicos, tendo cuidadosamente compulsado as fontes documentais existentes. Após a morte de Cipião, retornou à Grécia, onde faleceu aos 82 anos em consequência de uma queda de cavalo.
Atribui-se a Políbio a invenção de um sistema criptográfico que permite com facilidade transformar letras em números e, através de uma chave numérica simples, recriar o texto inicial. Este sistema simples de criptografia foi usado até o século XIX.
De acordo com a tradição grega de valorizar o testemunho contemporâneo e a História recente, nos seus escritos narra, preferencialmente, os acontecimentos da sua própria geração e da imediatamente anterior. É um dos primeiros historiadores a encarar a História como uma sequência lógica de causas e efeitos. A sua obra baseia-se numa cuidadosa análise crítica das fontes existentes e da tradição, descrevendo com vivacidade os acontecimentos e as motivações e valores subjacentes, tendo como objectivo uma visão global dos acontecimentos e não uma simples cronologia de factos. A sua descrição dos acontecimentos nem sempre é neutra, sendo claro o esforço no sentido de justificar as suas acções e as dos que lhe estavam mais próximos. Por outro lado, a obra foi escrita com o objectivo de explicar aos gregos as razões da ascensão de Roma, procurando convencê-los da inevitabilidade da aceitação do domínio romano, ganhando assim em algumas passagens um excessivo tom apologético.

Museu Nacional da Civilização Romana
Políbio,Museu Nacional da Civilização Romana


16/11/2013

Tucídides

Tucídides (Atenas, ca. 460 a.C. — Atenas, ca. 400 a.C.) foi um historiador da Grécia Antiga.
Escreveu a História da Guerra do Peloponeso, da qual foi testemunha e participante. Em oito volumes relata a guerra entre Esparta e Atenas ocorrida no século V a.C.. Preocupado com a imparcialidade, relata os factos com concisão e procura explicar-lhes as causas. Tucídides escreveu essa obra pois pensava a Guerra do Peloponeso como um acontecimento de grande relevância para a história da Grécia, mais do que qualquer outra guerra anterior. Esta sua obra é vista no mundo inteiro como um clássico, e representa a primeira obra de seu estilo. A obra de Tucídides foi revalorizada no ocidente devido à tradução da História da Guerra do Peloponeso para o inglês por Thomas Hobbes. Tucídides também foi um dos primeiros a notar que as pessoas que sobreviviam às epidemias de peste em Atenas eram poupadas durante os surtos posteriores da mesma doença, dando origem a toda uma série de acontecimentos que culminaram naquilo que hoje conhecemos como vacinação. Pelo foco no problema da guerra e devido à análise dos conflitos entre as cidades-Estado da Grécia Antiga, a corrente de pensamento teórico realista das Relações Internacionais, no século XX, passou a considerar Tucídides como o "avô" do próprio realismo. Assim, pode-se considerar que a releitura de Tucídides pelos analistas de relações internacionais, em pleno século XX, permitiu construir uma abordagem do pensamento realista em perspectiva histórica. Tucídides considerava que o poder é central nas relações entre as unidades políticas - Estados - e, que o equilíbrio ou desequilíbrio entre as, então, cidades-Estado era a principal causa da guerra.



Busto de Tucídides
Busto de Tucídides

Heródoto

Heródoto foi um geógrafo e historiador grego, nascido no século V a.C. (485?–420 a.C.) em Halicarnasso. Foi o autor da história da invasão persa da Grécia nos princípios do século V a.C., conhecida simplesmente como As histórias de Heródoto. Antes de Heródoto, tinham existido crónicas e épicos, e também estes haviam preservado o conhecimento do passado. Mas Heródoto foi o primeiro não só a gravar o passado mas também a considerá-lo um problema filosófico ou um projeto de pesquisa que podia revelar conhecimento do comportamento humano. A sua criação deu-lhe o título de "pai da história" e a palavra que utilizou para o conseguir, historie, que previamente tinha significado simplesmente "pesquisa", tomou a conotação atual de "história". A obra Histórias foi frequentemente acusada de imprecisa. Ataques semelhantes foram preconizados por alguns pensadores modernos, que defendem que Heródoto exagerou na extensão das suas viagens e nas fontes citadas. Contudo, o respeito pelo seu rigor tem aumentado na última metade do século, sendo actualmente reconhecido não apenas como pioneiro na história, mas também na etnografia e antropologia. Provavelmente escritas entre 450 e 430 a.C., As Histórias foram posteriormente divididas em 9 livros, intituladas segundo os nomes das musas, pelos eruditos alexandrinos. Por volta de 445 a.C., segundo consta, Heródoto fez leituras públicas de sua obra em Atenas. Quanto ao conteúdo, os primeiros seis livros relatam o crescimento do Império Persa. Começam com uma introdução do primeiro monarca asiático a conquistar as cidades-estado gregas e o verdadeiro tributo, Creso da Lídia. Creso perdeu o reinado para Ciro, o fundador do Império Persa. As primeiras seis obras acabam com a derrota dos persas em 490 a.C., na batalha de Maratona, que constituiu o primeiro retrocesso no progresso imperial.

Cópia romana de busto
Busto de Heródoto
cópia romana do século II, no Stoa de Átalo, Atenas







memória

A memória é a capacidade de adquirir (aquisição), armazenar (consolidação) e recuperar (evocar) informações disponíveis, seja internamente, no cérebro (memória biológica), seja externamente, em dispositivos artificiais (memória artificial). A memória, segundo diversos estudiosos, é a base do conhecimento. Como tal, deve ser trabalhada e estimulada. É através dela que damos significado ao quotidiano e acumulamos experiências para utilizar durante a vida.


Mosaico romano
Virgílio com as deusas Clio, Musa da História e Melpomene, musa da tragédia

Pierre Mignard
Cliopor Pierre Mignard  (Troyes , 7 de novembro de 1612 - Paris , 30 de maio de 1695) 
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Clio - musa da História

Clio é uma das nove musas e, conjuntamente com as irmãs, habita monte Hélicon. Filhas de Zeus e Mnemósine, a deusa da memória . As musas reúnem-se, sob a assistência de Apolo, junto à fonte Hipocrene, presidindo às artes e às ciências, com o dom de inspirar os governantes e restabelecer a paz entre os homens . Clio é a musa da história e da criatividade, aquela que divulga e celebra as realizações. Preside a eloquência, sendo a fiadora das relações políticas entre homens e nações. É representada como uma jovem coroada de louros, trazendo na mão direita uma trombeta e, na esquerda, um livro intitulado "Thucydide". Outras representações apresentam-na segurando um rolo de pergaminho e uma pena, atributos que, por vezes, também acompanham Calíope. Em algumas de suas estátuas traz esse instrumento em uma das mãos e, na outra, um plectro (palheta). Um dos nove livros de Heródoto leva o nome de Clio, em homenagem à musa . Em uma das versões do mito de Jacinto, Clio é a sua mãe, com o mortal Piero (filho de Magnes). Afrodite fez Clio apaixonar-se por um mortal por vingança, porque Clio havia criticado o romance da deusa com Adónis.


Pormenor de mosaico romano
Clio - Pormenor de mosaico romano