29/09/2014

Quarto de D. Pedro IV no Palácio de Queluz

No que ano em que se comemora o 180.º aniversário da morte de D. Pedro IV, o Palácio de Queluz foca-se no quarto do rei de Portugal e primeiro imperador do Brasil para contar a história que une estes dois países. O quarto está praticamente igual ao que estava, mas agora abriga uma exposição de 48 peças, entre as quais 15 objectos pessoais do monarca que nasceu e morreu aqui.
O quarto é o de D. Pedro d’Alcântara de Bragança, mas deve o seu nome a D. Quixote por existirem nele 18 pinturas decorativas, representativas de episódios da história do cavaleiro de La Mancha. Desde a semana passada que é possível descobri-lo ao detalhe, com a ajuda de um tablet que disponibiliza uma imagem 360º da sala, com pontos de interesse que permitem o acesso a informação mais detalhada sobre o património exposto. Paralelamente, está acessível no local um computador com o site criado pelo museu propositadamente para este projecto. Nele podemos ler toda a biografia de D. Pedro IV, ilustrada com imagens e documentos de época, a sua genealogia ascendente e descendente, e uma selecção de 12 dos seus retratos mais emblemáticos, correspondentes a factos e períodos marcantes da sua vida.
Novidade são também alguns dos objectos expostos, na sua maioria emprestados por outras instituições – Palácio da Ajuda, Museu Nacional dos Coches, Museu Nacional de Arte Antiga. São 48 peças, incluindo pinturas e miniaturas, peças de mobiliário e objectos pessoais de D. Pedro IV. Inês Ferro destaca a sua escrivaninha de viagem, que foi alvo de restauro para esta pequena exposição.
Palácio de Queluz
Quarto de D. Pedro IV no Palácio Nacional de Queluz

26/09/2014

Questionada origem geográfica de inovação tecnológica da Idade da Pedra

A análise de objectos de fabrico humano com 325 mil anos de idade sugere que um tipo de ferramentas de pedra que se pensava ter sido inventado em África afinal poderá também ter sido desenvolvido, de uma forma independente, na Europa. Daniel Adler, da Universidade do Connecticut (EUA) e colegas estudaram em pormenor milhares de utensílios de pedra vindos do local de Nor Geghi, no Cáucaso arménio. E num artigo publicado quinta-feira pela revista Science, concluem que os seus resultados põem em causa a cronologia da inovação tecnológica humana. Há uns 300 mil anos, os utensílios bifaces (pedras lascadas de duas faces) foram substituídos, um pouco por todo o lado, por utensílios feitos com um método mais evoluído, dito de Levallois. Neste último método, tanto a pedra inicial como as lascas (cuja forma era pré-determinada por quem fabricava o objecto) eram utilizadas para fabricar ferramentas. Pelo contrário, na tecnologia biface, as lascas, mais pequenas e inutilizáveis, eram deitadas fora, explica a universidade norte-americana em comunicado. Apenas a pedra inicial servia para fabricar ferramentas tais como machados.
A hipótese mais aceite é que a tecnologia de Levallois terá sido inventada em África e só mais tarde espalhada para a Eurásia pelas migrações humanas. Mas esta hipótese, escrevem os autores na Science, “implica um surgimento repentino da tecnologia de Levallois nos locais situados fora de África” e, ao mesmo tempo, um abandono rápido e definitivo da tecnologia dos bifaces.
Ora, naquele local da Arménia, a equipa de Adler descobriu, pelo contrário, uma coexistência de objectos fabricados com ambos os tipos de tecnologias. “Se eu mostrasse os objectos a um arqueólogo, ele começaria imediatamente a classificá-los em grupos cronologicamente distintos”, salienta Adler. Porém, quando os autores estudaram e dataram os objectos cuidadosamente, concluíram que a variabilidade tecnológica observada em Nor Geghi não provinha de grupos diferentes de humanos primitivos cujas tradições diferentes de fabrico de ferramentas se sobrepuseram num mesmo sítio. O que aconteceu, segundo eles, foi que houve uma substituição gradual, pelo mesmo grupo humano, dos utensílios bifaces por lascas, pontas e lâminas produzidas com a tecnologia de Levallois – mais eficiente do ponto de vista do aproveitamento da matéria-prima. Em particular, esta descoberta constitui, segundo os cientistas, o primeiro indício concreto de que populações locais, europeias, terão desenvolvido a técnica de Levallois a partir de uma técnica biface já existente. E com base na comparação de dados arqueológicos vindos de locais em África, Médio Oriente e Europa, os autores afirmam ainda que a tecnologia de Levallois terá evoluído em paralelo – e não só de forma gradual, mas também intermitente, e em alturas diferentes – em diversas populações a partir de uma técnica ancestral comum de tipo biface.
Os resultados também indicam que a história da inovação tecnológica humana não tem sido bem contada. “A combinação destas diferentes tecnologias num único local sugere que, há cerca de 325 mil anos, as pessoas que habitavam o local já eram inovadoras”, salienta Adler no já referido comunicado.
Os utensílios fabricados com tecnologia de Levallois têm de facto sido utilizados como um indicador dos movimentos migratórios do Paleolítico – uma vez que se pensava que tinham sido inventados apenas em África. Mas agora, como resume a Science, esta maneira de documentar a história das populações humanas e das suas deslocações poderá precisar de uma reavaliação.
Tecnologia de Levallois
Em cima, biface e lascas de biface; em baixo, pedra e lasca produzidas com a tecnologia de Levallois 

25/09/2014

O médico que andou desaparecido na Flandres (1916-1918)

Luís Carlos da Costa Guerra Charters d’Azevedo acabara de se licenciar em Medicina e Cirurgia quando foi mobilizado para a frente europeia da I Grande Guerra, na Flandres francesa. Partiu a 31 de Agosto de 1916 como tenente miliciano médico do Corpo Expedicionário Português, informa o seu neto, o engenheiro e escritor Ricardo Charters d’Azevedo, que se tem dedicado a investigar a história familiar. “Andava pela frente, num automóvel-ambulância, com um chauffeur e um enfermeiro”, explica o neto, que era ainda criança quando o avô morreu de cancro, em 1953, com pouco mais de 60 anos de idade. Ricardo Charters d’Azevedo nunca soube quem conduzia o seu avô, mas veio a conhecer o seu enfermeiro: “Encontrei-o mais tarde em Lisboa: era barbeiro na Rua do Ouro”. Uma das histórias mais curiosas da passagem de Luís Carlos Charters d’Azevedo é justamente a de um improvável encontro. Nos campos da Flandres, em plena guerra, deu de caras com um seu conterrâneo de Leiria, o padre José Ferreira de Lacerda, que andava perdido. O próprio padre Lacerda evocará o episódio no jornal O Mensageiro, em Outubro de 1939, quando a Europa acabava de mergulhar de novo na guerra. Citando excertos de uma carta que o amigo médico lhe endereçara –   "Agora que novamente na fronteira franco-alemã se desenvolvem acontecimentos semelhantes aos da Grande Guerra, mais me recordo do nosso encontro numa manhã cinzenta, fria e nevada numa estrada perto de Roquetoire (…)” –, o padre Lacerda conta o episódio aos leitores de O Mensageiro: “Nessa manhã saíra de Teroane em procura de soldados de Leiria e dum colega capelão. É certo que ia munido duma carta e estavam sinalizadas as estradas, mas tantas voltas dei que não sabia onde estava. Estradas, caminhos, casas era tudo cinzento e igual. Valeu-me o encontro felicíssimo com o meu querido amigo, que me indicou a posição e o caminho a seguir”. E o padre evoca ainda as “dezenas e dezenas de feridos” que ajudou a meter em macas e a “mais de uma dezena” que ajudou a morrer, “recebendo as suas últimas palavras, recomendações para a família, objectos sagrados, cartas, retratos...”. Também Luís Carlos Charters d’Azevedo, nas suas funções de médico, esteve em posição tristemente privilegiada para testemunhar as horríveis consequências da guerra. Mas, “como muitos dos que viveram aquele horror, não gostava de contar o que lá passara”, diz o seu neto.
Nascido em Leiria em 1891, o futuro médico era neto de um grande proprietário na região, José Maria Henriques de Azevedo, 1.º visconde de São Sebastião, e filho único do engenheiro Roberto Charters Henriques d’Azevedo. Quando partiu para a guerra, era já casado e pai de um filho, Roberto, que veio a ser o engenheiro Roberto Charters d’Azevedo, secretário-geral do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, director na Gulbenkian e autor de trabalhos pioneiros no campo da televisão experimental. Na sua passagem pela guerra, Luís Carlos desempenhou funções na Coluna de Transporte de Feridos n.º 2, um trabalho que o levava a circular entre os postos avançado da frente de batalha, e foi ainda adjunto do chefe do Serviço de Saúde da 2.ª Divisão. Após a batalha de La Lys perdeu-se-lhe o rasto. “Esteve dois ou três meses desaparecido”, conta o seu neto, “até que alguém passou por um hospital militar inglês e lá estava ele”. Sabe-se pouco sobre este singular episódio, mas Ricardo Charters d’Azevedo imagina que, na confusão que se seguiu à destruição do destacamento português, o seu avô terá ido parar àquele hospital de campanha inglês e, “como teria muito que fazer, terá ficado por lá”. Com ascendentes britânicos na família – a sua avó era filha de um oficial inglês, William Charters, que veio para Portugal combater as tropas de Napoleão – o médico português relacionar-se-ia facilmente com ingleses, observa ainda o seu neto. Certo é que foi licenciado do serviço militar em 1919 e recebeu a medalha da Vitória em 1920. Regressado a Portugal, trabalhou nos hospitais militares da Estrela e de Campolide e especializou-se depois em otorrinolaringologia. Pelo seu consultório de Lisboa passaram doentes célebres, como o marechal Carmona. Durante os meses de férias que passava na propriedade da família em Leiria, a Vila Portela, dava consulta gratuita aos seus conterrâneos.
Memórias I Guerra Mundial
Luís Carlos da Costa Guerra Charters d’Azevedo

24/09/2014

Cinco peças da ourivesaria religiosa portuguesa do século XVIII reúnem-se no MNAA

Spledor et Gloria: Cinco Jóias Setecentistas de Excepção, exposição na Sala do Tecto Pintado do MNAA e que se mantém até 4 de Janeiro – uma exposição pequena, mas que reúne “as mais importantes peças de ourivesaria produzidas em Portugal” na segunda metade do século XVIII, disse António Filipe Pimentel, comissário da exposição e director do MNAA. É a oportunidade de conhecer as conclusões da investigação sobre como funcionava a produção destas peças nessa época e ver peças que nunca são expostas. Depois de se percorrerem os corredores do museu em direcção ao centro do edifício, encontra-se a sala em que tudo o que reluz é ouro, prata dourada, diamantes, rubis, safiras, esmeraldas. São cinco peças de ourivesaria, quatro delas religiosas: a Custódia da Bemposta (MNAA), a Custódia da Sé Patriarcal (Sé de Lisboa), o Resplendor do Senhor dos Passos da Graça (Convento da Graça, Lisboa), o Resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres (Convento da Esperança, Ponta Delgada), e o Hábito Grande das Três Ordens Militares, uma insígnia régia guardada hoje pelo Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa. “Estas cinco peças iluminam-se entre si e são suficientes para explicar o processo" de concepção de uma peça de ourivesaria deste tipo "e os avanços científicos que fizemos”, explica António Filipe Pimentel. Esta é a “exposição zoom, exposição laboratório”, que completa o ciclo aberto por A Encomenda Prodigiosa, exposição que em 2013 se dividiu entre o MNAA e o Museu de São Roque.
A investigação começou com o restauro da Custódia da Bemposta, no ano passado, e da Custódia da Patriarcal, este ano, e está explicada ao pormenor num catálogo com referências a outras peças que fundamentam as novas conclusões sobre o tema. "É a história do final do século XVIII contada por estas cinco peças. As três que pertencem à Igreja não tinham estudos cientificos laboratoriais e historicos associados", explica Luísa Penalva, que co-comissaria a exposição juntamente com Pimentel e Anísio Franco. Antes deste trabalho, “não estava muito claro” que “desenhar ourivesaria era uma coisa, fazê-la era outra”, continua Pimentel. “Quando se falava do arquitecto João Frederico Ludovice ser ourives, pensava-se que ele tinha uma oficina de ourivesaria. Não. Ele era ourives, mas não nesse sentido... Era desenhador de peças de ourivesaria.” A mão de Ludovice, que desenhou o Convento de Mafra, está nos desenhos originais do Resplendor do Senhor dos Passos e da Custódia da Patriarcal, que de facto tem a estrutura equilibrada e harmoniosa de um edifício em ponto pequeno: os seus alicerces trabalhados abrem espaço para as pequenas figuras simbólicas que estão no centro, como um pelicano, que bica o seu próprio peito para sangrar e alimentar os filhos. Não foi, no entanto, a sua mão que talhou a peça. A produção estava entregue a uma das oficinas que proliferavam por Lisboa. Para além de Ludovice, Joaquim Machado de Castro (escultura da Custódia da Patriarcal) e Mateus Vicente de Oliveira (Custódia da Bemposta e resplendor açoriano) eram as figuras de topo no desenho de ourivesaria – hoje diríamos que eram designers sem produção própria.
No tempo em que não se olhava a despesas para adorar Deus – quando o poder do rei era legitimado pelo divino – do projecto inicial até á conclusão da peça podiam ir seis a sete anos, confirmou também este estudo –, trabalhos longos e delicados que faziam com que se estabelecessem várias oficinas em Lisboa para dar resposta a todas as encomendas da corte.
Para António Filipe Pimentel, foi particularmente difícil reunir estas cinco peças – apesar de serem apenas cinco –, especialmente porque três delas servem ainda hoje o culto: a Custódia da Patriarcal e os dois resplendores, “ligados a imagens de grande devoção”, lembra o director. “Não são peças fáceis de sair e nunca mais se voltarão a reunir”, vaticina. De entre as cinco, o ex-libris desta dificuldade foi o resplendor açoriano. Não que isso tenha afectado as negociações com o MNAA, sublinha António Pimentel, mas é certo que a imprensa regional se desdobrou em artigos, textos de opinião, cartas de leitores contra e a favor do empréstimo da mais valiosa peça dos Tesouros do Senhor Santo Cristo – um movimento impulsionado pela Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres e a Congregação de Maria Imaculada, sendo o tesouro guardado na última. O resplendor de 40 centímetros de diâmetro, que só sai do Convento da Esperança três vezes por ano, é “parte integrante de um conjunto de culto, que não se pode sujeitar a critérios e visões estritamente técnicas”, escrevia Joaquim Machado, cronista do Açoriano Oriental contra a viagem da peça. Carlos Faria e Maia, presidente da Irmandade, dizia que a saída era “um peso na nossa fé incalculável”. A madre superiora do convento acrescentava que “o que guarda o tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres é a fé do povo açoriano” e que por isso levá-lo seria deixá-lo desprotegido.  À frente do argumento da segurança aparecia sempre a fé e devoção do povo açoriano pelo seu Ecce Homo, mas o museu garante que este aspecto não é descurado: “Sabemos do seu valor material extraordinário, mas também temos uma alta sensibilidade do ponto de vista do seu uso e da sua vocação. Não há peças sem contexto”, diz Pimentel. Foi por isso que José Tolentino Mendonça, padre e poeta, foi convidado a escrever o texto de abertura do catálogo, onde explica que estas peças sumptuosas “sussurram-nos uma prece, colocam-nos uma questão inapagável”: a “interrogação de Deus”.
Resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres, Açores
Resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres, Açores

22/09/2014

Tate Modern recebe meio milhão de pessoas para ver Matisse

A Tate Modern, em Londres, bateu os seus records com a exposição Matisse: The Cut-Outs – 562.622 pessoas entraram na exposição que reuniu obras do artista moderno que não estavam juntas há 40 anos. “Uma oportunidade que talvez só tenhamos uma vez na vida”, diz o director da galeria, Nicholas Serota, para explicar o sucesso. Henri Matisse já aparecia na vista dos mais populares artistas da galeria londrina: a exposição mais visitada de sempre era "Matisse Picasso", de 2002, sobre a obra dos dois pintores, com 467 mil entradas. Em segundo lugar estava a exposição de 2012 de Damien Hirst, o artista contemporâneo catalogado como o mais rico do mundo, continuando numa versão de superlativos. Matisse: The Cut-Outs, que começou em Abril e terminou em meados de setembro, levou mais de meio milhão de pessoas à Tate. A exposição co-produzida pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) – onde estará a partir de Outubro para que depois as obras regressem às suas colecções – mostra o último período de criação do artista francês. De 1937 a 1954, ano em que morreu, Henri Matisse criou muitas obras através do recorte e colagem de papel, de que são bons exemplos os Nus Azuis, de 1962, ou O Caracol, de 1953, da colecção da Tate Modern. “Das flores aos bailarinos, das cenas de circo e o famoso caracol, a exposição mostra um conjunto deslumbrante de 120 obras. Ousadas, exuberantes e muitas vezes com grandes dimensões, as colagens têm uma simplicidade envolvente e uma sofisticação incrível e criativa”, lê-se no site da Tate Modern sobre esta exposição. O recorte e colagem de papel previamente pintado com guache, na maior parte das vezes, foi a técnica que Matisse escolheu e reinventou quando, a chegar aos 70 anos, a sua saúde o impedia de pintar. Com esta exposição, a Tate Modern ficou próxima de bater a exposição mais vista de sempre no Reino Unido: em 2012, David Hockney: a Bigger Picture, exposição na Royal Academy of Arts sobre a obra do pintor inglês do século XX, teve 600 mil visitas.

19/09/2014

População europeia resulta da mistura original de três grupos humanos

A Europa é uma mistura de línguas, nacionalidades, povos. As vagas de migrações, as guerras e as mudanças de fronteiras tornam difícil definir a ascendência de cada cidadão. A genética veio ajudar neste trabalho, tornando-se num utensílio para compreender os movimentos populacionais na história da espécie humana. Agora, uma equipa de cientistas descobriu que na “mistura original” de europeus, além dos caçadores recolectores que já cá estavam e dos agricultores vindos do Próximo Oriente, houve pelo menos uma terceira população vinda do Norte da Eurásia que também contribuiu para aquele fundo genético. O estudo vem descrito num artigo da edição desta quinta-feira da revista Nature.
“Antes deste artigo, os modelos que tínhamos da ascendência europeia era uma mistura de dois movimentos. Mostramos agora que há três grupos”, disse David Reich, investigador da Escola Médica de Harvard (EMH), Boston, Estados Unidos, e um dos autores seniores deste estudo que contou com dezenas de investigadores de vários países.
O que se sabia, de uma forma resumida, é que há cerca de 7000 anos os agricultores vindos do Próximo Oriente entraram pela Europa e misturaram-se com as populações de caçadores recolectores que já andavam por cá há milénios. Esta mistura reflecte-se no ADN das populações europeias de hoje. “Houve uma forte troca genética entre os caçadores-recolectores e os agricultores, reflectindo o movimento grande de entrada de novas pessoas na Europa vindas do Próximo Oriente", explicou David Reich, num comunicado da EMH. Mas os cientistas já tinham encontrado no ADN europeu semelhanças ao ADN dos nativos norte-americanos, que chegaram àquele continente pela Ásia há cerca de 12.000 anos. Esta ligação nunca foi compreendida.
Neste trabalho, a equipa analisou o ADN de 2300 pessoas de vários países europeus, de oito caçadores recolectores de há 8000 anos e de um agricultor de há 7000 anos. Além desta informação, os investigadores incorporaram ainda dados genéticos de outros antigos agricultores europeus e de dois humanos da antiga população do Norte da Eurásia. Estes vestígios foram encontrados em Janeiro na Sibéria. Com esta informação, “pudemos estudar como é que eles se relacionaram com as outras populações”, explicou David Reich.
Ao compararem essa nova população com os grupos humanos da altura e os europeus de agora, ficou revelada uma nova ligação. “Quase todos os europeus têm ascendência de três grupos ancestrais”, disse Iosif Lazaridis, primeiro autor do artigo, da EHM. Mas esta mistura não é todo igual. “Os europeus do Norte têm uma ascendência maior de caçadores-recolectores – até 50% no caso dos lituanos – e os europeus do Sul têm mais antepassados agricultores.”
A ascendência dos europeus vinda do grupo do Norte da Eurásia, que também deu origem aos nativos americanos, está mais diluída. “A ascendência dos euroasiáticos do Norte é, proporcionalmente, o componente mais pequeno em toda a Europa, nunca mais do que 20%, mas encontramo-lo em quase todos os grupos europeus que estudámos e também nas populações do Cáucaso e do Próximo Oriente”, explicou Iosif Lazaridis, acrescentando que depois de aparecer a agricultura, “terá havido uma transformação profunda no ocidente da Eurásia”.
Crânio paleolítico
Um crânio de uma mulher que viveu há 8000 anos, escavado no sítio arqueológico de Kanaljorden, na Suécia

Os blockbusters dos museus e palácios estão em Belém

É em Belém, que com a Ajuda poderá vir a formar um eixo de gestão comum dos equipamentos culturais, que estão as instituições mais visitadas sob a alçada da Direcção-Geral do Património Cultural. O Mosteiro dos Jerónimos, que recebeu 722.758 pessoas em 2013, é o monumento nacional mais visitado do país. Em segundo lugar aparece a Torre de Belém, com mais de 537.855 visitantes, na mesma zona de Lisboa.
Se falarmos apenas de museus, é também em Belém que está o blockbuster: o Museu dos Coches conseguiu, em 2013, 189.015 visitas – ainda assim, o museu já teve mais de 200 mil visitantes em 2008. Fora da gestão da DGPC, o Museu Colecção Berardo, com casa no edifício do CCB, teve no ano passado 562.614 visitantes. O Palácio Nacional da Ajuda, que poderá integrar o novo pólo concebido pelo Governo, é o primeiro da lista dos palácios mais populares, com mais de 253 mil visitas – muito graças à exposição de Joana Vasconcelos, que atraiu 235 mil pessoas. Foi há três anos, com a passagem da gestão para a Parques de Sintra-Monte da Lua, que a DGPC perdeu o seu palácio com mais entradas: o Palácio Nacional de Sintra tinha, em 2011, 373 mil visitantes. Perdeu também o Palácio Nacional de Queluz, com 152 mil entradas, em 2011. Estes dois espaços culturais significaram em 2013 um crescimento de 27,3% de visitantes para os valores totais da Monte da Lua. Em 2006, a direcção do Património já tinha perdido o Palácio da Pena, que sozinho fez nesse ano 382 mil visitantes. No ano passado, o total de visitantes do Monte da Lua foi de 1,7 milhões entradas, um número que é ultrapassado pela soma de visitantes do Mosteiro dos Jerónimos, Torre de Belém e Museu Colecção Berardo – mais de 1,8 milhões de entradas.
Jerónimos
Mosteiro dos Jerónimos

17/09/2014

Dois filhos de Leotte do Rego que combateram em La Lys

Ao contrário da generalidade dos militares portugueses, o contra-almirante Jaime Daniel Leotte do Rego (1867-1923) não precisa de ser resgatado do esquecimento Figura de relevo da fase final da monarquia e do período da I República, são muitas as obras de referência que abordam a sua vida e o seu trajecto político e militar. E quem quiser informações mais detalhadas, encontra-as na biografia que lhe dedicou Maurício de Oliveira, publicada em 1967, por ocasião do seu centenário. Durante a I Guerra, Leotte do Rego comandou a Divisão Naval e Defesa e foi o responsável pela apreensão dos barcos alemães que estavam nos portos portugueses. Já havia combates com os alemães em África desde 1914, mas é esta medida que irá justificar a declaração oficial de guerra a Portugal por parte da Alemanha.
Nascido em Lagos, em 1867, Leotte do Rego terminou o curso da Escola Naval em 1887. Em 1894 era já primeiro-tenente e foi promovido a capitão em 1906. Responsável por missões de reconhecimento nas colónias portuguesas em África, sobretudo em Moçambique (deixou uma extensa bibliografia, que inclui planos hidrográficos, guias de navegação e diversos outros trabalhos), aderiu ao franquismo nos anos finais da monarquia e estreou-se como deputado, pelo Partido Regenerador Liberal em1907. Nos meses que antecederam a implantação da República foi governador de S. Tomé e Príncipe, e o novo regime, ao qual aderiu, reconduziu-o no cargo.
Defensor da entrada de Portugal na I Guerra, foi um dos líderes do golpe de 14 de Maio de 1915, que depôs a ditadura de Pimenta de Castro. No mês seguinte é-lhe confiado o comando da recém-criada criada a Divisão Naval de Defesa, funções que manterá até ao golpe de Dezembro de 1917, que leva ao poder Sidónio Pais. Exilado em Paris, Leotte do Rego regressa em 1919 e volta a ser eleito deputado. Morre em pleno Parlamento, a 26 de Julho de 1923, vitimado por um ataque cardíaco que, segundo conta o seu neto, Luís Leotte, poderá ter sido provocado pela ingestão de um copo de leite gelado.
Bastante menos conhecida do que a intervenção do contra-almirante Leotte do Rego na I Guerra é a participação no conflito dos seus dois filhos mais velhos, Luís, nascido em 1895, e Jaime, um ano mais novo. Foram os dois mobilizados para a frente europeia, como capitães de cavalaria, e ambos combateram na Flandres e participaram na batalha de La Lys. O mais velho veio a fazer carreira na diplomacia e viveu uma vida invulgarmente longa, tendo morrido aos 96 anos. O seu sobrinho e homónimo conta que, logo após a I Guerra, o tio chegou a ser secretário, em Angola, de Norton de Matos, que foi um dos mais íntimos amigos do contra-almirante Leotte do Rego. Luís Leotte possui uma fotografia em que o avô e Norton de Matos estão lado a lado, ambos fardados, preparando-se para embarcar no navio que os levaria ao exílio, após a chegada ao poder de Sidónio Pais.
Já o segundo filho, Jaime, embora também tenha sobrevivido ao conflito, teve menos sorte. “Foi muito gaseado e ferido na guerra”, diz Luís Leote.  “Após a batalha de La Lys deram-no como desaparecido e morto e foi o seu impedido que percorreu o campo de batalha à procura dele, voltando os cadáveres a ver se o encontrava”. E este impedido, que se chamava Neves, descobriu-o mesmo. “Ainda respirava, e ele trouxe-o para o posto de enfermagem, com a cara toda aberta da orelha ao queixo”.
Jaime Leote “ficou com essa cicatriz para toda a vida”, diz o sobrinho, que está convencido de que os ferimentos sofridos na guerra acabaram por encurtar a vida deste seu tio, que veio a morrer antes dos 50 anos, em 1943.
O contra-almirante Leotte do Rego tinha ainda mais três filhos: Pedro, que morreu de gripe espanhola, uma filha, Joana, que foi sempre enfermiça e também morreu cedo, e finalmente António, o mais novo, que nasceu em 1913, quando a mãe já ultrapassara os 40 anos. António casou-se com Armanda Ferreira de Bettencourt e é o pai de Luís Leotte e dos seus irmãos.
Norton de Matos
Leotte e o ministro da Guerra, Norton de Matos, de partida para o exílio.

16/09/2014

A I Guerra Mundial em África (ensaio de MIGUEL BANDEIRA JERÓNIMO - Público)

“Os indígenas mais válidos da Província têm sido violentamente recrutados para fins expedicionários e já há hoje quem calcule o número de mortos em perto de 50 mil. Porque os indígenas só voltam quando moribundos ou estropiados, a repugnância pelo recrutamento e pelo nome português tem-se espalhado através do sertão; contam as vicissitudes porque passam, dias sem alimentação muitas vezes, ou com alimentação imprópria; os mortos e os moribundos abandonados pelo caminho como animais; a lenda funesta alastra-se, os pretos emigram em massa, a agricultura e a indústria Zambeziana lutam com falta de braços, e o Governo é vítima dos seus próprios métodos, só pela violência encontra quem o sirva, e chegará o momento, se os métodos não mudarem, em que nem carregadores encontre e em que as empresas da Zambézia tenham de assistir à ruína e transformação de tanto esforço e dinheiro empregado em puras perdas por falta de indígenas para o trabalho”. Assim sendo, não era de estranhar que o “indígena” tivesse começado a “odiar os que o arrancam ao seu lar e às suas florestas para o ir matar sem piedade, à míngua de tudo, nos trabalhos forçados das expedições”. Era este o retrato sombrio constante numa carta, datada do dia 6 de Maio de 1918, enviada conjuntamente pelo Grémio de Proprietários e Agricultores da Zambézia, pela Companhia do Boror e pela Sociedade de Recrutamento de Indígenas ao Governador-geral de Moçambique, Manuel Luís Moreira da Fonseca.
A citação é longa mas descreve e resume, de modo assertivo, os principais processos que resultaram da extensão da primeira guerra mundial aos contextos coloniais, sobretudo chamando a atenção para o papel, infelizmente desvalorizado e ignorado por muitos, desempenhado pelas populações coloniais, neste caso africanas.
Os acordos feitos pelas autoridades portuguesas com o General Jacob van Deventer, comandante militar sul-africano que liderava as forças imperiais britânicas, para o recrutamento de carregadores em função das necessidades destas estavam, há muito, a ter consequências nefastas. O envolvimento coincidente de “gente portuguesa” no recrutamento de “levas de milhares de carregadores (...) compelidos à força a irem servir as expedições inglesas” reforçava o seu efeito nocivo. Face à inconsequência mobilizadora da legislação vigente na Niassalândia (protectorado colonial britânico, hoje Malawi), que apenas autorizava o recrutamento voluntário, os territórios coloniais portugueses tornaram-se o principal reservatório de mão-de-obra para os esforços de guerra. “Sabendo que recrutamos à força e tão à força que os nossos carregadores vêm amarrados como servos ou como animais para os locais de recrutamento, sem o que não se conseguiria um só”, as autoridades administrativas e militares imperiais britânicas viravam-se para o “melhor sangue”, leia-se, os melhores braços, da colónia. Conscientes de que não se “consentiriam tais processos de servidão” na Niassalândia e contando com a “complacência e cumplicidade da soberania portuguesa”, “um papel humilhante que aceitamos”, as autoridades britânicas “vêm estimulá-lo no nosso território”, concluíam os signatários. O desrespeito pelos africanos e a avidez pelos seus braços compelidos eram os mesmos. O grau de envolvimento na sua mobilização e a tolerância para com os procedimentos desumanos associados é que pareciam variar.
A tudo isto juntava-se o problema da “fome”, que ameaçava tornar-se uma realidade generalizada, e, mais tarde, o da pneumónica. Na ânsia de evitar “ser apanhado à força pelas autoridades, escondido pelo mato, ou ao abrigo das leis inglesas do Nyassaland”, o “indígena foragido ou emigrante (...) não culima [cultiva], não trabalha”. As pilhagens e a costumeira estratégia de terra queimada decerto não ajudavam. A “fome com todos os seus horrores” já tinha invadido a região, “mortos de fome” eram encontrados “pelos caminhos e pelo mato”.
Na mesma altura, a 15 de Setembro de 1918, Ludwig Deppe, médico que acompanhou as movimentações militares alemã na África Oriental lideradas pelo General alemão Paul von Lettow-Vorbeck, a quem muitos atribuem grandiosas qualidades militares, escreveu no seu diário: “Atrás de nós deixamos campos destruídos, lojas saqueadas e, num futuro imediato, a fome. Já não somos agentes de cultura; o nosso caminho está marcado pela morte, pela pilhagem e por aldeias evacuadas”.
Quase um ano depois, a 15 de Março de 1919, o Grémio de Proprietários e Agricultores da Zambézia reincidia na descrição de um bárbaro estado de coisas, juntando, no entanto, novos dados. Mais uma vez, um longo excerto que merece ser reproduzido pelo seu carácter elucidativo: “Veio há pouco a guerra com a ‘German East Africa’ em que a nossa infeliz província sofreu o mais cruel imposto de vidas que é lícito conceber. Para alimentar de carregadores as forças inglesas, e de carregadores e soldados as forças portuguesas, não houve recurso nem violência de que se não lançasse mão, pondo em risco e prejudicando não só o prestígio da nossa soberania, mas obrigando a prejuízos inenarráveis todas as indústrias e os imensos interesses e sacrifícios que significam a nossa acção económica e civilizadora naquela província. Não se pode avaliar em menos de 80 mil os indígenas portugueses mortos por virtude da guerra contra o alemão, e para cúmulo da desgraça, o flagelo da pneumónica, ao findar a guerra, veio completar a obra de devastação iniciada, por vezes com perfeita inconsciência, pelas próprias autoridades”. Por vezes, apenas por vezes, com “perfeita inconsciência”, note-se.
Impressões semelhantes foram transmitidas para Lisboa pela Companhia do Boror: abusos em excesso, sem controlo oficial ou protagonizado mesmo pelas autoridades; uma pressão constante e agressiva para garantir o recrutamento forçado de carregadores africanos ao serviço de britânicos e portugueses; revoltas “indígenas” generalizadas; e, por fim, a “morte de cerca de 80 mil carregadores”.
É certo que ambas as companhias procuravam, acima de tudo, bloquear o desvio de mão-de-obra africana das suas plantações para as necessidades insaciáveis das forças militares. Procuravam ainda questionar, como faziam com frequência, as políticas e a economia, formal e informal, da circulação de trabalhadores africanos para as minas do Transvaal. A deslocação da “população válida” para o serviço militar, para servir de carregadores e “nunca mais voltarem”; a sua utilização “em grande número” para suprir as “necessidades da administração”; a sua emigração para a Niassalândia e a sua fuga para o “mato” constituíam uma combinação de factores danosos insuperável. O uso de “braços para tão desvairadas aplicações” tinha de ser imediatamente restringido. O recrutamento forçado enquanto “acção económica e civilizadora” era certamente aceitável. Se este representasse a cedência a interesses económicos externos, tornava-se questionável enquanto política. Já o seu usufruto para esforços de guerra era intolerável, mesmo se por forças aliadas.
Para os ingleses, contudo, as causas da resistência e insatisfação generalizadas residia noutro sítio: na natureza débil da soberania colonial portuguesa e do seu aparato administrativo, na inexistência de uma rule of law (com mecanismos de regulação, inspecção e justiça) e na escassa qualidade dos seus funcionários. A autocracia não vigiada dos chefes de posto, cuja acção era no essencial determinada pela aquisição de benefícios económicos, e a acção descontrolada dos cipaios (polícia nativa) que “aterrorizavam o nativo, batendo, assassinando, violando e roubando”, eram sublinhadas em vários memorandos britânicos como exemplos maiores da inaceitável administração portuguesa de Moçambique, e não apenas em contexto de guerra. Esta “forma brutal e autocrática de governo” explicava o “estado de guerra permanente entre as autoridades portuguesas e os desafortunados nativos”.
A concorrência por trabalhadores africanos conduziu a conflitos vários entre os múltiplos interesses europeus e as comunidades locais. Provocou ainda momentos de inflamada competição interimperial e de indignação internacional, como os casos do Congo Belga de Leopoldo II e do cacau escravo de São Tomé, ambos com o seu auge no início do século XX, demonstram. A dinâmica militar da guerra só acentuou esses processos. O escasso desenvolvimento infra-estrutural e comunicacional nas colónias, marcado pela quase ausência de estradas, rios navegáveis e caminhos-de-ferro, exigia um recurso desmesurado aos carregadores, cujo recrutamento assentava em violentas operações de resgate por cipaios e por outro tipo de recrutadores, públicos e privados (ainda que esta distinção fizesse pouco sentido a maior parte das vezes).
Calcula-se que cerca de 60 mil a 90 mil carregadores tenham sido usados pelos portugueses durante a guerra em Moçambique. Cerca de 30 mil terão sido fornecidos às forças expedicionárias britânicas, o que não impediu inúmeras acusações britânicas de incumprimento dos acordos estabelecidos. A procura suplantava a oferta. Em virtude do conflito que envolveu os alemães, os britânicos (incluindo a África do Sul) e os portugueses na África Oriental, calcula-se que tenham sido mobilizados entre 500 mil a 700 mil carregadores africanos. Destes, calcula-se que tenham falecido entre 200 mil a 400 mil: em combate, por subnutrição (em 1917, os carregadores recebiam apenas 1000 calorias por dia), por doenças várias (incluindo as disseminadas em campos de concentração), por deserção (que era endémica e conduzia a execuções sumárias). Não sabemos quantos ficaram inválidos ou para sempre com a marca das agruras e crueldades associadas a este processo.
Uma outra estimativa considera que as forças britânicas sozinhas recrutaram mais de um milhão de trabalhadores para a campanha na África Oriental, provenientes do Congo Belga, do Ruanda, do Quénia, do Uganda, da Rodésia, da Niassalândia, da África Oriental Alemã e, claro, do norte de Moçambique. Só no Tanganica, cerca de um terço da população masculina taxável foi recrutada. Contrariamente ao que pensavam (ou alegavam) as companhias da Zambézia, na Niassalândia cerca de 4/5 da mão-de-obra disponível (200,000 homens) foi utilizada. No total, estima-se que cerca de dois milhões de Africanos estiveram directamente envolvidos no conflito, tanto como soldados como como “trabalhadores”.
Trincheiras Rio Rovuma
Trincheiras junto ao Rio Rovuma