27/02/2014

Parque e Palácio da Pena foi o monumento mais visitado em 2013

Em 2013, o monumento mais visitado em Portugal foi o Parque e Palácio Nacional da Pena. A informação foi divulgada nesta quinta-feira em comunicado pela Parques de Sintra – Monte da Lua (PSML), empresa que gere o monumento. De acordo com o documento, o local registou cerca de 787 mil visitas. Ultrapassou, assim, o número de visitantes do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém, que se cifraram, respectivamente, em 722 mil e 537 mil entradas, segundo os números divulgados pela Direcção-Geral do Património Cultural. Os restantes monumentos sob gestão da PSML (em que se incluem o Palácio Nacional de Sintra e o Castelo dos Mouros) registaram cerca de 1,7 milhões de visitantes. A informação divulgada pela PSML surgiu um dia depois de o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) ter também comunicado os números de visitantes dos museus, monumentos e palácios nacionais que pertencem à rede gerida pela Direcção-Geral do Património Cultural. Segundo a página do Igespar, estes monumentos e lugares receberam um total de 3,4 milhões de visitantes. Números apresentados como positivos para a cultura portuguesa, já que registam um aumento de quase 8% em relação a 2012.
Sintra
Palácio da Pena - Sintra

Ramsés II fazia anos em 22 de fevereiro?


Acontece duas vezes por ano. Um raio de sol penetra o Grande Templo escavado na rocha e toca a estátua de Ramsés II, um dos faraós mais famosos do Egipto Antigo. São dois momentos mágicos que espelham a mestria da antiga arquitectura egípcia e a sua forte relação com o sol, acreditando os arqueólogos que esses dias marcam o aniversário de Ramsés e o dia da sua coroação, este último quando sucedeu ao seu pai Seti I. As imagens mostram as sombras dos turistas enquanto os raios de sol entram no santuário do tempo de Abu Simbel, situado a sul de Assuão. O Grande Templo ou Templo de Ramsés penetra 60 metros na rocha e mostra à entrada quatro estátuas de Ramsés com cerca de 20 metros de altura. Ramsés II foi o terceiro faraó da XIX dinastia egípcia, uma das dinastias que compõem o Império Novo. Reinou entre aproximadamente 1279 a.C. e 1213 a.C. Foi considerado o mais famoso dos doze faraós das duas dinastias Ramsés, que governaram o Egipto entre os século XIV e XII a.C. Teve também um dos reinados mais longos (superior a 60 anos) da história da civilização egípcia.
Ramsés II
O momento em que o sol entra no santuário

O Museu Nacional de Arte Antiga vai viajar até Turim e Turim viaja até Lisboa

É mais uma parceria internacional do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Desta vez o interesse veio de Itália, mais precisamente do Museo Civico d’Arte Antica – Palazzo Madama. A Turim o MNAA vai levar a exposição A Arquitectura Imaginária: pintura, escultura, artes decorativas e em troca viajam para Lisboa 125 obras para a exposição Reis e Mecenas. A Arte ao Serviço dos Saboia: Turim 1730-1750.
Enquanto em Turim o MNAA propõe repensar a arquitectura como utopia e conceito na exposição que põe lado a lado peças como uma pintura de Gregório Lopes, um cofre em cristal de 1600 ou um projecto de Álvaro Siza, em Lisboa, é inaugurada uma mostra de arte italiana setecentista especialmente concebida pelo Museo Civico d’Arte Antica – Palazzo Madama para o MNAA. A inauguração das duas exposições é separada apenas por uma semana, abrindo primeiro a mostra do MNAA em Turim a 8 de Maio e depois, no dia 16, em Lisboa é inaugurada a exposição Reis e Mecenas. A Arte ao Serviço dos Saboia: Turim 1730-1750.
Francesco Antonio Mayerle
Óleo sobre tela, "Vítor Amadeu III de Saboia" de Francesco Antonio Mayerle (1755)

24/02/2014

El Greco em Toledo

O grande acontecimento do Ano El Greco em Toledo e em Espanha chega a 14 de Março, com a inauguração da exposição com a maior reunião jamais realizada com obras do pintor nascido em Creta, Grécia, em 1541, mas que realizou a parte mais relevante da sua obra naquela cidade espanhola, onde viveu até à morte, em 1614. Mas Todelo está já a viver sob o signo do seu habitante mais ilustre. O primeiro verdadeiro acontecimento do Ano El Greco deu-se, no entanto, no final de Janeiro, quando os responsáveis da Fundação El Greco 2014 recolocaram no seu lugar histórico da sacristia da catedral de Toledo a monumental tela O Espólio (1579), com três metros de altura, depois do restauro realizado no ano passado no Museu do Prado, em Madrid. Rafael Alonso, o restaurador da equipa do Prado, que conta já na sua carteira profissional a responsabilidade pela recuperação de outras 90 obras do pintor, afirmou: “Não consigo imaginar a face de Cristo de outro modo que não esta com que El Greco o pintou neste quadro”, acrescentou o técnico, referindo-se à impressiva imagem de um Cristo envergando um vestido vermelho vivo, pescoço comprido e pose altiva no meio de uma multidão de homens em alvoroço. O Espólio será, no entanto, apenas uma da centena de obras-primas que Toledo vai mostrar – a mais de um milhão de visitantes, esperam os responsáveis da cidade – a partir de 14 de Março, reunidas a partir das colecções dos maiores museus do mundo e também de coleccionadores privados. Telas como A Adoração do Nome de Jesus (National Gallery, Londres), Cristo na Cruz (Louvre, Paris); Vista de Toledo (Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque – que a Reuters lembra ter sido o quadro preferido de Ernest Hemingway), associadas a outras que não chegaram a sair de Toledo, como O Nobre com a Mão no Peito, ou O Enterro do Conde Orgaz, vão ser colocadas nos seus lugares originais, nas igrejas e conventos em volta da cidade e no Museu de Santa Cruz. A exposição fica até 14 de Junho. “Quase todos estes quadros saíram de Toledo no início do século XX. Estamos agora a reuni-los a partir da diáspora de El Greco”, disse à Reuters Gregorio Maranon, presidente da Fundação El Greco 2014. El Greco foi, de facto, um pintor esquecido, um outsider, não só no seu tempo como nos séculos subsequentes. Mesmo se ele é possivelmente "o mais moderno de todos os grandes pintores dos séculos XVI e XVII”, como defende Gregorio Maranon, que vê nele alguém que absorveu do modo mais eficaz as lições de Miguel Ângelo, Ticiano, Tintoretto ou Veronese, e soube combinar as influências da arte bizantina com o maneirismo italiano. Com treino nas grandes escolas de Roma e de Veneza, El Greco chegou à Espanha à espera de ter protecção de Felipe II e tornar-se pintor de corte. Não conseguiu a posição ambicionada e instalou-se em Toledo, a antiga capital, a 70 quilómetros de Madrid. O estilo audaz de El Greco ainda levanta todo o tipo de questões e teorias, que os especialistas tendem a não valorizar, diz Leticia Ruiz, reponsável pelo departamento de pintura anterior ao século XVII no Museu do Prado. "Ele tinha estigmatismo ou problemas de visão? As pessoas ainda perguntam isso hoje", acrescenta Ruiz, falando à Reuters na sala El Greco do Prado. "Ele é um pintor dos pintores. Não é um pintor fácil. As pessoas ou ficam fascinadas por ele ou não gostam." El Greco só viria a ser verdadeiramente redescoberto no século XIX, quando diferentes gerações de estudantes e de pintores que faziam a sua “peregrinação” ao Museu do Prado em busca das obras-primas de Velázquez deparavam com a obra desse "grego" desconhecido. No final desse século, seria mesmo El Greco a marcar sobremaneira a sensibilidade dos impressionistas e expressionistas. “Isto aconteceu com Manet, mais tarde com Cézanne e mais tarde ainda com Picasso”, nota Javier Baron, responsável, no Museu do Prado, pelo departamento de pintura do século XIX. “A influência de El Greco em Picasso é maior do que em qualquer outro artista, desde o início ao fim da sua carreira”, acrescenta este especialista. Javier Baron será, de resto, o comissário do outro grande acontecimento do Ano El Greco em Espanha: a exposição no Museu do Prado, que vai colocar par a par 25 obras do pintor de O Espólio com oito dezenas de outras de artistas de épocas seguintes e até à arte contemporânea – e que vai decorrer de 24 de Junho e 5 de Outubro. No início desta semana, no dia 18 de Fevereiro, foi inaugurada a exposição Toledo Contemporânea, que reúne mais de seis dezenas de trabalhos de artistas dos nossos dias e de diferentes origens – David Maisel, Rinko Kawauchi, Shirin Neshat, Flore-äel Surun, Vik Muniz, José Manuel Ballester, Dionisio González, Matthieu Gafsou, Marcos López, Massimo Vitali, Abelardo Morell y Philip-Lorca diCorcia… –, e que inclui uma instalação vídeo do artista israelita Michal Rovner, projectada na Igreja de São Marcos. Mas estas exposições serão apenas a parte mais mediática de uma vasta programação, que quer colocar esta cidade na margem do rio Tejo e a cerca de 70 quilómetros de Madrid nos roteiros não só turísticos mas também artísticos de Espanha.
o espólio
El Greco - O espólio (1579)

17/02/2014

Estátua grega de Apolo descoberta na Faixa de Gaza

Um pescador diz ter resgatado do fundo do mar uma escultura em bronze do deus Apolo em Agosto de 2013. Longe de compreender o seu real valor, levou-a para casa de carroça e, menos de 24 horas depois, viu-a ser confiscada por uns primos ligados às milícias do Hamas que, convencidos da sua importância, a puseram à venda no eBay por meio milhão de dólares (365 mil euros). Graças à intervenção de um coleccionador consciencioso, a peça haveria de ir parar às mãos das autoridades civis deste grupo que controla parte dos territórios palestinianos, que a deixaram à guarda do seu Ministério do Interior. Agora, só o Hamas sabe onde está. Apetece perguntar: esta é uma descoberta arqueológica verdadeira ou mais um conto da Faixa de Gaza? A agência de notícias Reuters, que faz o relato da descoberta e das peripécias que a rodearam com algum detalhe, garante que a escultura ainda não foi vista ao vivo por arqueólogos e historiadores, que até aqui têm tido acesso apenas a fotografias com má definição em que, curiosamente, a divindade greco-romana aparece pousada sobre um lençol colorido com pequenos Estrunfes. “É muito, muito raro encontrar uma estátua que não em pedra ou em mármore”, disse Michel de Tarragon, historiador associado da Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. “É única. Eu diria até que, num certo sentido, sem preço. [Quererem saber quanto vale] é como se me perguntassem quanto custaria a Mona Lisa do Museu do Louvre.” É também este especialista que lança as primeiras dúvidas em relação ao local em que a escultura terá sido resgatada, alertando para o facto de as marcas que exibe serem mais coincidentes com a possibilidade de ter estado sepultada em terra firme e não no fundo do mar. “Está muito limpa”, diz Tarragon, faltam-lhe evidências de corrosão do metal e não tem quaisquer crustáceos a cobrir-lhe a superfície ou parte dela, o que habitualmente acontece quando as peças passaram muito tempo debaixo de água salgada.
A estátua com 1,80 metros representa Apolo de pé, com um braço estendido com a palma da mão virada para cima e o outro ao longo do corpo. O rosto tem traços muito delicados – como convém a um Deus associado à beleza e à juventude –, os olhos seriam azuis (um tem ainda uma pedra dessa cor, a do outro terá caído) e o cabelo é encaracolado, cheio de detalhes.
Apurar sem sombra de dúvidas onde foi resgatada é particularmente importante por dois motivos, lembra ainda o historiador da Escola Arqueológica Francesa de Jerusalém: em primeiro lugar, porque a localização é crucial para determinar a que autoridade pertence; em segundo, porque é altamente improvável que uma escultura desta natureza, encontrando-se ainda no lugar para onde foi criada, fosse peça isolada. Para Tarragon, a escultura pode ser apenas a ponta do icebergue de uma monumental descoberta arqueológica.
Um território com mais de cinco mil anos de história, por onde passaram egípcios, romanos ou cruzados, visitado por Alexandre, o Grande, e pelo imperador Adriano, esconde certamente sob a areia camadas e camadas de testemunhos das suas diferentes ocupações. Vestígios que, em virtude da violência e da calamidade social em que vivem há décadas os territórios ocupados, se encontram na sua esmagadora maioria por descobrir. Nunca houve escavações sistemáticas com o adequado enquadramento científico. “Naquela época, uma escultura era integrada num complexo – um templo ou um palácio”, acrescenta Tarragon, dizendo que é provável que se venham a descobrir muitos outros artefactos no mesmo local, o que torna todo este episódio rocambolesco muito “sensível”.
Apolo de Gaza
Estátua de Apolo descoberta na Faixa de Gaza

13/02/2014

Picasso. En el taller.

O atelier de Picasso (1881-1973), entendido como espaço de criação e laboratório de experimentação, vai ser o mote da exposição da Fundação Mapfre.
Em 1955, quando Picasso era já a principal referência da pintura do século XX, o cineasta francês Henri-Georges Cluzot realizou um documentário sobre o artista em acção. O filme chama-se Le Mystère Picasso. O pintor nascido em Málaga é captado em pleno gesto de criação perante a tela no espaço de um atelier — que, na verdade, não era o seu atelier, mas um estúdio de cinema alugado em Nice, perto de onde ambos então viviam. O atelier de Picasso entendido como espaço de criação e laboratório de experimentação, vai ser inaugurado no dia 12 (permanecendo até 11 de maio), na galeria da Fundação Mapfre em Madrid, e que promete ser o grande acontecimento da programação da instituição para 2014. Vai mostrar 180 obras reunidas principalmente a partir de colecções privadas de todo o mundo: França e Suíça, Estados Unidos e Japão, Israel e mesmo, possivelmente, também do Irão. A exposição vai ser comissariada por Maite Ocaña, ex-directora do Museu Picasso de Barcelona e do Museu Nacional de Arte Contemporânea da mesma cidade e uma das maiores especialistas na obra deste pintor, e vai dar a ver um conjunto de obras pouco vistas — por exemplo, um auto-retrato do pintor —, ou mesmo nunca exibidas em público. Grande parte dos empréstimos para a exposição provém, de resto, dos herdeiros de Picasso: os seus filhos Claude, Paloma e Marina, além de Catherine Hutin, filha da última mulher do pintor, Jacqueline Roque. Não há informação de que o filme de Georges Henri-Cluzot vá integrar a exposição, mas, pela primeira vez, serão mostradas as paletas do pintor.
Na mesma conferência de imprensa, a Mapfre divulgou o seu plano de actividades para este ano, no qual avultam, com inauguração no mesmo dia da de Picasso, a mostra com 70 desenhos do mestre italiano do Renascimento Jacopo Portormo (1494-c.1556) e, em Junho, a obra de Henri Cartier-Bresson (1908-2004) em 300 peças vindas do Centro Pompidou, em Paris, e que documentam tanto a sua dimensão de fotógrafo correspondente de guerra como de artista da geração dos surrealistas. Depois do Verão, em Setembro, será a vez de Sorolla e a América, reunião de uma centena de obras pouco conhecidas no seu país do espanhol Joaquín Sorolla (1863-1923).
Le Mystère Picasso
Imagem do filme Le Mystère Picasso (1955)

10/02/2014

Tesouros nacionais no Museu de Lamego

O Museu de Lamego tem no seu espólio 18 peças que fazem parte da lista dos tesouro nacionais, que agrega o que de melhor as colecções públicas têm para oferecer no que toca ao património móvel. Entre elas há uma arca tumular do século XIV e painéis de azulejos do século XVII, mas os dois conjuntos que merecem uma atenção especial são as pinturas de Grão Vasco e a colecção de tapeçarias flamengas. De Vasco Fernandes (1475-1542), o nome maior da pintura portuguesa do século XVI, o museu tem cinco obras – Criação dos animais, Anunciação, Visitação, Circuncisão e Apresentação no templo – do políptico de 20 que o bispo de Lamego, D. João de Madureira, encomendou ao pintor viseense para a sé catedral da cidade. As pinturas que restaram da colecção inicial deram entrada no paço episcopal em 1912, tendo depois sido integradas no museu. Da colecção de tapeçarias flamengas, quatro representam o mito de Édipo e, noutra sala, duas têm por tema O templo de Latona e O julgamento do paraíso. Segundo o Museu de Lamego, estas obras deverão ter sido encomendadas pelo bispo D. Fernando Meneses de Vasconcelos (1513-1540) para a residência episcopal, sendo os cartões que lhes deram origem possivelmente da autoria do pintor flamengo Bernard van Orley e a produção atribuída à oficina de Pieter van Aelst, em Bruxelas.
Museu de Lamego
Pormenor da "Visitação" de Grão Vasco (Museu de Lamego)

Descobertas cartas íntimas de Himmler

A vida privada de uma das figuras de topo do regime nazi vai ser observada à lupa nas próximas semanas. Cartas, fotografias e diários de Heinrich Himmler — um dos orquestradores do Holocausto, responsável pela morte de cerca de seis milhões de judeus durante a II Guerra Mundial (1939-1945) — e da sua mulher, Margarete Himmler, vieram a público. O comandante das SS vai ser revisto, a partir deste espólio, num documentário israelita a estrear no Festival de Cinema de Berlim a 9 de Fevereiro. Um semanário alemão começou neste domingo a lançar uma série de artigos sobre a figura histórica. A partir do material, é possível conhecer detalhes da vida e do relacionamento entre Heinrich e Margarete Himmler, os passeios ao campo que faziam já em plena guerra ou as opiniões anti-semitas que partilhavam. “Estou a caminho de Auschwitz. Beijos do teu Heini”, lê-se numa das cartas, citada pelo jornal britânico The Guardian. O tom cândido do excerto contrasta com os acontecimentos que tiveram lugar no campo de concentração de Auschwitz, na Polónia, onde 1,1 milhões de pessoas foram mortas, a maioria judeus, a maioria em câmaras de gás.
Heinrich Himmler e Margarete Boden conheceram-se em 1927, ano em que Himmler fazia 27 anos — Margarete era sete anos mais velha. Em 1928 casaram-se. Quando se conheceram, Himmler já pertencia ao Partido Nazi desde 1923. Em 1933, quando se iniciou o III Reich de Adolf Hitler, Himmler era comandante das SS, a polícia política nazi, cargo que manteve até 1945, quando pediu a Hitler para se render. Acabou por se suicidar a 23 de Maio de 1945 em Luneburgo, na Alemanha, já depois de ter sido capturado pelas forças britânicas.
Quanto ao percurso das mais de 70 cartas, um diário, fotografias, livros de receitas e outras notas agora conhecidas, sabe-se menos. Segundo o semanário Welt am Sonntag — que neste domingo publicou o primeiro de oito longos artigos sobre Himmler e os novos documentos —, dois soldados norte-americanos encontraram o material em Maio de 1945 na casa do comandante nazi na Baviera. Décadas depois, no início dos anos de 1980, o material surgiu nas mãos de Chaim Rosenthal, um sobrevivente do Holocausto que vivia em Israel. Não se sabe como Rosenthal obteve este material. Mas a polémica que se instalou em 1983 devido à publicação de Os diários de Hitler pela revista alemã Stern e pelo jornal britânico The Sunday Times — mais tarde soube-se que os diários eram falsos — ofuscou os documentos de Himmler. Em 2007, o pai de Vanessa Lapa, uma cineasta israelita, comprou o material a Chaim Rosenthal, oferecendo-o depois à filha. A cineasta produziu com este espólio um documentário que vai ser estreado mundialmente na Berlinale, o festival de cinema de Berlim. Vanessa Lapa partilhou ainda o material com o jornal alemão Welt am Sonntag, que confirmou a autenticidade dos documentos, enviando-os para historiadores e especialistas alemães sobre o período nazi.
A pilha de documentos está escondida num cofre de um banco em Telavive. Mas o pouco que já se conhece do seu conteúdo ajuda a pintar o quadro de uma família anti-semita. “Todo estes negócios dos judeus, quando é que esta gente se vai embora para que nós possamos apreciar as nossas vidas?”, lê-se no diário de Margarete Himmler, citado pelo The Guardian, numa entrada em Novembro de 1938, um ano antes da guerra começar. “Minha pobre querida, que tem de discutir com aqueles miseráveis judeus por causa de dinheiro”, escreve o marido, a 28 de Abril de 1928, em plena República de Weimar, antes da Grande Depressão. “Odeio e irei sempre odiar o sistema de Berlim, que nunca te irá estrangular, a ti, mulher pura e virtuosa”, escreveu Himmler em Dezembro de 1927. “Berlim está contaminado. Toda a gente só fala de dinheiro”, escreveria a mulher, um ano mais tarde. Nos documentos, Margarete descreveu o marido como “um homem mau com um coração duro e rude”, mas que era “uma mulher de sorte por ter um bom homem tão mau que ama tanto a sua malvada mulher como ela o ama a ele”, volta a citar o The Guardian.
“Esta colecção é importante porque a questão de como o Holocausto foi humanamente possível continua no ar desde o final da guerra”, explica Haim Gertner à Associated Press. Gertner é director da Divisão de Arquivos da Yad Vashem, que contém uma das maiores colecções de documentos sobre o Holocausto. Apesar disso, para o especialista, nem os documentos privados de uma das figuras mais importantes na hierarquia do Partido Nazi ajudariam a compreender completamente aquele acontecimento. No entanto, para Haim Gardner estes documento privados ajudam a comparar dois lados de Himmler: “Alguém que vive em privado uma vida aparentemente normal, ao mesmo tempo que é o líder público de um assassinato em massa”.
Hitler
Himmler, em primeiro plano, ao lado de Adolf Hitler 

05/02/2014

Programa com as comunicações do Colóquio - O Património Artístico das Ordens Religiosas: entre o Liberalismo e a Atualidade

20 fevereiro |
10h30-10h45 | Madalena Costa Lima (Artis-IHA/FLUL)
O património histórico artístico das ordens religiosas no debate sobre a reforma dos regulares entre 1789 e 1830
10h45-11h00 | Fernanda Campos (BNP; Dep. História-FCSH/NOVA) / Isabel Roque (Universidade Europeia)
Inventariar, arrecadar, distribuir: a formação de um novo paradigma para os bens patrimoniais religiosos no contexto das desamortizações oitocentistas
11h30-11h50 | Vítor Serrão - orador convidado (Artis-IHA/FLUL)
A pintura seiscentista «Eneias transportando Anquises em Tróia» da BNP por Diogo Pereira
11h50-12h05 | Sónia Duarte (Arquivo Histórico de Penafiel)
Não desapareceu e está em sítio digno: a extinção das ordens religiosas e a redescoberta da tábua quinhentista atribuída a Gregório Lopes, outrora no convento de Santo António da Piedade de Évora
12h05-12h20 | Teresa Desterro (EST/IPT)
O conjunto pictórico oriundo da capela-mor da igreja do Convento das Trinas do Mocambo: subsídios para o seu estudo
12h20-12h35 | Agata Biga (IHA-FCSH/NOVA)
A coleção de arte sacra da Igreja do Carmo da Horta
14h15-14h30 | Joana Balsa de Pinho (CLEPUL/FLUL)
Património arquitetónico das Misericórdias e das Ordens Religiosas: os efeitos do processo de extinção das Ordens
14h30-14h45 | Elsa Caeiro (Direção Regional de Cultura do Alentejo)
Políticas e consequências da extinção das ordens religiosas no espaço urbano e envolvente da cidade de Évora - do Liberalismo à atualidade
14h45-15h00 | Vera Mariz (Artis-IHA/FLUL)
Do antigo hospital da Misericórdia a Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique (1963-1969)
15h00-15h15 | Maria do Céu Tereno (Dep. Arquitetura-Universidade de Évora) / Maria Filomena Monteiro (Câmara Municipal de Évora)
Evolução diacrónico-funcional num antigo espaço religioso do século XVII em Évora – Portugal
15h50-16h30 | Apresentação de Posters
16h40-17h00 | Nuno Correia - orador convidado (Dep. Informática-FCT/NOVA)
Sistemas Multimédia Interativos no Património e Herança Cultural
17h00-17h15 | Lúcia Marinho (Artis-IHA/FLUL - RTEACJMSS)
Santa Teresa de Jesus: projeto de exposição multimédia para a divulgação da (re)descoberta azulejar de temática teresiana no espólio do Museu Nacional do Azulejo
17h15-17h30 | Dália Guerreiro (CIDEHUS/Universidade de Évora)
A construção de um museu imaginário, ou a criação de um repositório de objetos do culto católico (ferramenta Greenstone)
17h30-17h45 | Rosário Salema de Carvalho (Artis-IHA/FLUL - RTEACJMSS) / Alexandre Pais (MNAz) / Ana Almeida (Artis-IHA/FLUL - RTEACJMSS) / Inês Aguiar (Artis-IHA/FLUL - RTEACJMSS) / Lúcia Marinho (Artis-IHA/FLUL - RTEACJMSS)
Do imóvel à plataforma digital. O património azulejar do Centro Hospitalar de Lisboa Central
17h45-18h00 | Maria Teresa Amado (Dep. História/ Universidade de Évora)
O Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro: uma luz nova com os olhos da Comunidade
 21 fevereiro |
10h00-10h20 | Alexandra Gago da Câmara (UAb; CHAIA) / Helena Murteira (FCG) / Paulo Simões Rodrigues (UÉ-CHAIA) - oradores convidados
As novas tecnologias aplicadas à História e ao Património: um estudo de caso - «City and Spectacle - a vision of pre-earthquake Lisbon»
10h20-10h35 | Sílvia Ferreira (IHA-FCSH/NOVA)
A fortuna das obras de talha de Lisboa no contexto da extinção das ordens religiosas: percursos de uma herança patrimonial
10h35-10h50 | Elisa Lessa (ILCH/Universidade do Minho)
O património artístico musical do Mosteiro de Santo André de Rendufe: conhecer o passado para intervir no presente
10h50-11h05 | Teresa Lança Ruivo (BNP)
Impressões do sagrado: estudo de uma coleção privada de registo de santos
11h35-11h50 | Patrícia Monteiro (CLEPUL/FLUL)
Os conventos de Portalegre e a formação do Museu Municipal
11h50-12h05 | Helena Costa Pereira (Investigadora)
Na encruzilhada da extinção das congregações religiosas: a fundação do Museu Machado de Castro, acaso ou desígnio?
12h05-12h20 | Ana Paula Machado (Museu Nacional de Soares dos Reis)
Santa Cruz de Coimbra no Museu Nacional de Soares dos Reis. A propósito de três itens de inventário
14h15-14h35 | Fernando Grilo - orador convidado (Artis-IHA/FLUL)
Colecionismo e integração do património monástico em Portugal no início do século XX. A coleção José Relvas
14h35-14h50 | Hugo Xavier (IHA-FCSH/NOVA)
O marquês de Sousa Holstein e a formação da Galeria Nacional de Pintura da Academia de Belas Artes de Lisboa
14h50-15h05 | Ricardo Mendonça (FBAUL)
O colecionismo de escultura na Academia de Belas Artes de Lisboa
15h05-15h20 | António Almeida Ribeiro (Agrupamento de Escolas Artur Gonçalves-Torres Novas)
O museu de imagens. Património artístico nas ilustrações e textos da imprensa oitocentista
15h30-16h15 | Apresentação de Posters
16h35-16h50 | Célia Nunes Pereira (Museu Arqueológico do Carmo)
O Carmo: de Igreja a Museu. 150 anos em torno da salvaguarda do património português
16h50-17h05 | Alice Alves (FBAUL)
Os restauradores da coleção de pintura da Academia Real de Belas Artes de Lisboa proveniente dos conventos extintos
17h05-17h20 | Carla Rego e António João Cruz (EST/IPT)
Para a história do restauro de pintura em Portugal: as antigas intervenções no retrato de José António de Oliveira Machado, da Biblioteca Nacional

Colóquio - O Património Artístico das Ordens Religiosas: entre o Liberalismo e a Atualidade 20 / 21 fevereiro 2014 | Auditório BNP | Inscrições esgotadas

O Colóquio decorre do projeto de investigação financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, intitulado Eneias - A coleção de pintura da Biblioteca Nacional de Portugal: do resgate do património artístico conventual na implantação do Liberalismo ao estudo integrado de conservação e divulgação, desenvolvido em parceria pelo Instituto de História da Arte – Centro de Investigação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e pela Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Tomar, com o apoio da Biblioteca Nacional de Portugal.
Neste encontro pretende-se refletir globalmente sobre as consequências da Extinção das Ordens Religiosas para o património artístico, em particular os bens móveis, no seu percurso até aos dias de hoje. Num caminho feito de destruição, mas também de conservação, procurar-se-á contribuir para o conhecimento da história dos primeiros museus portugueses, cujas coleções se formaram ou enriqueceram com os espólios outrora pertencentes às casas monásticas; bem como para a caracterização de ações de conservação e restauro do património móvel – tanto religioso, como civil - durante o século XIX e inícios do século XX, através dos protagonistas, das práticas de intervenção, dos conceitos e dos materiais então utilizados, de molde a concorrer para o estabelecimento dos seus princípios e para a avaliação dos seus efeitos sobre as obras de arte.
Conscientes de que a valorização, salvaguarda, fruição, e consequente sustentabilidade do património, implicam conhecer, mas também investir em formas apelativas, didáticas e inovadoras de interpretação e comunicação patrimonial, pelo uso das novas tecnologias, pretendemos que neste encontro se possa igualmente refletir sobre estes novos recursos, colocados à disposição de quem tem a responsabilidade de gerir o património.

Ourivesaria quinhentista
Custódia de Belém
 

03/02/2014

A guerra civil europeia (1914-1918)

“Se não podemos conceber o século XIX sem a Revolução Francesa, não podemos pensar as tragédias do século XX sem a Grande Guerra”, afirmou o historiador francês François Furet. Sem ela, o fascismo, o comunismo, o nazismo e a II Guerra Mundial não seriam concebíveis. Foi uma “guerra civil europeia”, antes de ser mundial, “em que milhões de homens foram lançados numa guerra total e arrancados às suas solidariedades tradicionais, encontrando-se numa posição de absoluta subordinação ao Estado e ao interesse nacional. Numerosas camadas da população aprenderam a política através da guerra. Foi a entrada patológica [da Europa] na democracia” (Furet). “Foi a catástrofe fundadora do século” (George Kennan). Envolveu um grau de violência até então inimaginável, uma “brutalização” das sociedades, culminando numa perda dos valores — e o da vida em primeiro lugar. “A banalização da violência continua em nós e penso que a podemos ligar à I Guerra Mundial”, diz o historiador americano Jay Winter, especialista da Grande Guerra. Quatro impérios desapareceram na tormenta: o alemão, o austro-húngaro, o otomano e o russo — que deu lugar à União Soviética. O moderno Médio Oriente e os seus conflitos nasceram desta guerra. Fez 19 milhões de mortos, entre eles nove milhões de soldados. Há um termo de comparação mais eloquente. Só na Batalha do Marne, de 7 a 12 de Setembro de 1914, a França perdeu 80 mil homens e a Alemanha talvez outros tantos. Em toda a Guerra do Vietname, morreram 47 mil militares americanos. A Europa vivia o mais longo período de paz da sua História — com excepção da guerra da Crimeia, na periferia, ou da breve guerra franco-alemã de 1870. A Europa era o centro económico, político e cultural do mundo, detentora de vastos impérios coloniais. Os EUA ou o Japão eram potências emergentes. Nenhum europeu imaginava a perda do estatuto central da Europa durante muitas gerações. Interroga-se Jay Winter: “1918 já está muito distante de nós mas é ainda um puzzle. Foi para quê? Porquê? Porquê o banho de sangue? Porquê a carnificina? Esta pergunta é, para mim, a questão chave de todo o século XX. Porquê a violência? Porquê a crueldade?”
Portugal na I Guerra Mundial
Portugueses na I Guerra Mundial

A lição I Guerra Mundial (1914-1918)

Quando a Europa comemorou em 1994 os 80 anos da eclosão da Grande Guerra de 1914-18, fê-lo num estado de espírito muito particular — o da despedida do trágico século XX. Com o fim da União Soviética, encerrava-se uma era. A construção europeia acelerava-se e a UE preparava a integração do Leste, reunificando o Continente. Dominava a pax americana. Fukuyama publicava O Fim da História. Admitia-se uma “globalização feliz”. Apenas o regresso da palavra Sarajevo e a irrupção dos nacionalismos trazia alguma perturbação. Mas, sobretudo, tiravam-se as lições do “suicídio” de 1914 — um facto já muito distante. O espírito do tempo mudou. “Um espectro assombra o mundo: 1914” — escreve o historiador Harold James, professor em Princeton. “A aproximação do centenário da eclosão da I Guerra Mundial faz evocar o modo como a instabilidade produzida por mudanças na balança do poder num mundo integrado e globalizado pode produzir cataclismos.” Em Janeiro de 2013, Jean-Claude Juncker, então presidente do Eurogrupo e primeiro-ministro luxemburguês, convidou os jornalistas a anotarem os paralelos com 1913, “o último ano da paz na Europa”. Surgem estranhos títulos nos jornais e revistas europeus, americanos e asiáticos: “1914-2014, o mesmo combate?”; “Será 2014 uma repetição de 1914?”; “Tempo de pensar mais em Sarajevo e menos em Munique”; “A China não deve imitar os erros do Kaiser”; “Ouvindo os ecos de 1914 em 2014”; “1914 e hoje”; “É a China a Alemanha de hoje?”; ou (num jornal chinês) “Deixem de comparar a China com a Alemanha de 1914”. No 1º de Janeiro, o Financial Times fez de 1914 o tema do seu editorial: “Reflexões sobre a Grande Guerra — o mundo pode ainda tirar as lições da catástrofe de 1914.” O diário da City pensa que “o mundo de 2014 não está à beira de um tal desastre histórico”. Mas o centenário é uma oportunidade para estudar algumas lições: “É uma loucura ir para a guerra na crença de que será curta e com consequências controláveis. Em 1914, alguns políticos e generais europeus, cuja visão fora moldada pelas guerras que unificaram a Alemanha e a Itália no século anterior, incorreram nesta ilusão. O mesmo fizeram Washington e Londres quando invadiram o Iraque em 2003. Quão errados estavam estes chefes de guerra em ambas as ocasiões.” Por trás desta reflexão e destes títulos estão a tensão no Mar da China Oriental, os focos de conflito no Médio Oriente e também uma Europa “abalada pela crise e pela dúvida”.
Guerra 1914-1918
Militares na I Guerra Mundial