27/02/2018

Villa romana do Arneiro

Em 1848 Patrick B. Russel descobriu vestígios de um edifício romano com mosaicos no lugar do Arneiro (Maceira-Lis), um dos quais representava Orfeu tocando lira e que segundo algumas opiniões poderia fazer parte de uma basílica paleocristã. Escavações levadas a cabo a partir de 1948, pelo arqueólogo Vergílio de Sousa, puseram a descoberto 4 novos mosaicos datados dos séculos II-IV, bem como muros, cerâmicas de construção e doméstica, fíbulas, várias moedas do século I ao século IV. As inscrições que foram descobertas na Igreja Matriz da Maceira e construções adjacentes provêm daqui com quase toda a certeza. Há ainda notícia de se ter encontrado uma escadaria em Anfiteatro que foi destruída, bem como restos de canalizações.
Villa romana do lugar do Arneiro situada em zona de encosta e vale, sem destaque marcado na topografia envolvente. Entre diversos materiais de tipologia romana encontrados no local, o achado mais significativo é constituído por um conjunto de mosaicos em opus tessellatum e opus vermicullatum, atualmente destruídos à excepção de dois. Um desses conserva-se parcialmente in situ. O outro, encontra-se no Museu Britânico, em Londres, é o mais importante, uma vez que desenvolve uma temática figurativa da fábula de Orfeu. No local foram ainda identificados vestígios de actividades metalúrgicas, nomeadamente através da identificação de escórias com essa origem.

Mosaico da Villa Romana do Arneiro no British Museum
Mosaico do Arnal, Maceira, Leiria (Imagem A. Balil)- descoberto em 1848 pelo reverendo Patrick Russel e rapidamente roubado e levado para Inglaterra, possivelmente por um cônsul. Foi descrito no Ilustrated London News de 5/09/1857.

Coleção Buehler-Brockhaus no Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa (Braga)

O Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa, em Braga, vai receber as 200 peças de um conjunto arqueológico que se estende por cerca de mil anos, desde o período arcaico da Grécia Antiga até à fase tardia do Império Romano, recolhido pelo casal alemão Buehler-Brockhaus, radicado em Portugal desde 2006. O material doado destina-se a uma exposição que vai ser inaugurada no Outono. Estes artefactos foram coleccionados por Marion Buehler-Brockhaus e Hans-Peter Buehler desde o princípio dos anos 60, nas excursões pelo território mediterrânico, desde o que hoje corresponde à Turquia até Portugal. Uma ala da sala exibe recipientes gregos de cerca de 700 a.C: uns em vidro azul-esverdeado, recolhidos nos solos calcários da Apúlia e da Campânia, no sul de Itália, outros em cerâmica, figurados e encontrados em túmulos, pelo que estariam relacionados a significados mais sagrados no âmbito da mitologia grega. Pelo resto da sala veêm-se algumas esculturas sem cabeça ligadas ao Império Romano, do século I e II d.C., incluindo uma figura feminina num trono, em mármore, recolhida na Turquia, e, numa parede, um mosaico do século III e IV d.C., oriundo do Norte de África. O casal Marion Buehler-Brockhaus e Hans-Peter Buehler estudaram história da arte e arqueologia na Alemanha e ainda mantém viva a paixão pela arqueologia, alimentada pelas escavações e pelas visitas aos museus arqueológicos em cidades como Nova Iorque, Paris e Madrid. O espólio do casal Buehler-Brockhaus – que inclui ainda, por exemplo, a cabeça em mármore do imperador Trajano, que governou de 98 d.C. a 117 d.C. – contrasta com a cultura atlântica do noroeste peninsular, expressa nas cerca de duas mil peças da colecção permanente do museu.
Cabeça do imperador Trajano
cabeça em mármore do imperador Trajano, que governou de 98 d.C. a 117 d.C..
Traje de militar romani
Torso de militar romani.
Escultura de uma figura togada
Escultura de uma figura togada.

Como foi pintado «Rapariga com Brinco de Pérola» de Vermeer?

Rapariga com Brinco de Pérola, uma das mais celebradas pinturas da idade de ouro holandesa, obra Johannes Vermeer (1632-1675), volta ao estirador para ser examinado com recurso às mais modernas tecnologias. Pretende-se perceber como foi pintado e com que materiais. Os trabalhos de análise, todos com base em técnicas não invasivas, decorrerão à vista do público. O projecto, a que deram o nome de Girl in the Spotlight e que não inclui quaisquer trabalhos de restauro e conservação, recorre a uma série de técnicas exploratórias (tomografia de coerência óptica, microscopia digital, fluorescência de macro raios-X), algumas delas do campo da medicina, para reunir um enorme manancial de informação que não implica qualquer recolha de amostras para saber mais sobre os óleos e pigmentos que o artista usou há 350 anos. No fim deste projecto, Rapariga com Brinco de Pérola estará certamente entre as obras mais bem documentadas de sempre (na corrida a este «título» estarão, certamente, Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, e Guernica, de Pablo Picasso).
Rapariga com Brinco de Pérola (c. 1665) está desde 1881 em exposição no museu de Haia, instalado num edifício do século XVII no centro da cidade e inaugurado há quase 200 anos. Teve, no entanto, de esperar mais de cem para se transformar na estrela que é hoje, sendo o principal íman para boa parte dos 400 mil visitantes que o Mauritshuis recebe todos os anos, apesar de na sua colecção se encontrarem outras pinturas incontornáveis da arte holandesa do século XVII, como A Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp, de Rembrandt, e O Pintassilgo, de Carel Fabritius, um homem que teve o autor de A Ronda da Noite como mestre e Vermeer como aluno.
A obra de Johannes Vermeer – um óleo sobre tela com dimensões modestas (44,5X39 cm) – foi comprada num leilão no final do século XIX por pouco mais de dois florins (hoje, cerca de um euro) e em muito mau estado. Só em 1994 seria objecto de uma complexa operação de restauro que lhe deu o aspecto – e o brilho – que hoje tem. No ano seguinte fez parte de uma exposição que juntou o museu de Haia e a National Gallery de Washington, o seu passaporte para a fama, devidamente carimbado quando, em 1999, Tracy Chevalier publicou o romance Rapariga com Brinco de Pérola, que mais tarde foi adaptado ao cinema por Peter Webber. Neste filme de 2003, a actriz Scarlett Johansson é a jovem criada que no livro serve de modelo a Vermeer (papel confiado a Colin Firth), um artista perseguido tanto pela ganância da sogra como pelos ciúmes da mulher, perfecionista até à obsessão e claramente atormentado pela beleza da rapariga que não pode deixar de pintar.
Os especialistas dividem-se quanto ao modelo a que o artista terá recorrido nesta Rapariga com Brinco de Pérola. Para uns, é claro que se trata de uma amante ou de uma das filhas (se for este o caso, não lhe terá faltado por onde escolher, já que o artista teve 15 filhos e, dos dez que não morreram ainda bebés, sete eram mulheres), para outros, é simplesmente um retrato que partiu da imaginação de Vermeer, sem que a esta jovem sedutora corresponda uma mulher real.
O que Vermeer nos dá nesta obra conhecida como «Mona Lisa do Norte» – o nome que hoje tem integra uma lista de que fazem parte outros como Um Retrato ao Estilo Turco, ou os mais descritivos Jovem com Turbante e Cabeça de Jovem – é uma mulher que parece interpelar quem a olha, de turbante azul e amarelo na cabeça, lábios entreabertos, brilhantes, e um brinco de pérola (há quem defenda que se trata de um pendente de metal, provavelmente prata, ou até de vidro veneziano envernizado por causa da forma como o artista pinta a luz a reflectir-se nele). Se existiu ou não, pouco importa. O que interessa é o que pode ensinar-nos ainda sobre a forma como Vermeer trabalhava, como pensava. E isso, quando se trata de um artista que pintou como poucos a mulher na intimidade da casa e que deixou apenas cerca de 30 obras, já não é nada mau.

Vermeer
Um dos técnicos analisa a pintura de Vermeer.