24/06/2019

Os Antunes - construtores de cravos, pianofortes e pianos (séculos XVIII e XIX)

A publicação deste livro vem contar-nos a saga de uma verdadeira dinastia de construtores lisboetas de cravos, pianofortes e pianos.
A construção de instrumentos de tecla foi sempre muito residual (5 ou 6 construtores por geração) e dependente da clientela de conventos e igrejas, de alguns teatros e fidalgos, as lojas e as oficinas não estavam agrupadas em rua própria, como as de outros misteres («geografia corporativa») e, por isso, a autora foi obrigada a percorrer com o dedo, folha a folha, de alto a baixo, uma massa quase infinita de século e meio de documentos paroquiais e fiscais disseminados por várias freguesias de Lisboa e arredores para dela fazer emergir três gerações de Antunes, sua genealogia, sucessivas residências e cinco oficinas.
Para mais, a ascensão e queda ou colapso absoluto desta nobre actividade percorre um período histórico particularmente fustigado por condições adversas: do grande terramoto de 1755 às invasões francesas, saída da corte para o Brasil e crise económica consequente; das lutas liberais à extinção das ordens religiosas; da pequena concorrência dos construtores estrangeiros instalados no nosso país aos privilégios fiscais de fabricantes sobre artesãos; até à importação de instrumentos de tecla franceses, austríacos e italianos — como «pianos de diversas marcas e proveniências, produzidos em grande quantidade e a preços competitivos […] golpe de misericórdia nos construtores nacionais» (por casas especializadas, como Sassetti & C.ª, fornecedora exclusiva do Conservatório Real de Lisboa em 1858, ou da Casa Real).
Em 1860, o neto do fundador desta dinastia, João Baptista Antunes II — que foi afinou pianos no Conservatório por recomendação do celebrado compositor João Domingos Bontempo encontrava-se «completamente espoliado» e penhorado, «não tendo cama em que se deitasse» (acto de arrecadação, citado nas pp. 70-71), muito embora, em 24 anos de fábrica, tivesse construído 15 pianos e um número indeterminado de cravos.
A deriva dos Antunes é também ela uma crónica da vida urbana desses tempos, em que familiares se acolhem solidariamente, mudam amiúde de casa mas quase sempre no mesmo bairro e freguesia ou até na mesma rua, ou exercem actividades suplementares — afinador e alquilador de cravos e pianos, mas também vinicultura em Colares e taberna na Rua das Salgadeiras, ou leiloeiro de móveis e pianos usados, dispondo de parelha de animais para aluguer de transporte — como «estratégia de sobrevivência» ou almofada económica em períodos maus. Noutro sentido, os filhos de José da Cruz Antunes I (1767-1845) fizeram casamentos que lhes proporcionaram «ligação a outros contextos profissionais e a manutenção de um estatuto social privilegiado». Mas também é consequência dum corpo de leis profissionais, regimentos e posturas da cidade, por exemplo quanto ao período e distinto estatuto de aprendiz, jornaleiro e mestres, respectivos exames (ou contornos da lei).
O capítulo «Instrumentos sobreviventes das oficinas Antunes» é um dos mais curiosos do livro e dos mais desanimadores. O cravo de 1758, classificado como Tesouro Nacional, precede do Convento dos Cardeaes, onde foi descoberto por Michel’angelo Lambertini nos inícios do século passado, esteve de 1931-45 a 1971 no Museu Instrumental do Conservatório de Lisboa, passou pela Biblioteca Nacional mas só em 1987 foi objecto de restauro na casa alemã Neupert, em Bamberg, que o tornou «instrumento de eleição dos cravistas para execução de composições coevas». O pianoforte de 1767, pertencente a um convento próximo de Lisboa, foi resgatado às hastas públicas de 1834 pelo luthier e professor de música Ernesto Victor Wagner, pertenceu ao magnata Monteiro dos Milhões e seus herdeiros até 1990, acabando vendido ao National Music Museum dos Estados Unidos da América pela inglesa Sotheby’s — e por «uma verdadeira pechincha», nas palavras do professor de Oxford Jeremy Montagu. O cravo de 1785, adquirido pela família O’Neill em 1834 para a sua Quinta do Pinheiro, também passou pela leiloeira londrina em 1985, indo para um museu que o restaurou dois anos depois e revendeu a um anónimo norte-americano em 2016. O cravo de 1789 — pertencente ao Museu Nacional da Música, e de teclado extenso e decoração do tampo harmónico sui generis — aguarda ainda «a monografia pormenorizada e uma restauração completa por quem percebe de instrumentos de tecla ibéricos, ou seja latinos»que o também esquecido Santiago Kastner (1908-92) recomendou ao Conservatório Nacional na década de 1970.

Os Antunes. Mestres portugueses de fazer cravos, pianofortes e pianos (séculos XVIII e XIX)
Capa do livro de Ana Paula Tudela,
Os Antunes. Mestres portugueses de fazer cravos, pianofortes e pianos (séculos XVIII e XIX).
Lisboa, Museu Nacional da Música e Imprensa Nacional, 2018.

Resumo do artigo de Vasco Rosa, «Os Antunes e a tecla antiga portuguesa», Observador, 19/06/2019

23/06/2019

Auguste Rodin identificado em quadro que estava catalogado como um retrato do Imperador Leopoldo II

De visita ao Museu Lázaro Galdiano (Madrid), Luís Pastor olhou para um retrato e para a respetiva identificação e concluiu que estava incorreta. Reconhecia o homem de longas barbas e olhos claros pintado de perfil na miniatura de 12,7 x 9,8 cm - e não era o Imperador da Bélgica Leopoldo II (1835-1909), como estava identificado. Pastor reconheceu de imediato que era um retrato do escultor Auguste Rodin (1840-1917). Foi pesquisar fotos de Leopoldo II e considerou que são realmente parecidos, mas aquele quadro não era o retrato do Imperador Leopoldo II.
A obsessão de Luis Pastor passou a ser outra e depois de ter aprofundado as suas pesquisas e conversas com historiadores de arte e restauradores, anunciou ao Museu a sua descoberta, no Twitter.: «Desculpem ser chato, mas acho que é Auguste Rodin quem está na miniatura 1 que está na sala de miniaturas. Não só é muito semelhante como partilha a mesma cor do olhos.» Noutra mensagem, demonstra que Leopoldo II tem olhos mais escuros e nas poucas fotos que encontrou com cor são em tom mais mel. A resposta dos responsáveis do Museu Lázaro Galdiano chegou dois dias depois. «Já temos um veredito definitivo: após numerosas análises comparativas com retratos de ambas as personagens, a miniatura, com o número de inventário 3711, passa a ser o retrato do escultor Auguste Rodin. Muito obrigado a Luis Pastor pela descoberta!», responderam, também no Twitter.
Retrato de Auguste Rodin Museu Lázaro Galdiano
Retrato de Auguste Rodin no Museu Lázaro Galdiano (Madrid), 12,7x9,8 cm
Auguste Rodin fotografia 1902
Fotografia de Auguste Rodin, 1902
Fotografia Leopoldo II da Bélgica
Imperador Leopoldo II da Bélgica

22/06/2019

Descoberto quadro inédito de Delacroix - exposto em Paris na Galerie Mendes

Foi descoberto um quadro inédito do pintor Delacroix, que antecede a famosa pintura Femmes d'Alger dans leur appartement (Museu do Louvre).
Foi a grande exposição patente no Louvre durante o ano passado, sobre a obra de Eugène Delacroix (1798-1863), o pintor do Romantismo francês, que começou por levantar questões à atual proprietária do quadro. Depois de uma vida inteira com esta obra pendurada no escritório, que tinha sido adquirida pelo seu pai, interrogou-se sobre as duas mulheres em poses e vestes exóticas.
E foi aqui que entrou o galerista luso-descendente Philippe Mendes, que fez parte da equipa científica do Museu do Louvre. Analisou o quadro porque, pictorialmente, esteticamente e artisticamente, estava tudo como um Delacroix. Com essa íntima convicção, iniciou estudos históricos e artísticos.
A composição original do Femmes d'Alger dans leur appartement representa quatro mulheres e pensava-se que tivesse sido pintado logo após ou ainda durante uma curta estadia de Delacroix na capital argelina. Este quadro foi apresentado com estrondo no salão de 1834 e marca um dos períodos mais interessantes do artista. Já o quadro apresentado a Philippe Mendes consistia apenas em duas mulheres, mas com traços muito próximos do quadro mais conhecido. O galerista decidiu avançar com uma limpeza e com uma radiografia, descobrindo finalmente que o que tinha em mãos era um esboço detalhado do que viria a ser uma das obras-primas de Delacroix. O processo de autenticação demorou cerca de ano e meio. Mesmo não estando assinado, os traços, as cores, assim como a tela usada e o reposicionamento da composição mostram que o quadro descoberto é mesmo um Delacroix, mudando também a narrativa da viagem do pintor. Este será o quadro original, em que Delacroix fez o retrato das mulheres que mais tarde utilizaria na grande tela. Para o galerista o quadro «é uma coisa rápida, lembra-se daquilo, vê a cena e pinta. Tem um brilho incrível. Tal como diz uma das especialistas que consultámos, o quadro não é um estudo. É o retrato de uma das mulheres".
Havia registo de um Delacroix na coleção do Conde Mornay, diplomata e amigo do pintor, que se pensou até há pouco tempo ser uma versão tardia do Femmes d'Alger dans leur appartement. No entanto, o número do leilão atribuído a esta obra aquando a venda da coleção foi 118, e o quadro de Philippe Mendes tem essa marca 118, provando assim a sua proveniência.
Esta descoberta tem agitado o mundo da arte e a corrida está aberta para a compra do quadro. O galerista assegura que está em conversações com pelo menos quatro grandes museus norte-americanos, assim como também há interesse por parte do Louvre de Abu Dhabi, para a aquisição desta obra de Delacroix. Sem desvendar valores da compra, Philippe Mendes avança só que o custo dos seguros para expor o quadro é imenso e de modo a proteger esta obra, o quadro passará as noites num cofre e será trazido todas as manhã para a galeria. O quadro de Delacroix será apresentado na galeria Mendes, com um catálogo de cerca de cem páginas, redigido por um grupo de especialistas que atestam a autenticidade da obra, na sequência de realização de várias análises científicas.
Delacroix é o pintor do Romantismo francês, o autor da pintura de referência da Revolução Francesa, La liberté guidant le peuple e de quadros como L'orpheline au cimetière ou Les Fanatiques de Tanger.
Femmes d'Alger dans leur appartement galerie mendes
Delacroix, quadro descoberto em 2019 exposto na Galerie Mendes
Delacroix, Femmes d'Alger dans leur appartement, 1834 (museu do Louvre)

20/06/2019

Villa Cardilio: transferência das atribuições da DGPC para o município de Torres Novas

Foi ratificado o despacho que aprovou o acordo de colaboração para a valorização das Ruínas Romanas de Villa Cardilio que define as condições de transferência para o município de Torres Novas das atribuições da Direção Geral do Património Cultural (DGPC), designadamente a elegibilidade enquanto entidade beneficiária para intervenções.
Considerando que a Villa Cardilio é um elemento com elevado valor patrimonial, classificada como monumento nacional, que carece de uma intervenção de conservação condicente com este estatuto, sob pena de se acentuar o grau de risco de degradação, o Estado, através da DGPC, celebra com o Município de Torres Novas este acordo visando as necessárias intervenções de valorização
O custo da empreitada está estimado em 392.200,00 euros (IVA incluído), dos quais 332.352,94 euros correspondem a investimento elegível, que será comparticipado pelo FEDER em 85% no valor máximo de 282.500,00 euros, no âmbito do Programa Operacional Centro 2020. O montante remanescente, não suportado por fundos comunitários, será suportado pela DGPC e pelo Município de Torres Novas, na mesma proporção. O Município assegurará ainda o pagamento do levantamento fotogramétrico (4999,00 euros + IVA) e da prospeção geofísica do sítio (15 000,00 + IVA).
Vila Cardílio - Torres Novas
Villa Cardílio - Torres Novas


19/06/2019

Museu das Descobertas - Exposição no Museu Nacional de Arte Antiga

O efeito transfigurador que o museu tem sobre o visitante é consequência de um mundo insuspeito de saberes, aplicados no contínuo trabalho de preservar, estudar e comunicar dissipando engano e dúvida. O museu existe para proporcionar uma experiência pessoal a quem o visita, fruto daquela que desenvolvem os que nele trabalham, dia após dia.
A experiência do museu assenta no ato magnético e muito pessoal da contemplação, e esta, por seu turno, origina-se no valor insubstituível do objeto como testemunho intemporal e redentor da capacidade criadora humana.
Ao Museu Nacional de Arte Antiga pareceu oportuno levar a cabo a organização do presente projeto, abrigado sob a designação provocadora de Museu das Descobertas, num tempo que assiste a uma renovada atualidade do conceito de museu, amplamente ilustrada na febre constitutiva de novas instituições.
A Exposição está a decorrer  entre 31 de maio e 29 de setembro de 2019.
Museu Nacional de Arte Antiga
Exposição Museu das Descobertas - Museu Nacional de Arte Antiga

O quadro «Judite e Holofernes» de Caravaggio vai a leilão

A obra deverá entrar no mercado por um valor mínimo de 30 milhões de euros, mas espera-se que o preço final supere os 100 milhões de euros.
Judite e Holofernes, datado de 1607, desapareceu em 1617 e a sua existência tem sido comprovada por cartas entre comerciantes e pelo testemunho da época do pintor Louis Finson (1580-1617), amigo e agente de Caravaggio (1571-1610).
Marc Labarbe, proprietário da casa de leilões, localizou a obra, em bom estado de conservação, no sótão de um cliente que desconhecia a origem do quadro.
Os especialistas, na avaliação da pintura, consideraram «a qualidade dos traços» como fator determinante da autoria de Caravaggio, ainda que a «autenticidade» tenha levantado algumas dúvidas.
Judite e Holofernes, um quadro de inspiração bíblica que representa a decapitação do general Holofernes, já passou em exposição por Milão, Londres e Nova Iorque, e encontra-se agora em Toulouse.
O Palácio Barberini, em Roma, possui na sua coleção uma pintura anterior de Caravaggio, dedicada ao mesmo tema - Judite decapitando Holofernes -, que se encontra datada de c. 1599, e que constitui um dos mais conhecidos quadros do pintor.
O leilão vai decorrer no dia 27 de junho.
Caravaggio
Caravaggio, Judite e Holofernes, 1607

Fra Angelico no Museu do Prado

Um artista com uma técnica exímia que gostava de experimentar. Um homem que escolheu a vida religiosa e que pregou pintando. Fra Angelico e os seus contemporâneos estão em Madrid e com eles está um tempo novo a que se chamou Renascimento. No Museu do Prado, até 15 de Setembro.
A mostra aborda os inícios do Renascimento florentino em torno a 1420 e 1430, com especial destaque para a figura do pintor Fra Angelico, um dos grandes mestres deste movimento.
Fra Angelico (1390 – 1455) foi o autor das primeiras grandes obras artísticas realizadas em Florença durante este período, juntamente com os pintores Massaccio (1401-1428), Masolino (1383-1447), Uccello (1397-1475) e Filippo Lippi (1406-1469), os escultores Ghiberti, Donatello (1386-1466) e Nanni di Banco (1385-1421), e o arquiteto Brunelleschi (1377-1446).
O pintor e frade dominicano nasceu em Florença em 1390, sendo batizado Guido di Pietro da Mugello. Homem de extraordinária devoção, o artista ficou conhecido como Fra Angélico pela sua temática religiosa e pela serenidade que transmitem as personagens das suas obras. Mais de cinco séculos depois do seu falecimento, em 1455, Fra Angelico foi beatificado por João Paulo II em 1982.
A Anunciação será a obra central desta exposição, que reunirá também outras duas pinturas de Fra Angelico recentemente incorporadas à coleção do museu: o Funeral de Santo António Abade e a Virgem de Granada, ambas procedentes das coleções do duque de Alba.
Anunciação
Fra Angelico, A Anunciação,  Ouro e têmpera sobre madeira. 194 x 194 cm
Funeral de Santo António Abade
Fra AngelicoFuneral de Santo António Abade, Têmpera sobre madeira de choupo, 19,7 x 29,3 cm

18/06/2019

Fialho de Almeida descreve quadro de Silva Porto

«Abanco em frente do grande quadro de carneiros que passa por ser uma das coisas capitais de Silva Porto: bocado de dois metros, onde, por uma azinhaga esboroenta dos calores de agosto, vem uns carneiros, um burro e um pastor. Na barreira da esquerda há uns silvados, piteiras à direita, e acima desta uma oliveira ferrugenta comida pela poeira, queimada dos ardores do sol e pondo uma silhueta doente, hostil, num céu de trovoada. Toda a figuração da cena é escrupulosamente composta do modelo, é tão autêntica a poeira do fundo que uma pessoa a chegar-se e a ficar com o casaco branco dela. Pode-se estudar também cada acessoriozinho, da pintura, está tudo exato, no seu lugar, com uma factura tão nítida, e uma consciência do minúsculo por tal forma escrupulosa que é impossível destrinçar na lã dos carneiros fios que não seja pura lã, e na ramada das silvas folha que não tenha sido vista ao microscópio.
Fotografa-se agora a tela e tão exata é a cópia que pelo cliché não há meio de apurar se a máquina apontava a um quadro, ou se visou realmente uma cena natural.»

(Fialho de Almeida, 1893)
Fialho de Almeida

Silva Porto, Conduzindo o rebanho, (óleo sobre tela, 1600 x 2000 mm), 1893 

Fado - uma tela de Malhoa

Na penumbra de um quarto de meretriz, entre o vinho e o fado, Adelaide e o tocador Amâncio cantam a sua tristeza. A tela apresenta uma composição cenográfica atenta, cheia de pormenores como os quadros dos santinhos na parede, a cómoda com toalha de ramagens vermelhas e outra de crochet por cima, o vaso de manjerico, o toucador de espelho partido, o pente e, no próprio fadista, a «beata» na orelha.
Durante quatro meses o pintor percorreu os bairros de Alfama, Mouraria e Bairro Alto, em busca de modelos, tentando inteirar-se do ambiente. Retrata os seus inícios obscuros e marginais do fado, o que remete a pintura para uma temática do realismo.
José Malhoa
José Malhoa, Fado, 1910,  óleo sobre tela, 150x183 cm.


As pinturas de Carlos Reis no Museu Municipal de Torres Novas

As 26 obras de Carlos Reis expostas no Museu Municipal de Torres Novas, que ostenta o seu nome como patrono, são exemplificativas da dupla qualidade de paisagista e retratista. Em exposição permanente estão 23 pinturas que abrangem os géneros: paisagem (9), costumes (9), retrato (5).
Carlos Reis nasceu em Torres Novas a 21 de Fevereiro de 1863. Fez a instrução primária nesta cidade e, em 1881, fez a sua inscrição na Escola de Belas Artes de Lisboa. Concluiu o curso em 1889 e obteve do Estado uma bolsa de estudo que lhe permitiu seguir para Paris para frequentar a Escola de Belas Artes e os ateliers de mestres conceituados. Em 1897, já em Portugal, toma posse da cadeira de Paisagem na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde inicia uma longa carreira docente e é jubilado e nomeado professor honorário em 1933.
Profundamente influenciado pela corrente naturalista, nomeadamente prolongando a lição da escola de Barbizon, nomeadamente de Corot (1796-1875) e Daubigny (1817-1878), foi um pintor notável pela sua aptidão para transmitir luminosidades. É autor de numerosos quadros, alguns de grandes dimensões, como os painéis decorativos da Sala de Baile do Hotel do Buçaco e um retrato de D. Carlos, que se encontra no paço de Vila Viçosa. Outra obra de relevo encontra-se na Sala do Senado do Palácio de S. Bento. Pintou também retratos da realeza e nobreza contemporânea, bem como cenas da vida quotidiana do povo português nos seus aspectos típicos, bodas e festas. São disso exemplo, «Uma Saúde aos Noivos», a «Talha Vidrada» e o «Primeiro Filho». A sua pintura, cheia de luz e cor, é sobretudo inspirada na natureza, como se pode admirar por exemplo, em «Raios de Sol Ardente» e «Pôr-do-Sol». É também considerado o mágico do branco, para comunicar as transparências da luz como as de «Primeira Comunhão», «Asas e Comungantes».
Exerceu o cargo de director do Museu Nacional de Belas Artes e depois do Museu Nacional de Arte Contemporânea (1911-1914) onde está amplamente representado. Em 1940, ano da sua morte, foi-lhe concedida a Grã-Cruz da Ordem de Santiago e, em 1942, é atribuído o seu nome ao Museu Municipal de Torres Novas.
Asas
Carlos Reis, Asas, s.d., Museu Municipal Carlos Reis (Torres Novas) 
Talha Vidrada
Carlos Reis, Talha Vidrada, Museu Municipal Carlos Reis (Torres Novas)
 

A Sagrada Família será terminada


A Sagrada Família, uma das obras mais conhecidas da cidade de Barcelona, recebeu a licença para que as suas obras de construção sejam terminadas, isto 137 anos depois da primeira pedra da basílica ter sido ali colocada.
A basílica da Sagrada Família começou a ser construída em 1882. Com um estilo neogótico desenhado pelo arquiteto Francisco de Paula del Villar y Lorazo, Gaudí avançou com o seu olhar único para o projeto depois de Francisco se ter reformado. A igreja rapidamente se tornou a obra-prima do artista catalão. Gaudí supervisionou as obras entre 1882 e junho de 1926, data em que faleceu e foi sepultado na capela da Sagrada Família. As obras nunca chegaram a ser concluídas, apesar de continuarem a decorrer aos poucos e de já se ter passado quase um século desde a morte do artista.
É, até hoje, um dos monumentos turísticos mais concorridos em Espanha, com 4,5 milhões de visitas anuais ao seu interior e cerca de 20 milhões que a admiram de fora. Em 2013, o arquiteto responsável por completar projeto de Gaudí dizia que, se o ritmo continuasse assim, estará concluído em 2026.
Barcelona
Sagrada Família, Barcelona, 1882-1926
Barcelona
Sagrada Família, Barcelona, 1882-1926