18/03/2017

«A Lusitânia dos Flávios» no Museu Nacional de Arqueologia

Esta exposição tem a particularidade de ter sido constituída a partir de um texto do poeta latino Estacio (45-95), 'Silvas', e apresenta pela primeira vez ao público peças como um "togado" (busto de toga) inacabado, de Vila Viçosa, e um bronze de um jovem Hércules, descoberto em escavações arqueológicas na cidade romana de Ammaia.
A exposição reúne 27 peças arqueológicas emblemáticas, correspondendo aos 27 anos que durou a dinastia Flávia (69-96), da qual fizeram parte os imperadores Vespasiano, Tito e Domiciano que dedicaram grande atenção à província romana da Lusitânia, promovendo uma renovação urbana e alterando profundamente as imagens antigas das cidades. Esta renovação urbana foi marcada por uma preocupação com a monumentalização, decoração e embelezamento das cidades e das villae, especialmente através da utilização de mármores de origem lusitana.
O "togado" inacabado, proveniente da pedreira da herdade da Vigária, em Vila Viçosa, trata-se de um testemunho claro de como os mármores lusitanos foram amplamente utilizados para o embelezamento dos edifícios civis e religiosos e os espaços públicos da época e das villae.
Outro destaque da exposição é um bronze figurativo representando um jovem Hércules, recentemente descoberto na escavações arqueológicas de Ammaia, assim como moedas da coleção do Museu Municipal de Sines.
Museu Nacional de Arqueologia
A exposição A Lusitânia dos Flávios no Museu Nacional de Arqueologia.

15/03/2017

O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) pediu autorização aos proprietários para fazer análises às pinturas incluídas na exposição A Cidade Global

O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) pediu autorização aos proprietários para fazer análises às pinturas incluídas na exposição A Cidade Global, que alguns historiadores vieram a público considerar falsas. Em causa estão os quadros A Rua Nova dos Mercadores, ponto de partida da exposição, e O Chafariz d´El Rei, que apresentam cenários da Lisboa do século XVI, e cuja autenticidade foi questionada pelos historiadores Diogo Ramada Curto e João Alves Dias.
A Rua Nova dos Mercadores, que os investigadores têm situado entre 1590 e 1610, está dividida em dois painéis, e é propriedade da Sociedade de Antiquários de Londres, enquanto O Chafariz d´El Rei terá sido pintado entre 1570 e 1580, e pertence à coleção de José Berardo.
Na véspera da inauguração da mostra - que apresenta Lisboa como uma importante cidade global no período do Renascimento - o director do MNAA, António Filipe Pimentel, tinha referido aos jornalistas que a análise às obras ia ser avaliada.
A polémica sobre a datação das obras, que os historiadores apontam para o século XX, levou a que o director do museu fizesse uma declaração em relação à credibilidade do trabalho das historiadoras Annemarie Jordan Gschwend e Kate Lowe, The Global City: On the Streets of Renaissance Lisbon, sobre o qual assenta a exposição. António Filipe Pimentel, sublinhou, na altura, que o livro foi "amplamente celebrado pela crítica internacional". Nele, as autoras fazem uma reconstituição do ambiente da cidade de Lisboa no ciclo dos Descobrimentos, a partir de dois quadros que haviam identificado como uma representação da Rua Nova dos Mercadores, a principal artéria comercial de Lisboa no período do Renascimento. António Filipe Pimentel sustentou ainda, na altura, que a mostra conta com o contributo de Henrique Leitão como consultor para a História da Ciência e que reúne "um conjunto, o mais diversificado possível, de acervos, públicos e privados, nacionais e internacionais, numa amostra inédita de obras, todas creditadas ou pela documentação ou pela comunidade científica".
Exposição A Cidade Global
A Rua Nova dos Mercadores.

13/03/2017

Crânio de 400 mil anos descoberto na gruta da Aroeira no complexo arqueológico do Almonda em Torres Novas

Em 14 de Julho de 2014, um dos últimos dias dos trabalhos de escavação na gruta da Aroeira, no complexo arqueológico do Almonda, em Torres Novas, a reduzida equipa de três pessoas já só tinha um cantinho para escavar. Atingiu e esburacou o crânio escondido nas paredes duras como pedra. Era a descoberta de um crânio humano com 400 mil anos, o mais antigo fóssil humano encontrado até hoje em Portugal.
João Zilhão considera estar “em termos de paleontologia humana, ao mesmo nível da criança do Lapedo”. Os detalhes da descoberta, de todo o trabalho de remoção do crânio da gruta e da ainda mais difícil operação de restauro estão num artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). O fóssil chama-se Aroeira 3 e tem, pelo menos, duas características especiais: a precisão da datação feita (entre os 395 mil anos e 430 mil anos) e a combinação única de traços morfológicos que parece remeter para uma fase de transição para os neandertais ou mesmo para um dos primeiríssimos neandertais. Ou, na opinião de João Zilhão, é um crânio que remete única e exclusivamente para um antecessor do homem moderno, sem etiquetas de “espécie” alguma, e que prova a diversidade morfológica que existiu.
O achado é de uma equipa da Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa durante os trabalhos de escavação arqueológica na rede de cavidades subterrâneas associada à nascente do rio Almonda em Torres Novas, onde, desde 1987, se procuram vestígios deixados pelos primeiros povoadores do nosso território. O projeto, coordenado por João Zilhão, que participou em algumas das mais importantes descobertas arqueológicas em Portugal e que agora trabalha na Universidade de Barcelona, já permitiu resgatar pedaços da pré-história da fachada atlântica da Península Ibérica.
O Aroeira 3 foi ferido no momento da descoberta. Quando a equipa procurava, com um martelo demolidor, desbravar as paredes da gruta para chegar ao calcário de base e obter uma visão completa da sequência estratigráfica (das camadas de rocha), a ferramenta abriu, acidentalmente, um buraco no crânio escondido. Rapidamente se confirmou que o fragmento encontrado era humano. A datação também foi fácil, uma vez que esse processo tinha sido feito antes com outras descobertas. É que na mesma gruta tinham já sido encontrados dois dentes isolados e datados da mesma época, de há 400 mil anos. Esses eram o Aroeira 1 e o Aroeira 2. Na mesma gruta, a equipa encontrou outros sinais do mesmo tempo: ferramentas da cultura acheulense (utensílios bífaces de pedra) e ainda ossos queimados que sugerem um uso controlado do fogo.
O resto do crânio continuava preso na rocha e a operação que permitia remover um bloco de rocha com o fóssil exigia ferramentas especiais: uma rebarbadora elétrica, que só chegou a Torres Novas cinco dias depois. A seguir, foram 12 horas seguidas de trabalho para cortar em bloco a brecha que embalava o crânio. Este foi depois enviado para Madrid para a delicada operação de restauro. A preservação do crânio era parcial, mas aplicando técnicas de espelhamento às imagens obtidas por TAC (tomografia axial computorizada) foi possível realizar uma reconstrução virtual que corresponde a dois terços da morfologia original e de que apenas a zona occipital está ausente. A descrição dos traços morfológicos e estudos comparativos foram feitos por um grupo de especialistas, entre os quais Juan Luis Arsuaga, da Universidade Complutense de Madrid.
Este fóssil é do período do Plistocénico Médio (entre 700 mil e 125 mil anos antes do presente) e é um exemplar da enorme diversidade que terá existido na altura em que surgiram, em África, os primeiros antepassados da nossa espécie, o homem moderno (Homo sapiens). Na Europa, o número de fósseis deste período de transição que antecede o homem do Neandertal (que existiu há cerca de 350 mil até há cerca de 29 mil anos) é reduzido e a sua datação bastante imprecisa.
A mistura de traços encontrados no Aroeira 3 lança alguma confusão sobre o “rótulo” que é colocado nalguns dos fósseis que, por terem esta ou aquela característica, são classificados como pertencendo a esta ou àquela espécie. O crânio encontrado em Portugal tem uma combinação única de características morfológicas: algumas evocam os fósseis espanhóis de Sima de los Huesos (na serra de Atapuerca, em Espanha), outras, os Neandertais, outras encontram paralelo em restos de França (Tautavel), Itália (Ceprano) ou Alemanha (Bizingsleben) e outras ainda que são exclusivas dele próprio.
Conclusão: a evolução humana nas populações europeias do Plistocénico Médio foi um processo bastante mais complexo do que até aqui se pensava.
Mas há outra questão em aberto. Este crânio pertencia a um esqueleto. E onde está o esqueleto? João Zilhão compromete-se a realizar“mais uma ou duas campanhas na gruta da Aroeira, durante o próximo Verão. “Tendo aparecido o fóssil, temos a obrigação de tentar encontrar outras partes do esqueleto, se estiverem ali à volta.” Porém, avisa, é preciso apoio, que, até agora, tem sido “apenas da Câmara Municipal de Torres Novas”. “Estamos com esperança de que saia mais matéria, mais problemas destes. Bons problemas. Mas temos de ser apoiados.”
O fóssil agora descoberto deverá ser apresentado ao público em Outubro, numa exposição do Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, que vai incluir ainda a criança do Lapedo e outros importantes achados sobre a evolução humana em Portugal.
É importante continuar a escavar a Península Ibérica que, nos últimos 30 anos, tem revelado alguns dos mais importantes achados da arqueologia da evolução humana. Desde a arte rupestre do Vale do Côa até à criança de Lapedo, passando pelos fósseis da Atapuerca. Se olharmos para o mapa da Europa, a Península Ibérica representa um terço da área habitável do território europeu que durante o Plistocénico não ficou debaixo de água e que não esteve coberta de gelo. Ou seja, prevê João Zilhão, este território pode guardar coisas de pôr “a arqueologia da evolução humana de pernas para o ar”.
gruta da Aroeira, Torres Novas
Fóssil do crânio da gruta da Aroeira (Torres Novas).

Gruta da Aroeira, Torres Novas
Fóssil do crânio da gruta da Aroeira (Torres Novas).
Aroeira 3
Reconstituição virtual 3D do fóssil do crânio da gruta da Aroeira (Torres Novas).

Reconstituição virtual 3D do fóssil do crânio da gruta da Aroeira (Torres Novas).

Reconstituição virtual 3D do fóssil do crânio da gruta da Aroeira (Torres Novas).

Reconstituição virtual 3D do fóssil do crânio da gruta da Aroeira (Torres Novas).

Reconstituição virtual 3D do fóssil do crânio da gruta da Aroeira (Torres Novas).
gruta da Aroeira (Torres Novas).
Objetos de pedra encontrados na gruta da Aroeira (Torres Novas).
gruta da Aroeira (Torres Novas).
Equipa de arqueólogos na gruta da Aroeira (Torres Novas).

12/03/2017

Conímbriga: o fim da cidade romana. Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga

A antiga cidade romana de Conímbriga não foi abandonada antes da Idade Média, um acontecimento que contribuiu para o bom estado de conservação dos seus vestígios arqueológicos. Depois da invasão da cidade pelos suevos, em 465 e 468, e do generalizado declínio da presença romana na Península Ibérica, Conímbriga sobreviveu além do que se esperava.
É para contar esta história que o Museu Monográfico de Conímbriga apresenta a exposição temporária Conímbriga: o fim da cidade romana.
A narrativa tradicional é que foi um abandono muito rápido, os suevos invadiram e saquearam a cidade no século V e a população teria abandonado a imediatamente cidade. Não foi assim. As investigações arqueológicas mais recentes permitem agora iluminar o processo de deterioração e abandono da antiga cidade romana que nunca foi mostrado.
Com as invasões, Conímbriga perde muito rapidamente alguns aspetos da sua qualidade urbana, mas continua a ser habitada. A mostrá-lo estão vestígios da presença muçulmana, mas também da Ordem de Cristo. As necrópoles mostram a diversidade das posteriores ocupações: algumas sepulturas, com o corpo depositado de costas e as mãos sobre o ventre, seguem rituais cristãos; noutras, constata-se que há deposição em decúbito lateral, conforme a fé islâmica.
A cidade foi ocupada até ao século IX. A partir de então, deixa de se ouvir falar de Conímbriga e começa a ouvir-se falar em Condeixa-a-Velha. Há também outra cidade na região que vai crescendo em influência: a antiga Aeminium, hoje conhecida por Coimbra.
Os objetos agora expostos nas vitrines do museu correspondem a vários períodos. Para além de pedaços de cerâmica, há uma ânfora usada como caixão para os enterramentos infantis e, ao lado, um conjunto de fivelas, fíbulas e um elemento de arreio de cavalo, encontrados em escavações realizadas já no século XXI.
Dois marcos de propriedade com a inscrição “Almedina” fazem referência ao período da Ordem de Cristo, quando aquele lugar era conhecido como Almedina de Condeixa. Com exceção dos elementos metálicos, todos os vestígios expostos em Conímbriga: o fim da cidade romana vêm a público pela primeira vez.
Com o tempo, Conímbriga, apesar de manter sempre a muralha visível, acabou por se tornar num olival. Uma das imagens da exposição mostra uma das fotografias aéreas mais antigas da arqueologia portuguesa, captando os trabalhos que ali decorreram algures entre 1930 e 1939.

 Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga
Conímbriga: o fim da cidade romana. Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga.

Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga
Conímbriga: o fim da cidade romana. Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga.

Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga
Conímbriga: o fim da cidade romana. Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga.

Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga
Conímbriga: o fim da cidade romana. Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga.

Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga.
Conímbriga: o fim da cidade romana. Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga.

Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga.
Conímbriga: o fim da cidade romana. Exposição no Museu Monográfico de Conímbriga.