26/02/2016

O Filho de Saul. Um filme sobre o holocausto

O Filho de Saul, a primeira longa-metragem do realizador húngaro e judeu László Nemes, passa-se em Outubro de 1944 e mostra a história dos prisioneiros, essencialmente judeus, que eram destinados à sádica tarefa de “processar” os recém-chegados aos campos de extermínio: os Sonderkommando. Ficavam encarregados de dirigir as vítimas inocentes para as câmaras de gás, retirar-lhes rapidamente os objectos de valor e remover todas as provas materiais da sua morte antes de reduzirem os cadáveres a cinzas nos crematórios. O destino de cada Sonderkommando tinha um limite temporal de apenas alguns meses, até os nazis o executarem, de forma a eliminar as testemunhas das suas atrocidades. Uma nova remessa de escravos era rapidamente trazida para substituir a anterior equipa.
No filme de Nemes, um elemento de um Sonderkommando de nome Saul deseja enterrar com as devidas honras cerimoniais uma criança que pensa ter identificado como sendo o seu próprio filho. No meio de toda aquela loucura, como conseguirá ele manter a sua dignidade, a dignidade do seu filho, e de todos os outros que estão a ser assassinados? Pela cacofonia de alemão, húngaro e iídiche do campo, a câmara segue apenas a perspectiva de Saul, o resto pouco é focado. Nada é explicado, sugerindo o verdadeiro caos da situação do extermínio. Mas gradualmente o Sonderkommando começa a planear o que virá a revelar-se como uma fugaz revolta.
László Nemes já tinha lido sobre os chamados Rolos de Auschwitz, escritos pelos membros dos Sonderkommandos, esses prisioneiros que estavam isolados dos restantes e eram forçados a trabalhar nos crematórios e a apagar os vestígios do extermínio. Essas pessoas enquanto estavam presas observaram e tiraram notas das suas vidas do dia-a-dia e escreveram aquilo que era suposto ser um testemunho, não apenas da sua existência mas também, e ainda mais importante, do extermínio. Estas notas foram enterradas no chão e algumas delas foram encontradas após o fim da guerra. A memória do Holocausto é algo com que tem vivido desde a infância, e subitamente descobriu uma forma de expressar essa memória, fazendo um filme sobre isso.
O consultor histórico calculou que, de um total de 430 mil judeus húngaros que foram deportados em oito semanas, cem mil eram crianças de menos de 18 anos que foram enviadas para as câmaras de gás. E essas crianças nunca tiveram um funeral. É uma ferida em aberto, e consegue-se senti-la.
filme de Nemes
O Filho de Saul mostra a história dos prisioneiros, essencialmente judeus, que eram destinados à sádica tarefa de “processar” os recém-chegados aos campos de extermínio

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