11/04/2017

Faleceu Maria Helena da Rocha Pereira (1925-2017)

Maria Helena da Rocha Pereira (1925- 2017) é um caso exemplar de uma paixão pela Grécia clássica que se traduziu num trabalho de enorme alcance, no domínio da tradução, da edição e dos estudos da cultura e da literatura.
Formou-se em filologia clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 1947. Foi bolseira do Instituto de Alta Cultura na Universidade de Oxford, onde foi discípula de E. R. Dodds, Rudolf Pfeiffer e John Beazley. Concluiu o seu doutoramento em Letras na Universidade de Coimbra em 1956, com a tese Concepções helénicas de felicidade no além: de Homero a Platão.
Entre 1948 e 1957 foi professora de latim e depois de grego antigo no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Porto. Em 1951 tornou-se segundo assistente de Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde faria a sua carreira universitária. No ano de 1964 tornou-se professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra com a cadeira de Literatura Grega. Entre 1965 e 1966 foi diretora do Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra e entre 1991 e 1995 diretora do Instituto de Estudos Clássicos desta mesma universidade. Foi também diretora das revistas Humanitas e Biblos. Jubilou-se em 1995.
A sua obra conta com mais de trezentos títulos, entre traduções, monografias e artigos enciclopédicos. É particularmente conhecida pela obra Estudos de História da Cultura Clássica (dois volumes), obra adptada em Portugal nas licenciaturas da área da literatura e da história. Foi também autora de uma obra sobre os vasos gregos em Portugal, um dos seus campos de estudo. Publicou livros sobre autores clássicos, em especial sobre os gregos Platão, Anacreonte, Píndaro e Pausânias.
Faleceu na madrugada do dia 10 de abril, na casa da família, no Porto.

Foi durante décadas o rosto dos Estudos Clássicos em Portugal. Deixa uma obra vastíssima e um exemplo de determinação e rigor. As suas traduções das grandes tragédias gregas são uma referência, assim como os trabalhos que fez à volta da literatura portuguesa.

Pereceu a Mestre ímpar dos Estudos Clássicos em Portugal, mas a sua obra, o seu exemplo de dedicação incondicional, os seus generosos ensinamentos jamais perecerão.

«A ti não te está destinado, ó Menelau, vindo de Zeus,
Morrer em Argos criadora de cavalos, nem encontrar o teu fim.
Mas os imortais te mandarão para a Planura Elísia,
No extremo da terra, onde está o louro Radamanto.
Aí se oferece aos homens uma vida fácil.
Não neva, não há grande invernia, nem chuva,
Mas as brisas do Zéfiro sopram sempre ligeiras,
Vindas do Oceano, para refrescar os homens.
Isto porque possuis Helena, e para eles és genro de Zeus».

Homero, Odisseia, 4.561-569, em tradução de Maria Helena da Rocha Pereira.

Rocha Pereira
Maria Helena da Rocha Pereira fotografada em 2001.

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