11/09/2015

Homo naledi vem complicar ainda mais a nossa árvore genealógica evolutiva

Uma equipa internacional de cientistas anunciou esta quinta-feira a descoberta de uma nova espécie de humanos antigos numa gruta na África do Sul. Os seus resultados foram publicados em dois artigos separados na revista online de acesso livre eLife.
A nova espécie foi baptizada Homo naledi do nome da gruta, Dinaledi – que em sotho, uma das 11 línguas oficiais da África do Sul, significa “as estrelas”. Situada a uns 40 quilómetros de Joanesburgo, a gruta faz parte do local arqueológico conhecido como "Berço da Humanidade", que a UNESCO classificou como património mundial devido à riqueza de depósitos com fósseis que alberga nas suas inúmeras grutas.
Os 1550 fósseis agora analisados, que são sobretudo ossos mas também dentes, foram recolhidos durante duas expedições à gruta, respectivamente em Novembro de 2013 e Março de 2014. Quatro dezenas de cientistas, liderados por Lee Berger, paleoantropólogo da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, participaram no empreendimento.
Desde 2008 que Berger começou a realizar uma prospecção minuciosa do Berço da Humanidade. E em 2010, já descobrira aliás uma nova espécie de australopiteco, o Australopithecus sediba. Os ossos provêm de pelo menos 15 indivíduos e representam a maior colecção de restos de hominíneos jamais descoberta no continente africano.
O novo “homem das estrelas” merece duplamente a sua alcunha. É que, para aceder à câmara da gruta onde se encontravam a ossadas fósseis – a “câmara das estrelas” – foi precisa a ajuda de seis autênticas “astronautas subterrâneas”. Seis jovens mulheres que desceram pela única via de acesso existente: uma fissura vertical, longa de 12 metros, cuja largura é por vezes da ordem dos 20 centímetros! A câmara que contém os fósseis está a uns 30 metros de profundidade e a cerca de 80 metros de distância, em linha recta, da entrada actual mais próxima da câmara. Na gruta, encontraram adultos e crianças que pertencem ao género Homo, mas que são muito diferentes dos humanos modernos.
Eram muito pequenos e tinham o cérebro do tamanho do dos chimpanzés. Tinham o cérebro do tamanho de uma laranja e um corpo muito esbelto. Na idade adulta, mediam em média um metro e meio de altura e pesavam 45 quilos.
O minúsculo cérebro e a forma do corpo de Homo naledi são mais próximos do grupo pré-humano dos australopitecos do que de nós. Mas as mãos, os pulsos e os pés são muito semelhantes aos do homem moderno. A mão tem características de tipo humano que lhe permitiam manipular objectos, mas ao mesmo tempo tem os dedos curvos, bem adaptados para trepar às árvores. As mãos de Homo naledi levam a crer que tinha a capacidade de usar ferramentas, os seus dedos eram muito curvos e, ao mesmo tempo, é praticamente impossível distinguir os seus pés dos do homem moderno. Os seus pés e as suas pernas compridas permitem pensar que era capaz de caminhar durante muito tempo.
Contudo, a posição exacta da nova espécie na árvore genealógica da evolução humana permanece desconhecida, bem como a idade dos fósseis. Se estes fósseis datam do fim do Plioceno [há 5,3 a 2,58 milhões de anos] ou do início do Pleistoceno [há entre 2,58 milhões e 700.000 anos], é possível que esta nova espécie de Homo, primitivo e com um cérebro pequeno, represente uma fase intermédia entre os autralopitecos e o Homo erectus. Mas se forem mais recentes talvez este pequeno humano tenha vivido, no Sul de África, na mesma altura em que ali evoluíram espécies humanas com cérebros maiores.
Quantas espécies de humanos havia? Havia linhagens que surgiam e depois desapareciam? Coexistiram com os humanos modernos? Procriaram com eles?
Uma das constatações mais surpreendentes dos cientistas foi que os corpos pareciam ter sido depositados intencionalmente na gruta. É possível imaginar vários cenários, incluindo o ataque de um carnívoro desconhecido, uma morte acidental ou até uma armadilha. O cenário mais plausível é que esses corpos tenham sido deliberadamente colocados naquele sítio. Se assim for, isso, só por si, fala da humanidade daqueles homens primitivos e põe em causa a ideia geralmente aceite de que só os humanos mais recentes desenvolveram comportamentos ritualizados. A prática indicaria um comportamento surpreendentemente complexo para uma espécie humana ‘primitiva. A datação dos fósseis poderá fornecer respostas a este enigma.
A mistura de características do Homo naledia mostra mais uma vez a complexidade da árvore genealógica humana e a necessidade de realizar pesquisas mais aprofundadas para perceber a história e as derradeiras origens da nossa espécie.
Seja como for, a câmara das estrelas ainda não revelou todos os seus segredos. Há potencialmente centenas, se não milhares, de restos fósseis de Homo naledi que ainda estão lá em baixo.
Homo naledi, conjunto de ossadas
Ossos do Homo naledi.
Homo naledi, mão
Mão do Homo naledi.
Homo naledi, maxilar
Maxilar do Homo naledi.
Homo naledi - reconstituição
Reconstituição da face do Homo naledi .

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