24/02/2014

El Greco em Toledo

O grande acontecimento do Ano El Greco em Toledo e em Espanha chega a 14 de Março, com a inauguração da exposição com a maior reunião jamais realizada com obras do pintor nascido em Creta, Grécia, em 1541, mas que realizou a parte mais relevante da sua obra naquela cidade espanhola, onde viveu até à morte, em 1614. Mas Todelo está já a viver sob o signo do seu habitante mais ilustre. O primeiro verdadeiro acontecimento do Ano El Greco deu-se, no entanto, no final de Janeiro, quando os responsáveis da Fundação El Greco 2014 recolocaram no seu lugar histórico da sacristia da catedral de Toledo a monumental tela O Espólio (1579), com três metros de altura, depois do restauro realizado no ano passado no Museu do Prado, em Madrid. Rafael Alonso, o restaurador da equipa do Prado, que conta já na sua carteira profissional a responsabilidade pela recuperação de outras 90 obras do pintor, afirmou: “Não consigo imaginar a face de Cristo de outro modo que não esta com que El Greco o pintou neste quadro”, acrescentou o técnico, referindo-se à impressiva imagem de um Cristo envergando um vestido vermelho vivo, pescoço comprido e pose altiva no meio de uma multidão de homens em alvoroço. O Espólio será, no entanto, apenas uma da centena de obras-primas que Toledo vai mostrar – a mais de um milhão de visitantes, esperam os responsáveis da cidade – a partir de 14 de Março, reunidas a partir das colecções dos maiores museus do mundo e também de coleccionadores privados. Telas como A Adoração do Nome de Jesus (National Gallery, Londres), Cristo na Cruz (Louvre, Paris); Vista de Toledo (Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque – que a Reuters lembra ter sido o quadro preferido de Ernest Hemingway), associadas a outras que não chegaram a sair de Toledo, como O Nobre com a Mão no Peito, ou O Enterro do Conde Orgaz, vão ser colocadas nos seus lugares originais, nas igrejas e conventos em volta da cidade e no Museu de Santa Cruz. A exposição fica até 14 de Junho. “Quase todos estes quadros saíram de Toledo no início do século XX. Estamos agora a reuni-los a partir da diáspora de El Greco”, disse à Reuters Gregorio Maranon, presidente da Fundação El Greco 2014. El Greco foi, de facto, um pintor esquecido, um outsider, não só no seu tempo como nos séculos subsequentes. Mesmo se ele é possivelmente "o mais moderno de todos os grandes pintores dos séculos XVI e XVII”, como defende Gregorio Maranon, que vê nele alguém que absorveu do modo mais eficaz as lições de Miguel Ângelo, Ticiano, Tintoretto ou Veronese, e soube combinar as influências da arte bizantina com o maneirismo italiano. Com treino nas grandes escolas de Roma e de Veneza, El Greco chegou à Espanha à espera de ter protecção de Felipe II e tornar-se pintor de corte. Não conseguiu a posição ambicionada e instalou-se em Toledo, a antiga capital, a 70 quilómetros de Madrid. O estilo audaz de El Greco ainda levanta todo o tipo de questões e teorias, que os especialistas tendem a não valorizar, diz Leticia Ruiz, reponsável pelo departamento de pintura anterior ao século XVII no Museu do Prado. "Ele tinha estigmatismo ou problemas de visão? As pessoas ainda perguntam isso hoje", acrescenta Ruiz, falando à Reuters na sala El Greco do Prado. "Ele é um pintor dos pintores. Não é um pintor fácil. As pessoas ou ficam fascinadas por ele ou não gostam." El Greco só viria a ser verdadeiramente redescoberto no século XIX, quando diferentes gerações de estudantes e de pintores que faziam a sua “peregrinação” ao Museu do Prado em busca das obras-primas de Velázquez deparavam com a obra desse "grego" desconhecido. No final desse século, seria mesmo El Greco a marcar sobremaneira a sensibilidade dos impressionistas e expressionistas. “Isto aconteceu com Manet, mais tarde com Cézanne e mais tarde ainda com Picasso”, nota Javier Baron, responsável, no Museu do Prado, pelo departamento de pintura do século XIX. “A influência de El Greco em Picasso é maior do que em qualquer outro artista, desde o início ao fim da sua carreira”, acrescenta este especialista. Javier Baron será, de resto, o comissário do outro grande acontecimento do Ano El Greco em Espanha: a exposição no Museu do Prado, que vai colocar par a par 25 obras do pintor de O Espólio com oito dezenas de outras de artistas de épocas seguintes e até à arte contemporânea – e que vai decorrer de 24 de Junho e 5 de Outubro. No início desta semana, no dia 18 de Fevereiro, foi inaugurada a exposição Toledo Contemporânea, que reúne mais de seis dezenas de trabalhos de artistas dos nossos dias e de diferentes origens – David Maisel, Rinko Kawauchi, Shirin Neshat, Flore-äel Surun, Vik Muniz, José Manuel Ballester, Dionisio González, Matthieu Gafsou, Marcos López, Massimo Vitali, Abelardo Morell y Philip-Lorca diCorcia… –, e que inclui uma instalação vídeo do artista israelita Michal Rovner, projectada na Igreja de São Marcos. Mas estas exposições serão apenas a parte mais mediática de uma vasta programação, que quer colocar esta cidade na margem do rio Tejo e a cerca de 70 quilómetros de Madrid nos roteiros não só turísticos mas também artísticos de Espanha.
o espólio
El Greco - O espólio (1579)

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