22/09/2016

Museu Nacional de Arte Antiga compra pintura de D. João V feita para celebrar a vitória naval do cabo Matapão

O que vemos neste retrato real é um homem ainda jovem, elegante, com um olhar desafiador e uma batalha naval em fundo. Supomos que se trata de um rei porque sobre a mesa há uma coroa e um ceptro. Está em traje militar, mas isso não impede que as suas mangas douradas sejam bordadas e a armadura deixe à mostra uma gola de renda delicada, a mesma dos punhos.
Não se sabe exactamente quando foi executada esta pintura que acaba de entrar para a colecção do Museu Nacional de Arte Antiga, mas certo é que representa D. João V e que o seu autor é o pintor italiano Giorgio Domenico Duprà, o retratista favorito do monarca que associamos de imediato ao esplendor do barroco em Portugal.
Retrato de D. João V e a Batalha do Cabo Matapão é a segunda obra comprada com os 746 mil euros conseguidos com a campanha pública da angariação de fundos “Vamos Pôr o Sequeira no Lugar Certo”, que o MNAA promoveu para comprar A Adoração dos Magos (1828), de Domingos Sequeira.
Este retrato de D. João V tinha já sido mostrado na grande exposição que o MNAA dedicou ao monarca e ao seu tempo em 2013 (A Encomenda Prodigiosa. Da Patriarcal à Capela Real de São João Baptista), depois de no ano anterior a equipa do museu ter decidido seguir-lhe o rasto. A pintura era conhecida de uma fotografia a preto e branco publicada em 1962 pelo historiador Armindo Ayres de Carvalho na obra D. João V e a arte do seu tempo, mas julgava-se que estava ainda na embaixada do Brasil em Haia. Só quando começou a investigar, e com a ajuda dos ministérios dos Negócios Estrangeiros português e brasileiro, é que o MNAA percebeu que pertencera à colecção pessoal do embaixador de então e que era hoje propriedade dos seus herdeiros.O diplomata comprara-a no pós-Segunda Guerra num antiquário em Londres, que a tinha atribuída a outro pintor que não Duprà e que confundira D. João V, o Magnânimo, com um rei inglês.
Feita para marcar a vitória na célebre Batalha de Matapão, em que a armada real portuguesa, respondendo a um pedido do Papa Clemente XI, se deslocou até ao extremo sul da Grécia para enfrentar a frota do império otomano, esta obra de Domenico Duprà (1689-1770) não está datada, mas deverá ter sido executada há 300 anos. As duas armadas – à frota portuguesa, que foi absolutamente decisiva para o sucesso, juntava-se a da República de Veneza e a dos Estados Pontifícios, já que as outras grandes cortes católicas europeias, como França, preferiram ficar em casa, encontraram-se precisamente a 19 de Julho de 1717, quando D. João V (1689-1750) não tinha feito ainda 28 anos. É por isso que aqui vemos um rei ainda jovem, mas já com todos os traços que o caracterizam.
A Batalha de Matapão, operação brilhante e meteórica em que a armada portuguesa arrumou com a frota otomana que ameaçava a península itálica de uma assentada, viria a ser fundamental para a estratégia diplomática do monarca português junto da Santa Sé, que passou a equiparar Portugal às grandes potências católicas da Europa, permitindo até que Lisboa viesse a ter uma Sé Patriarcal.
Esta aquisição permite ao museu expor uma obra de qualidade de Duprà que, mais do que Quillard, é o verdadeiro responsável pela criação da imagem de corte moderna, actualizada, optimista e consequente de que D. João V beneficia. Duprà é o grande pintor régio e este retrato é muito singular na sua obra porque tem uma paisagem em fundo, o que não era nada habitual na sua pintura.
Giorgio Domenico Duprà
Retrato de D. João V e a Batalha do Cabo Matapão, Giorgio Domenico Duprà, c. 1718.

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