03/10/2014

Museu Nacional Machado de Castro - coleção de escultura séculos XI-XIII

A escultura constitui no MNMC uma coleção de referência abrangendo do séc. XI ao séc. XVIII.
O núcleo português é o mais importante e vasto, integrando, além de escultura de pedra - em maior número - muitas obras de terracota e madeira. Abarca vários séculos e tendências artísticas, testemunhando a existência de uma tradição escultórica que converteu a região num dos maiores centros de produção do país. Esta tradição deveu-se sobretudo à existência de pedreiras de calcário brando, em Ançã, Outil, Portunhos e Pena, nos arredores de Coimbra.
Os melhores exemplos da escultura românica portuguesa concentram-se na ornamentação da arquitetura religiosa, no exterior e interior dos templos e dependências conventuais, bem como nos seus claustros. O núcleo coimbrão, que abrange o maior número de espécimes desta tipologia, apresenta algumas das suas melhores realizações – obras de grande riqueza iconográfica, requintado desenho e modelação. Além do que resta do claustro de S. João de Almedina, a coleção integra capitéis, provenientes, em maioria, daquela colegiada e da de S. Pedro, mas também de S. Cristovão , S. Tiago e Lorvão, entre outras igrejas da cidade e arredores. A coleção testemunha ainda várias correntes de influência trazidas, após a queda do Império Romano do Ocidente, pelos sucessivos invasores da Península. Existem no Museu fragmentos de colunas, pilastras e placas hispano-visigóticas ornamentadas e capitéis árabes da época califal de inspiração clássica e trepanados à maneira bizantina. Os temas decorativos, em especial dos capitéis, por vezes inspirados em motivos muçulmanos ou bizantinos, são um dos elementos de classificação dos grupos românicos. Destacam-se os exemplares em que figuram toda uma série de animais simbolizando as virtudes e os vícios, associando-se a determinadas personagens, episódios e dogmas consagrados nos textos bíblicos – ciclo a que pertencem os capitéis provenientes da Igreja de S. Pedro, templo da alta da cidade reformado em época moderna e destruído no séc. XX para dar lugar à cidade universitária. São símbolos esculpidos, presentes na vivência popular. A escultura românica figurativa é rara em Portugal, existindo apenas duas peças, de pedra e do séc. XII, no acervo deste museu: o Anjo de granito e o Apóstolo (S. João Evangelista); o primeiro é proveniente da Sé do Porto, o segundo de Coimbra, encontrado muito fragmentado em escavações no local da primitiva Igreja de S. João de Almedina. Produzindo sobretudo túmulos e imagens, a escultura liberta-se da arquitetura. Mantém no entanto o caráter religioso, quer pelos sujeitos representados, quer pelo facto de se destinar a espaços sagrados, evoluindo de duas formas: a escultura funerária a e a imaginária dos retábulos e altares. A história da escultura tumular, começa no decurso do séc. XIII, altura em que surgiu o hábito de enterrar no interior das igrejas. Várias sepulturas de prelados e cavaleiros surgem colocadas em arcossólios, uma vez que os sarcófagos de exterior não possuíam jacentes.

Museu Nacional Machado de Castro
Capitel Califal
Proveniente de Montemor-o-Velho, é um capitel de mármore branco, de tipo coríntio, densamente decorado com folhas de acanto. As nervuras dos acantos resumem-se a um simples caule central, sendo toda a restante superfície tratada a trépano, incluindo a roseta central, totalmente diluída entre as folhagens, e as próprias volutas.
Museu Nacional Machado de Castro
Capitel Sereia-Peixe
Este capitel, de grande riqueza iconográfica, apresenta um motivo típico do românico – a sereia-peixe. Inspirado num bestiário popular, de origem oriental, simboliza o mar e tem um significado benfazejo e protetor. A peça apresenta decoração assimétrica em três faces, com repetição do tema: uma sereia segurando um peixe na mão direita e erguendo a cauda com a outra.

Museu Nacional Machado de Castro
Arca-Relicário dos Mártires de Marrocos
Exemplo de escultura tumular, esta arca abre o capítulo da escultura gótica, constituindo o mais antigo documento iconográfico que testemunha o culto aos cinco mártires franciscanos. Foi executada para o Mosteiro de Lorvão, para acolher uma relíquia daqueles santos, concedida pelo monarca à Infanta D. Sancha. Destinada a ser embutida em arcossólio, apresenta apenas trabalhado um lado, formando seis edículas para albergar os cinco mártires e o monarca de Marrocos.



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