08/10/2014

Ossadas de militares envolvidos na 3.ª invasão francesa encontradas no antigo mercado do peixe em Torres Novas

As obras de reconversão da praça do peixe, em Torres Novas, estão temporariamente interrompidas devido a descobertas arqueológicas detectadas no decurso das primeiras escavações. Estas escavações destaparam ossadas que se julga pertencerem a militares portugueses do século XIX, do regimento 19, que estariam ao serviço da Artilharia n.º 2 pertencente às tropas gaulesas durante as terceiras invasões francesas, que decorreram entre 1810 e 1811. Estas suposições foram construídas com base nalgum espólio encontrado e que está associado a cada indivíduo, ”parecendo também haver alguma hierarquia a nível militar, devido ao tipo de botões”. Uns são metálicos e outros em osso. Aparentemente, as ossadas não revelaram a existência de ”marcas ou ferimentos”, por exemplo de balas ou cortes com espadas ou outros objectos, o que não quer dizer que em laboratório isso não seja identificável. Pode, nestes casos, tratar-se de soldados que tenham morrido devido a doença. O que tem estado a ser feito é o levantamento minucioso de cada indivíduo e, com recurso a uma antropóloga, tem sido efectuado um estudo dos indivíduos através da sua caracterização a nível da idade e de patologias físicas que os ossos apresentam. Muitas das suposições serão objecto de confirmação em laboratório mas, à partida, tudo indica tratar-se de indivíduos muito novos, com idades entre 16 e 23 anos. ”Os corpos dos militares parecem ter sido enterrados com algum cuidado numa vala comum alegadamente por não serem católicos. Se fossem, teriam sido enterrados num espaço religioso”, como se supõe existirem debaixo da igreja de Santiago e do edifício do Paço, que foi o solar dos Duques de Aveiro e, anteriormente, capela de Nossa Senhora da Nazaré. As pás das retroescavadoras colocaram a descoberto entre nove a dez indivíduos, julgando-se haver mais ainda enterrados no solo, mas a intervenção dos arqueólogos passa por identificar e preservar apenas as ossadas e outros objectos e instrumentos de interesse histórico que surjam no decurso da obra. Ana Rita, a coordenadora dos trabalhos arqueológicos levados a cabo pela empresa Crivarque, afirma que o trabalho dos arqueólogos não irá incidir sobre outras ossadas que possam estar a maior profundidade, ”a não ser que seja muito perceptível” a descoberta de vestígios que possam surgir debaixo dos que estão a descoberto. ”O nosso intuito não é escavar”, assegura Ana Rita, que lembra que a equipa de arqueólogos foi ainda responsável pelo acompanhamento dos trabalhos de picagem das paredes (já efectuado). Na verdade, a componente de escavações da obra ainda não está feita na totalidade, podendo por isso aparecer mais ossadas ou outros elementos de interesse histórico. ”Só actuamos no que é colocado a descoberto, não vamos nós abrir, a não que seja muito evidente e aí actuamos previamente”, reforça. A responsável diz-se surpresa pelas descobertas verificadas. ”Ninguém diria que existiriam neste edifício quaisquer estruturas de interesse histórico quanto mais enterramentos”.
Mercado do peixe Torres Novas
Escavações no antigo mercado do peixe em Torres Novas. As ossadas descobertas podem pertencer  a soldados envolvidos na 3.ª invasão francesa (1810-1811)

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