23/04/2014

William Shakespeare (1564-1616) nos 450 anos do seu nascimento

Será William Shakespeare (1564-1616) nosso contemporâneo? Quando se comemoram 450 anos do seu nascimento – crê-se que terá nascido a 23 de Abril, tendo sido baptizado a 26 de Abril – e se celebra a sua obra, que nunca deixou de ser encenada e admirada, o autor de Hamlet está em toda a parte.
“Shakespeare é omnipresente. Quase não se pode falar inglês sem o citar. Ele acrescentou mais de 2000 palavras à língua inglesa. Palavras e expressões como ‘incarnadine’ (colorir de encarnado), ‘assassination’ (assassínio), ‘sea change’ (mudança de marés), ‘lily livered’ (assustadiço), ‘aerial’ (aéreo), ‘bedazzled’ (ofuscado), mas também palavras que usamos todos os dias, como ‘fashionable’ (na moda), ‘mortifying’ (humilhante, degradante), ‘quarrelsome’ (brigão), ‘reclusive’ (isolado) ou até ‘puke’ (vomitar)”, diz a editora britânica Gail Rebuck, directora executiva da Penguin Random House no Reino Unido.
Quando se fala hoje de Shakespeare, não estamos só a falar de literatura. Estamos a falar de cultura em sentido lato e a realçar a sua universalidade, já que a sua obra atrai todas as culturas e tem sido recontada de inúmeras maneiras em diversas línguas. “A maioria das pessoas sabe frases de Shakespeare, mesmo que não saiba quem as escreveu. Os seus versos são lidos em funerais e casamentos. Os seus sonetos aparecem em cartões de S. Valentim...” Os políticos roubam-lhe frases, os escritores fazem títulos a partir dele, mas, lembra a editora, também foi evocado por um britânico que matou um prisioneiro no Afeganistão. “Para o bem ou para o mal, habita a nossa mente colectiva”, diz Gail Rebuck, lembrando que cada geração se foi inspirando no trabalho do Bardo. “Shakespeare tanto pode inspirar novas peças de teatro como novos livros”, conclui.
E por isso nasceu o projecto editorial The Hogarth Shakespeare, da Hogarth Press, chancela da Penguin Random House: uma série de romances que vão recontar as peças de Shakespeare. “O primeiro destes livros será publicado em 2016, no aniversário da morte de Shakespeare. Vamos ter O Mercador de Veneza repensado por Howard Jacobson. Não podia ter arranjado um par melhor — é uma ‘dream-team’. Aquela que é uma peça de teatro ambivalente e perturbadora, com o seu anti-herói judeu, foi escrita por Shakespeare antes do termo anti-semitismo existir. Vê-la ser examinada por um romancista fantástico como Howard, que fez do anti-semitismo um dos seus temas constantes, vai ser revelador”, diz Gail Rebuck.
Howard Jacobson, o escritor britânico que recebeu o prémio Man Booker em 2010 pelo romance A Questão Finkler (ed. Porto Editora), contou ao PÚBLICO que quando foi convidado para contribuir para o The Hogarth Shakespeare disse logo que lhe parecia um projecto entusiasmante e ficava muito feliz por participar. “Posso, por favor, escolher a peça Hamlet?”, perguntou-lhes. Responderam-lhe que sim, mas que preferiam que fizesse O Mercador de Veneza. Jacobson achou que era “um pouco previsível”, porque é judeu e muitos dos temas dos seus romances estão relacionados com isso: “Lá vamos nós, estou a ficar estereotipado!” Mas chegou à conclusão de que seria um óptimo desafio. “O Mercador de Veneza é uma peça que levanta questões interessantes sobre o anti-semitismo que Shakespeare via à sua volta e que era um lugar-comum na Europa, particularmente em Inglaterra, onde escreveu. Não considero que seja uma peça anti-semita. É impossível imaginar que Shakespeare tenha sido anti-semita, porque o anti-semitismo é uma forma de estupidez e ele não era estúpido em relação a nada”, disse Jacobson ao PÚBLICO.
Shakespeare
William Shakespeare (1564-1616) 

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