«Abanco em frente do grande quadro de carneiros que passa por ser uma das coisas capitais de Silva Porto: bocado de dois metros, onde, por uma azinhaga esboroenta dos calores de agosto, vem uns carneiros, um burro e um pastor. Na barreira da esquerda há uns silvados, piteiras à direita, e acima desta uma oliveira ferrugenta comida pela poeira, queimada dos ardores do sol e pondo uma silhueta doente, hostil, num céu de trovoada. Toda a figuração da cena é escrupulosamente composta do modelo, é tão autêntica a poeira do fundo que uma pessoa a chegar-se e a ficar com o casaco branco dela. Pode-se estudar também cada acessoriozinho, da pintura, está tudo exato, no seu lugar, com uma factura tão nítida, e uma consciência do minúsculo por tal forma escrupulosa que é impossível destrinçar na lã dos carneiros fios que não seja pura lã, e na ramada das silvas folha que não tenha sido vista ao microscópio.
Fotografa-se agora a tela e tão exata é a cópia que pelo cliché não há meio de apurar se a máquina apontava a um quadro, ou se visou realmente uma cena natural.»
(Fialho de Almeida, 1893)
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Silva Porto, Conduzindo o rebanho, (óleo sobre tela, 1600 x 2000 mm), 1893 |
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