26/09/2017

Será Pedro Ataíde o navegador Cristóvão Colombo?

Cristóvão Colombo transformou-se num homem com mil caras. Já foi um tecelão genovês, um bastardo português, grego ou espanhol, catalão ou galego e muitos outros estrangeiros num só homem. A confusão é imensa e o próprio Cristóvão não ajudou. Ele que nunca quis que se falasse nas suas origens e que nunca assinou o seu nome em nenhum documento.
Fernando Branco mergulhou numa história com séculos que é um dos mais intrigantes mistérios da época dos Descobrimentos. Em 2012 escreveu um livro com o título Cristóvão Colón, Nobre Português. O investigador defende que o navegador foi um corsário português chamado Pedro Ataíde, apresentando mais de meia centena de pontos comuns entre os dois. Actualmente, espera apenas uma autorização para abrir os túmulos da família dos Ataídes, em Castanheira do Ribatejo (Vila Franca de Xira). As análises ao ADN, que serão da responsabilidade da antropóloga forense Eugénia Cunha, da Universidade de Coimbra, podem provar que estava correcto ou desmenti-lo. Desde há muito tempo que historiadores e investigadores discutem sobre as origens do navegador que descobriu as Américas. Até hoje, não foi encontrada nenhuma prova ou documento que não deixe, pelo menos, uma pequena margem para dúvidas.
Na biografia Historia del almirante Don Cristóbal Colón escrita pelo seu filho Fernando (ou Hernando), esconde-se a sua origem. O filho de Colombo justifica que o pai não queria que se soubesse onde nasceu. O mais importante seriam os seus feitos na História. O espaço em branco imposto pelo próprio Cristóvão Colombo acabou por ser preenchido com a narrativa mais popular de que será italiano, mais especificamente um genovês nascido em 1451. Mas a versão que prevaleceu está longe de ser consensual. Fernando Branco considera que esse Cristóvão Colombo genovês [Cristoforo Colombo] era um tecelão, sempre foi um tecelão e não pode, de maneira nenhuma, ser o almirante porque se conhecem as histórias de ambos.
Mas se não era genovês, era o quê?
Mascarenhas Barreto defende que Cristóvão Colombo foi um filho bastardo de D. Fernando, irmão de D. Afonso V. Mas, considera Fernando Branco, não há documento nenhum que prove que o D. Fernando tenha tido um bastardo.
Existem outras teorias. A hipótese de um luso-americano, Manuel Rosa, defende que houve um imperador da Polónia ou Lituânia que a história diz que morreu numa batalha contra os turcos mas que ele diz que, afinal, não morreu, mas que veio para Portugal e teve um filho chamado Segismundo que terá nascido em Cuba, no Alentejo. De acordo com esta teoria este filho seria Cristóvão Colombo.
Existe também a teoria dos irmãos Mattos e Silva que dizem que era mais um filho bastardo de uma irmã de D. Afonso V. Ou a versão do livro de Manuel Luciano da Silva e da sua mulher, Sílvia Jorge da Silva, que coloca o navegador a nascer em Cuba, no Alentejo, e que inspirou o filme de Manoel de Oliveira: Cristóvão Colombo, o enigma.
Fernando Branco quando iniciou a investigação começou por definir quais eram as coisas-base que essa personagem, se fosse português, tinha de ter. E há, à partida, uma coisa que é muito importante. Cristóvão Colombo teve dois irmãos. Assim, quando pensamos num Cristóvão Colombo português, temos de arranjar, pelo menos, três pessoas. Além dos irmãos é também preciso encontrar alguém que tem uma história de mar significativa. Tem ainda de ser uma pessoa ligada à nobreza. As principais famílias de nobreza estão todas representadas no tecto do palácio de Sintra, onde estão todos os brasões daquela altura. Um destes brasões há-de estar ligado ao Cristóvão Colombo. Tem de ser solteiro ou viúvo em 1479 porque é o ano em que casa com a sua esposa portuguesa. E com estas pistas, Fernando Branco procurou um “suspeito”. Há um texto escrito por um historiador dos reis católicos, um professor catedrático em Salamanca, que diz claramente num livro que quem descobriu a América foi um indivíduo chamado Pedro Colón. Eis o Pedro. A referência à existência de um Pedro Colón é feita por mais historiadores, de Gaspar Frutuoso a Diogo do Couto (que escreveu com João de Barros as Décadas da Ásia). Procurando Pedro Colón, só encontrou um documento que o refere. É um corsário que aparece numa folha de pagamentos do D. Afonso V. Existem crónicas que dão Pedro Colón como morto numa violenta batalha nas águas do mar, a sul de Portugal, em Agosto de 1476, e que ficou conhecida como Batalha de S. Vicente. Mas Fernando Branco acredita que o tal corsário não morreu ali, que se salvou a nado. Rui de Pina (cronista que descreveu esta batalha), por alguma razão, ou se enganou ou mentiu, mas é muito estranho que no preciso instante em que desaparece um Pedro Colón nasce um Cristóvão Colombo.
Fernando Branco considera que o livro que escreveu foi sobre a vida deste Pedro Ataíde. Era um indivíduo da alta nobreza, descendente de almirantes portugueses. Afirma ter encontrado sessenta indícios comuns entre a vida deste Pedro Ataíde e a vida do Cristóvão Colombo. Por exemplo: O Cristóvão Colombo, quando regressa da América da primeira viagem, pára na ilha de Santa Maria, nos Açores, onde estava um indivíduo que o conhecia muito bem e que se chamava João da Castanheira. Colombo escreve esta informação no seu diário. Como é que o conhecia? Ora, o João da Castanheira era o senhor João da povoação da Castanheira [Castanheira do Ribatejo}, que é a terra dos Ataídes.
Fernando Branco tem mais argumentos para sustentar a sua hipótese. Mas, tal como muito outros historiadores, não tem qualquer documento que sirva de prova. Faltam documentos e por isso é preciso juntar peças de um puzzle construído com crónicas escritas há séculos, cartas supostamente escritas pelo navegador ou a ele dirigidas e muita imaginação. Em Portugal, confirma o investigador, não há um único documento que refira o Cristóvão Colombo.
Agora, o plano é usar o resultado de análises feitas a uma parte dos ossos que pertencerão a Cristóvão Colombo e que estarão guardados em Sevilha e comparar estes dados com exames ao ADN dos esqueletos que estão na Quinta de Santo António, em Castanheira do Ribatejo, onde a família dos Ataídes os enterrou. Do Pedro Ataíde não existe esqueleto, nem ADN, nem nada. Porque ele ou se transformou em Cristóvão Colombo e está em Sevilha ou ficou no fundo do mar durante a Batalha de S. Vicente. Mas podemos vir a ter o ADN de um tio dele por via masculina ou de um primo direito, uns Ataídes que estão no panteão dos Ataídes em Castanheira do Ribatejo.
Fernando Branco vai tentar obter o ADN de António Ataíde (que seria primo direito de Pedro) e de Alvaro Ataíde (tio) e comparar com o ADN de Fernando, filho do Cristóvão Colombo. O processo até conseguir a autorização da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) para abrir os túmulos daquela família é uma longa história. A abertura do túmulo é um processo extremamente complexo. Basicamente é uma caixa, mas tem em cima três tampas sobrepostas e cada uma pesa quase uma tonelada. Foi preciso fazer alterações ao projecto que obrigaram a um novo pedido dirigido à DGPC. Agora só falta esta derradeira autorização para abrir o túmulo, algo que Fernando Branco espera que aconteça no próximo mês de Outubro. Com o túmulo fechado com três pesadas tampas em cima, está tudo em aberto. Não sabemos o que lá está nem como está. A análise depende disso. Os corpos podem estar esqueletizados, mumificados, fragmentados, reduzidos a fragmentos. Pode haver vestígios de roupas e/ou objectos. Será determinado o número de indivíduos presentes no túmulo e feita a sua individualização. Posteriormente, cada um será analisado com vista ao conhecimento do sexo, idade à morte, origem geográfica e estatura. Também será efectuada a perscrutação de eventuais doenças.
No entanto, a análise pode ser inviabilizada pela fragmentação extrema dos ossos ou a má preservação dos restos humanos. Também pode ser possível recolher ossos masculinos e com um perfil idêntico ao esperado e não se conseguir extrair material genético. Neste caso não se conseguiria uma resposta para a hipótese formulada. Se o túmulo estiver vazio, também não.
Se reconstruir um passado já parece um exercício tão complexo, não adianta sequer tentar fazer qualquer previsão de futuro. A única coisa que parece certa é que a discussão sobre as origens de Cristóvão Colombo vai continuar e que este navegador liderou a frota conhecida pela descoberta da América, como nos contam os nossos livros de História. Ou será que também isso é discutível? No seu túmulo em Sevilha, Cristóvão Colombo terá deixado um pedido por escrito: “Espero não ser confundido eternamente”.
Retrato de Colombo e sua assinatura
Retrato de Cristóvão Colombo e a sua assinatura encriptada.
Convento de Santo António - Castanheira do Ribatejo
Convento de Santo António em Castanheira do Ribatejo
Capela em Castanheira do Ribatejo
Capela da família Ataíde em Castanheira do Ribatejo.

2 comentários:

  1. “Colombo Mistério Resolvido”, a obra do historiador e investigador português Manuel Rosa, provavelmente o maior especialista internacional sobre a temática Cristóvão Colombo, vencedora do Prémio “Independent Press Award in World History – 2017”, nos Estados Unidos da América, foi finalmente editada e apresentada em Portugal.
    O livro representa 26 anos de investigação e trás muitas novidades e documentos que permitem o autor a declarar que o Mistério que era Colombo, está agora resolvido.

    Podem adquirir o livro em PORTUGAL só na Livraria Sá da Costa, Rua Garrett nº 100, Chiado em Lisboa ou directamente da editora Arandis aqui:
    http://www.arandiseditora.pt/products/colombo-misterio-resolvido/

    Para os Estados Unidos e outros países, encomendar aqui:
    http://www.columbus-book.com/resolvido.html


    Aconselho a quem tem interesse por este livro que encomende-o já.
    Pois é uma edição extremamente pequena que se esgotará em pouco tempo.


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  2. COLOMBO: MISTÉRIO RESOLVIDO lançado em Portugal
    No dia 5 de Novembro, teve lugar na Livraria Sá da Costa, Galeria o lançamento do novo livro "COLOMBO: MISTÉRIO RESOLVIDO" da Arandis Editora.


    https://colombo-o-novo.blogspot.pt

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