Portugueses na I Guerra Mundial |
03/02/2014
A guerra civil europeia (1914-1918)
“Se não podemos conceber o século XIX sem a Revolução Francesa, não podemos pensar as tragédias do século XX sem a Grande Guerra”, afirmou o historiador francês François Furet. Sem ela, o fascismo, o comunismo, o nazismo e a II Guerra Mundial não seriam concebíveis. Foi uma “guerra civil europeia”, antes de ser mundial, “em que milhões de homens foram lançados numa guerra total e arrancados às suas solidariedades tradicionais, encontrando-se numa posição de absoluta subordinação ao Estado e ao interesse nacional. Numerosas camadas da população aprenderam a política através da guerra. Foi a entrada patológica [da Europa] na democracia” (Furet). “Foi a catástrofe fundadora do século” (George Kennan). Envolveu um grau de violência até então inimaginável, uma “brutalização” das sociedades, culminando numa perda dos valores — e o da vida em primeiro lugar. “A banalização da violência continua em nós e penso que a podemos ligar à I Guerra Mundial”, diz o historiador americano Jay Winter, especialista da Grande Guerra. Quatro impérios desapareceram na tormenta: o alemão, o austro-húngaro, o otomano e o russo — que deu lugar à União Soviética. O moderno Médio Oriente e os seus conflitos nasceram desta guerra. Fez 19 milhões de mortos, entre eles nove milhões de soldados. Há um termo de comparação mais eloquente. Só na Batalha do Marne, de 7 a 12 de Setembro de 1914, a França perdeu 80 mil homens e a Alemanha talvez outros tantos. Em toda a Guerra do Vietname, morreram 47 mil militares americanos. A Europa vivia o mais longo período de paz da sua História — com excepção da guerra da Crimeia, na periferia, ou da breve guerra franco-alemã de 1870. A Europa era o centro económico, político e cultural do mundo, detentora de vastos impérios coloniais. Os EUA ou o Japão eram potências emergentes. Nenhum europeu imaginava a perda do estatuto central da Europa durante muitas gerações. Interroga-se Jay Winter: “1918 já está muito distante de nós mas é ainda um puzzle. Foi para quê? Porquê? Porquê o banho de sangue? Porquê a carnificina? Esta pergunta é, para mim, a questão chave de todo o século XX. Porquê a violência? Porquê a crueldade?”
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