22/12/2016

O Museu Universal. Do sonho de Napoleão a Canova. Exposição em Roma

Um retrato do Papa feito por Rafael, uma escultura clássica que representa Laocoonte com os filhos, a celebrada Vénus Capitolina, um anjo delicado de Perugino e um Cristo em agonia descido da cruz, rodeado de mulheres, pintado por Correggio, estão entre as dezenas de obras agora expostas nas galerias do Palácio do Quirinal, em Roma. O Museu Universal. Do sonho de Napoleão a Canova (até 12 de Março) mostra ainda pinturas de artistas como Ticiano, Veronese, Tintoretto, Carracci ou Guido Reni, unindo-as não apenas uma época ou um território, mas o facto de terem feito parte do lote de obras que o exército de Napoleão Bonaparte confiscou entre 1796 e 1814. Objectivo? Criar em Paris um grande e ambicioso museu capaz de acolher o que de melhor se produzira desde a antiguidade até à data e que viria a ser o embrião do actual Louvre. Um museu para a arte em toda a sua glória e para glorificação do imperador dos franceses, garantindo que se perpetuava, assim, a memória das suas conquistas (o seu nome, nada subtil, seria precisamente Museu Napoleão).
Dito isto, está explicado a inclusão de Napoleão no título da exposição, falta falar de Canova. O escultor, arquitecto e diplomata Antonio Canova (1757-1822) teve um papel fundamental em garantir que mais de 500 pinturas que pertenciam a palácios, conventos e igrejas dos estados papais, assim como dezenas de esculturas, entre elas o célebre Apolo Belvedere que hoje faz parte da colecção dos Museus Vaticanos, regressavam a casa.
Em O Museu Universal. Do sonho de Napoleão a Canova pode ver-se, assim, uma mostra do que foi espoliado e do que foi depois devolvido (dizem os números que 80% das obras terão voltado), em várias e penosas viagens de carroça, com muitos incidentes à mistura (o grupo escultórico de Laocoonte, de c. 40 a.C., caiu quando a coluna em que seguia atravessava os Alpes italianos e partiu-se em vários pedaços). Mas, como o mundo não é a preto e branco e, como gostam de dizer os optimistas incorrigíveis, é sempre possível encontrar algo de bom num cenário à partida catastrófico (o do roubo a mando do general e, mais tarde, imperador), a exposição lembra também que foi na ressaca dos saques napoleónicos e do regresso a Itália das obras que tinham sido levadas para Paris que a divulgação da arte junto do grande público conheceu um incremento, com a criação de vários museus que estão hoje entre os mais importantes do país (a Galeria da Academia, em Veneza, e as pinacoteca de Bolonha e de Milão). Foi assim, aliás, um pouco por todos os territórios europeus que o imperador francês foi anexando ao longo de sucessivas campanhas. E, curiosamente, tendo sempre o projecto do Louvre como referência.
A exposição nas galerias do Quirinal, fala-nos, por isso, de uma época em que, tendo o sonho de Napoleão presente, políticos e académicos perceberam que a arte italiana podia ser apresentada como um ingrediente essencial na formação da identidade europeia, na criação de uma linguagem comum, algo que parece hoje tão importante como há 200 anos.
Chorando sobre Cristo Morto, de Paolo Veronese, c. 1548
Chorando sobre Cristo Morto, de Paolo Veronese, c. 1548.

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