23/12/2016

Museu Bernardino Machado em Famalicão

José Francisco da Cruz Trovisqueira, regressado à terra na segunda metade do século XIX, ali manda construir o agora conhecido como palacete Barão de Trovisqueira. Aquele homem, que emigrara aos 10 anos para o Brasil, fez do regresso um constante desafio contra o marasmo. Edificou uma fábrica de fiação em Riba de Ave, equipada com tecnologia inovadora para a época. Exerceu cargos políticos, foi chefe local do Partido Progressista, deputado em duas legislaturas e presidente da Câmara de Vila Nova de Famalicão. Com ele estava António Luís Machado Guimarães, pai de Bernardino Machado, futuro presidente da República. Com outros brasileiros de torna-viagem foram fundamentais para o desenvolvimento do concelho, através da criação da Misericórdia e, muito em particular, de escolas primárias essenciais para a alfabetização de um povo no essencial analfabeto.
O palacete Barão de Trovisqueira é agora o Museu Bernardino Machado, que comemora 15 anos de existência com duas homenagens. Uma, a Elzira Dantas Machado, casada com Bernardino, com quem teve 19 filhos. A outra, a Júlio Machado Vaz, médico e professor, neto do ex-presidente da República, que doou ao Museu o seu rico espólio documental, correspondência, fotografias e postais ilustrados legados pelo seu avô.
Elzira Dantas, que terá o seu nome atribuído à praceta contígua ao Museu, distinguiu-se ao longo da vida pelo seu papel na defesa dos direitos das mulheres. Foi uma das fundadoras da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, em 1909. Em 1916 preside à Associação de Propaganda Feminista. Com o deflagrar da I Grande Guerra e a participação de Portugal no conflito, ajuda a criar a Cruzada das Mulheres Portuguesas, centrada no apoio aos soldados e às suas famílias.
Uma visita ao Museu proporciona uma suculenta viagem informativa à volta dos grandes momentos da vida de Bernardino Machado. Não é apenas o seu percurso pessoal. É também o modo como se estabelecem as relações com os factos, os acontecimentos, as situações que marcaram o tempo da sua longa vida. Morreu em 1944 com 93 anos de idade. Para trás ficava uma intensa participação nos grandes eventos políticos nacionais.O catedrático coimbrão – foi, com 27 anos, o mais jovem catedrático de sempre na academia de Coimbra - iniciou a sua atividade política como monárquico. Em 1882 foi eleito deputado pelo Partido Regenerador e, em 1890, o corpo catedrático da Universidade elegeu-o Par do Reino. Em 1893 assumiu a pasta das Obras Públicas.
Aderiu à Maçonaria e chegou a grão-mestre. Depois de, em 1903, ter aderido ao Partido Republicano Português, passou pouco depois a dirigir o partido. Em 1910 foi Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Provisório Republicano.
Eleito Presidente da República entre 1915 e 1919, cargo que voltou a desempenhar em 1925, Bernardino Machado foi deposto pelo golpe de 28 de maio de 1926 e por um seu ex-discípulo: Sidónio Pais. Obrigado a renunciar ao cargo, partiu para um longo exílio entre 1927 e 1940.
A figura de Bernardino Machado ocupa um natural lugar de destaque no Museu. Entre uma panóplia de documentos, quadros, fotografias, adereços, vestuário, lá estão dois elementos fulcrais para definir a figura em que tornou. Para lá do bigode, havia a bengala e a cartola. Nos corredores da Assembleia da República, Bernardino era muitas vezes alvo de comentários por sistematicamente chegar atrasado aos debates. Desarmados pela extrema delicadeza e urbanidade de Machado, amigos e adversários necessitados de encontrar uma culpa ou uma desculpa, inventaram uma possibilidade: Bernardino Machado não era indelicado ao ponto de não cumprir horários. Mas era muito cioso do respeito pela sua cartola, que o fazia perder muito tempo. Então, se Bernardino chegava atrasado, a culpa era da cartola.
Museu Bernardino Machado
Vista exterior do palacete Barão de Trovisqueira.
palacete Barão de Trovisqueira
Museu Bernardino Machado.

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