“Esta iluminação peculiar, esta energia típica de Caravaggio, sem correcções, com mão segura, e também os materiais pictóricos, dizem que esta tela é genuína”, disse Turquin. E logo foi avançada mesmo a previsão de que este Judite e Holofernes poderá valer no mercado da arte mais de 120 milhões de euros.
No próprio dia da apresentação do “novo” Caravaggio, surgiram referências a dúvidas que diferentes especialistas da história da arte e da obra do próprio pintor proto-barroco expressaram quanto à autenticidade desta assinatura. A mais citada proveio de Mina Gregori, directora da revista Paragone e responsável pela Fundação Roberto Longhi, em Florença. Esta prestigiada investigadora defende que o quadro em causa deverá ser antes obra de Louis Finson (1580-1617), pintor flamengo que se radicou em Itália no início do século XVII, onde se deixou influenciar pela obra caravagiana. A tese de Mina Gregori foi logo secundada por outro especialista, Gianni Papi, que expôs na sua página no Facebook as suas reservas sobre a atribuição de Judite e Holofernes. “Eu vi o quadro três vezes em Paris, durante o ano de 2015. Não estou convencido de que seja de Caravaggio. Tem demasiados elementos estilísticos em que não encontro a mão do pintor”, escreveu este professor da Universidade de Florença – citado pelo jornal Le Figaro –, exemplificando com pormenores estilísticos como os dentes de Holofernes, a cabeça da criada, ou mesmo reflexos de luz que vê demasiado afastados da estética do autor de O sacrifício de Isaac. Gianni Papi acrescenta que “o gesto de Judite a decapitar Holofernes não tem a energia que caracteriza Caravaggio”, usando como comparação a obra sobre o mesmo tema que se encontra em Roma. Na sua opinião, Finson – que se sabe ter possuído duas telas de Caravaggio na sua colecção pessoal – pode muito bem ser o autor do quadro encontrado em Toulouse, e tê-lo pintado entre 1607-08, eventualmente mesmo influenciado por um segundo quadro que o pintor italiano fez sobre a mesma cena bíblica, mas cujo paradeiro estará ainda por descobrir. Quem também surgiu a secundar a opinião de Papi é o crítico de arte do Guardian, Jonathan Jones, que igualmente logo a seguir à conferência de imprensa de Paris considerou essa “descoberta” como “demasiado boa para ser verdade”. Admitindo que o tema da obra é tipicamente caravagiano, e que o quadro segue claramente o seu estilo, Jones acha que o quadro encontrado em França não tem “a intensidade psicológica” que encontramos na Judite e Holofernes do Palácio de Barberini, que classifica como “o equivalente visual de uma tragédia de Shakespeare”.
Mas o proprietário do quadro agora revelado e Eric Turquin também têm os seus defensores, entre os quais o antigo director do Museu de Nápoles, Nicola Spinosa, e o historiador francês Emile Mourey. E, mais importante do que isso, terão agora 30 meses para defender a sua tese – o tempo que foi estipulado pela ministra francesa da Cultura e da Comunicação, Audrey Azoulay, de interdição de saída da obra do país.
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Novo Caravaggio? |
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