O códice compostelano é um manuscrito profusamente iluminado, dividido em cinco livros, dos quais os mais célebres são provavelmente os dois últimos: o quarto, muito difundido na Europa medieval, é uma narração da história de Carlos Magno, apresentado como descobridor da tumba do apóstolo São Tiago, e o quinto é o mais antigo guia que se conhece do Caminho de Santiago, com descrições do trajecto, inventariação de obras de arte a apreciar no percurso e conselhos de variada natureza aos peregrinos. A par dos manuscritos conservados na Galiza, datados de 1140 a 1170, a candidatura ao programa Memória do Mundo incluiu também uma cópia portuguesa do Codex Calixtinus, com data de 1175, e portanto coeva do códice de Compostela, embora iconograficamente menos rica. Fundamental para o conhecimento da cultura religiosa da Europa medieval, o códice galego é também um objecto único, antiquíssimo e de valor incalculável, mas há alguns anos receou-se que pudesse ter desaparecido para sempre. Roubado em Julho de 2011 da caixa em que estava guardado na catedral de Santiago de Compostela, reapareceu intacto em 2012 nas mãos de um electricista que trabalhava para a igreja.
Conhecidos como Chapas Sínicas, os Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886), designação usada na candidatura à Memória do Mundo da UNESCO, são uma compilação de mais de 3500 documentos, muitos deles redigidos em língua chinesa, que inclui, entre muitos outros papéis, nem todos de carácter oficial, uma vasta correspondência trocada entre as autoridades portuguesas e chinesas desde o final do século XVII quase até ao século XX. No seu conjunto, esta colecção, conservada na Torre do Tombo desde o século XIX, retrata com detalhe o peculiaríssimo papel que Macau desempenhou no mundo durante esses duzentos anos.
O mais recente dos três bens agora inscritos na Memória do Mundo é o registo dos vistos concedidos pelo cônsul português em Bordéus nos primeiros anos da II Guerra Mundial, Aristides de Sousa Mendes, que contra as ordens expressas do Governo do seu país, concedeu milhares de vistos de entrada em Portugal a refugiados, sobretudo judeus em fuga da Alemanha nazi. Os nomes de muitas dessas pessoas constam nas colunas destes registos, conservados no Arquivo do Instituto Diplomático.
Com estas três entradas, a lista da Memória do Mundo inclui agora dez bens ligados a Portugal, num total de 427. Os outros sete são a Carta de Pero Vaz de Caminha, a colecção Corpo Cronológico – um conjunto de documentos produzidos entre os séculos XII e XVII, compilado no século XVIII por um guarda-mor da Torre do Tombo, Manuel da Maia –, o Tratado de Tordesilhas, os relatórios da primeira travessia aérea do Atlântico, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, os arquivos dos Dembos, candidatados em conjunto com Angola (reúnem correspondência trocada entre as autoridades africanas da região dos Dembos, no norte do país, e as autoridades coloniais portuguesas), o Roteiro da Primeira Viagem de Vasco da Gama à Índia (1497-1499), e ainda dois manuscritos medievais portugueses – o Apocalipse de Lorvão e o Comentário ao Apocalipse do Beato de Liébana – que integram um conjunto de 11 manuscritos medievais peninsulares feitos a partir da obra do Beato de Liébana, que viveu no século VIII.
Ilustração do códice Calixtinus. |
Documento que integra os registos de Macau. |
Uma página do livro de registos de vistos concedidos por Aristides de Sousa Mendes. |
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