19/09/2014

População europeia resulta da mistura original de três grupos humanos

A Europa é uma mistura de línguas, nacionalidades, povos. As vagas de migrações, as guerras e as mudanças de fronteiras tornam difícil definir a ascendência de cada cidadão. A genética veio ajudar neste trabalho, tornando-se num utensílio para compreender os movimentos populacionais na história da espécie humana. Agora, uma equipa de cientistas descobriu que na “mistura original” de europeus, além dos caçadores recolectores que já cá estavam e dos agricultores vindos do Próximo Oriente, houve pelo menos uma terceira população vinda do Norte da Eurásia que também contribuiu para aquele fundo genético. O estudo vem descrito num artigo da edição desta quinta-feira da revista Nature.
“Antes deste artigo, os modelos que tínhamos da ascendência europeia era uma mistura de dois movimentos. Mostramos agora que há três grupos”, disse David Reich, investigador da Escola Médica de Harvard (EMH), Boston, Estados Unidos, e um dos autores seniores deste estudo que contou com dezenas de investigadores de vários países.
O que se sabia, de uma forma resumida, é que há cerca de 7000 anos os agricultores vindos do Próximo Oriente entraram pela Europa e misturaram-se com as populações de caçadores recolectores que já andavam por cá há milénios. Esta mistura reflecte-se no ADN das populações europeias de hoje. “Houve uma forte troca genética entre os caçadores-recolectores e os agricultores, reflectindo o movimento grande de entrada de novas pessoas na Europa vindas do Próximo Oriente", explicou David Reich, num comunicado da EMH. Mas os cientistas já tinham encontrado no ADN europeu semelhanças ao ADN dos nativos norte-americanos, que chegaram àquele continente pela Ásia há cerca de 12.000 anos. Esta ligação nunca foi compreendida.
Neste trabalho, a equipa analisou o ADN de 2300 pessoas de vários países europeus, de oito caçadores recolectores de há 8000 anos e de um agricultor de há 7000 anos. Além desta informação, os investigadores incorporaram ainda dados genéticos de outros antigos agricultores europeus e de dois humanos da antiga população do Norte da Eurásia. Estes vestígios foram encontrados em Janeiro na Sibéria. Com esta informação, “pudemos estudar como é que eles se relacionaram com as outras populações”, explicou David Reich.
Ao compararem essa nova população com os grupos humanos da altura e os europeus de agora, ficou revelada uma nova ligação. “Quase todos os europeus têm ascendência de três grupos ancestrais”, disse Iosif Lazaridis, primeiro autor do artigo, da EHM. Mas esta mistura não é todo igual. “Os europeus do Norte têm uma ascendência maior de caçadores-recolectores – até 50% no caso dos lituanos – e os europeus do Sul têm mais antepassados agricultores.”
A ascendência dos europeus vinda do grupo do Norte da Eurásia, que também deu origem aos nativos americanos, está mais diluída. “A ascendência dos euroasiáticos do Norte é, proporcionalmente, o componente mais pequeno em toda a Europa, nunca mais do que 20%, mas encontramo-lo em quase todos os grupos europeus que estudámos e também nas populações do Cáucaso e do Próximo Oriente”, explicou Iosif Lazaridis, acrescentando que depois de aparecer a agricultura, “terá havido uma transformação profunda no ocidente da Eurásia”.
Crânio paleolítico
Um crânio de uma mulher que viveu há 8000 anos, escavado no sítio arqueológico de Kanaljorden, na Suécia

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