Nascido em Lagos, em 1867, Leotte do Rego terminou o curso da Escola Naval em 1887. Em 1894 era já primeiro-tenente e foi promovido a capitão em 1906. Responsável por missões de reconhecimento nas colónias portuguesas em África, sobretudo em Moçambique (deixou uma extensa bibliografia, que inclui planos hidrográficos, guias de navegação e diversos outros trabalhos), aderiu ao franquismo nos anos finais da monarquia e estreou-se como deputado, pelo Partido Regenerador Liberal em1907. Nos meses que antecederam a implantação da República foi governador de S. Tomé e Príncipe, e o novo regime, ao qual aderiu, reconduziu-o no cargo.
Defensor da entrada de Portugal na I Guerra, foi um dos líderes do golpe de 14 de Maio de 1915, que depôs a ditadura de Pimenta de Castro. No mês seguinte é-lhe confiado o comando da recém-criada criada a Divisão Naval de Defesa, funções que manterá até ao golpe de Dezembro de 1917, que leva ao poder Sidónio Pais. Exilado em Paris, Leotte do Rego regressa em 1919 e volta a ser eleito deputado. Morre em pleno Parlamento, a 26 de Julho de 1923, vitimado por um ataque cardíaco que, segundo conta o seu neto, Luís Leotte, poderá ter sido provocado pela ingestão de um copo de leite gelado.
Bastante menos conhecida do que a intervenção do contra-almirante Leotte do Rego na I Guerra é a participação no conflito dos seus dois filhos mais velhos, Luís, nascido em 1895, e Jaime, um ano mais novo. Foram os dois mobilizados para a frente europeia, como capitães de cavalaria, e ambos combateram na Flandres e participaram na batalha de La Lys. O mais velho veio a fazer carreira na diplomacia e viveu uma vida invulgarmente longa, tendo morrido aos 96 anos. O seu sobrinho e homónimo conta que, logo após a I Guerra, o tio chegou a ser secretário, em Angola, de Norton de Matos, que foi um dos mais íntimos amigos do contra-almirante Leotte do Rego. Luís Leotte possui uma fotografia em que o avô e Norton de Matos estão lado a lado, ambos fardados, preparando-se para embarcar no navio que os levaria ao exílio, após a chegada ao poder de Sidónio Pais.
Já o segundo filho, Jaime, embora também tenha sobrevivido ao conflito, teve menos sorte. “Foi muito gaseado e ferido na guerra”, diz Luís Leote. “Após a batalha de La Lys deram-no como desaparecido e morto e foi o seu impedido que percorreu o campo de batalha à procura dele, voltando os cadáveres a ver se o encontrava”. E este impedido, que se chamava Neves, descobriu-o mesmo. “Ainda respirava, e ele trouxe-o para o posto de enfermagem, com a cara toda aberta da orelha ao queixo”.
Jaime Leote “ficou com essa cicatriz para toda a vida”, diz o sobrinho, que está convencido de que os ferimentos sofridos na guerra acabaram por encurtar a vida deste seu tio, que veio a morrer antes dos 50 anos, em 1943.
O contra-almirante Leotte do Rego tinha ainda mais três filhos: Pedro, que morreu de gripe espanhola, uma filha, Joana, que foi sempre enfermiça e também morreu cedo, e finalmente António, o mais novo, que nasceu em 1913, quando a mãe já ultrapassara os 40 anos. António casou-se com Armanda Ferreira de Bettencourt e é o pai de Luís Leotte e dos seus irmãos.
Leotte e o ministro da Guerra, Norton de Matos, de partida para o exílio. |
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