Um relicário em cobre dourado, dito do Preciosíssimo Sangue por alegadamente conservar algumas gotas do sangue de Cristo, que fora roubado na madrugada do passado dia 2 de junho de 2022, reapareceu nos Países Baixos, à porta de Arthur Brand. Com cerca de trinta centímetros de altura, o relicário propriamente dito foi fabricado no século XIX, mas as ampolas metálicas que conserva terão sido descobertas no final do século XII. Ou redescobertas, posto que a tradição sustenta que era já em torno da relíquia do Preciosíssimo Sangue que foi construído no local, em meados do século VII, um primeiro santuário, depois devastado durante as incursões viquingues do século IX. Segundo o Evangelho de João, Nicodemos teria auxiliado José de Arimateia a preparar o corpo de Jesus para o enterro, e terá sido ele, de acordo com uma lenda gnóstica, a recolher as gotas de sangue de Cristo numa relíquia de que teria sido também o guardião original. Já o seu transporte por mar até à costa da Normandia ter-se-ia ficado a dever a um filho de Arimateia, Isaac.
13/07/2022
13/06/2022
Estudos geofísicos detetam um novo templo romano em Conimbriga
Estudos geofísicos detetaram aquilo que deverá ser um novo templo romano em ruínas enterrado no campus arqueológico de Conimbriga. As imagens digitais resultantes da aplicação de equipamentos como um magnetómetro e um georadar permitiram identificar um desenho digital no subsolo semelhante às ruínas de um outro templo que existe no local, descoberto há algumas décadas através de escavações. A revelação foi feita ontem pelo diretor do Museu Monográfico de Conimbriga, Vítor Dias, durante uma sessão comemorativa dos 60 anos do museu. Entre a assistência estavam os especialistas Jorge Alarcão e Adília Alarcão. Ambos se mostraram muito entusiasmados com a revelação, obtida através de trabalhos de campo com a utilização de instrumentos de última geração que detetam, com cruzamento de dados, todo o tipo de infraestruturas subterrâneas, designadamente estruturas arqueológicas, tubagens e condutas. Será uma das mais importantes descobertas de Conimbriga nas últimas décadas, com as imagens a mostrar que há também diversas estruturas muralhadas e condutas no terreno a escavar, que se estende por cerca de 18 hectares do planalto rodeado pela Muralha Augustana, onde só 1/3 do total foi escavado até agora, à procura do que resta da conquista pelos romanos, provavelmente em 136 antes de Cristo. Vítor Dias admite que até ao final da próxima semana deverão ser obtidos mais dados que, a confirmar as descobertas, serão essenciais para completar a candidatura que está a ser preparada a fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Mosaicos de Conímbriga |
31/05/2022
Escavações na necrópole de Saqqara revelam sarcófagos com múmias e outros objetos da civilização egípcia
Uma exposição de arqueologia egípcia exibiu 250 sarcófagos pintados com múmias preservadas no interior, algumas com mais de 2500 anos. Foram encontrados nas escavações no Cemitério dos Animais Sagrados, na necrópole de Saqqara, Cairo. Os artefactos incluem 150 estátuas de bronze de antigas divindades e vasos utilizados em rituais de Ísis, deusa da fertilidade na mitologia egípcia antiga, que datam de 500 a.C.. O destaque é uma estátua de bronze sem cabeça de Imhotep, o arquiteto-chefe do faraó Djoser, que governou o Egipto entre os anos de 2630 a.C. e 2611 a.C.. Dentro de um dos caixões, os arqueólogos descobriram um rolo de papiro que acreditam conter capítulos do Livro dos Mortos, uma coleção de orações, feitiços, magia, hinos e lendas do Antigo Egipto. As peças vão poder ser vistas numa exposição permanente no novo Grande Museu Egípcio, um projeto ainda em construção perto das Pirâmides de Gizé. Saqqara faz parte de uma extensa necrópole na antiga capital do Egipto, Memphis, cujas ruínas foram designadas Património Mundial da Unesco na década de 1970. As Pirâmides de Gizé e as pirâmides menores de Abu Sir, Dahshur e Abu Ruwaysh são os monumentos que fazem parte da necrópole.
Trabalhador limpa os sarcófagos em Saqqara |
A coleção consiste em 250 caixões pintados de madeira com múmias |
Os sarcófagos estão datados de c. de 500 a.C. |
Foram descobertas 150 estátuas de bronze de divindades egípcias antigas e vasos utilizados em rituais |
Figuras egípcias como Bastet, Anubis, Osiris, Amunmeen, Isis, Nefertum e Hathor |
Descoberto manuscrito original do Padre António Vieira
Clavis Prophetarum (A Chave dos Profetas), manuscrito original da autoria do Padre António Vieira que se considerava perdido, foi encontrado em 2020 nos arquivos da biblioteca da Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma. Sabia-se da existência da Clavis Prophetarum por via de várias cópias dispersas pelo mundo, e pelas referências à obra na correspondência de Vieira, mas desconhecia-se o paradeiro do manuscrito original há mais de trezentos anos. Uma anotação à margem do texto permitiu identificar o manuscrito como sendo o original, conclusão validada com exames laboratoriais ao tipo de papel, de tinta e de encadernação.
O manuscrito tem mais de 300 páginas e a edição desta obra é da responsabilidade dos investigadores Ana Travassos Valdez, especialista em História Moderna da Europa, e Arnaldo do Espírito Santo, que coordenou a edição crítica dos Sermões e do Livro III da Clavis Prophetarum. Deverá, ainda sem data anunciada, ser publicada numa edição crítica em português e inglês, em três volumes, correspondendo à divisão original feita pelo seu autor.
Trata-se de uma obra que pertence à série dos escritos proféticos e escatológicos de Vieira e era considerada pelo próprio jesuíta a sua obra mais importante. A Clavis Prophetarum poderá ser lida como uma superação de outros textos em que Vieira expusera a sua visão milenarista, como a carta Esperanças de Portugal, enviada ao também jesuíta André Fernandes em 1659, na qual o padre propõe a sua interpretação das trovas de Bandarra, vendo nelas o anúncio do Quinto Império, ou ainda a obra póstuma inacabada História do Futuro. A Chave dos Profetas é, em suma, um tratado teológico-político, cujo argumento profético é a consumação futura do reino de Cristo na Terra.
Padre António Vieira (pintura a óleo da Casa de Cadaval) |
29/05/2022
Fórum romano de Pax Iulia
A Câmara de Beja vai investir 1,3 milhões de euros para valorizar e tornar visitável o fórum romano da cidade, composto por vários vestígios arqueológicos. Este núcleo arqueológico está situado num logradouro entre a Praça da República e as ruas Abel Viana, da Moeda e dos Escudeiros, e composto por vários vestígios, com destaque para dois templos romanos. Um dos templos, dedicado ao culto imperial, terá sido construído na época do imperador Tibério, de 14 a 37 do século I d.C., e é o maior descoberto em Portugal e um dos maiores da Península Ibérica. O outro é o primeiro templo do fórum de Beja correspondente à fundação romana e datado do início do último quartel do século I a.C., no tempo do primeiro imperador romano, Augusto. A obra vai incluir também a construção de uma infraestrutura para permitir a visita ao núcleo, com uma arquitetura minimalista e que não se sobrepõe à importância dos achados arqueológicos.
Vestígios arqueológicos do fórum de Pax Iulia |
A Sé de Idanha-a-Velha
Igaedis no período romano e Egitânia no período suevo.
Importante urbe durante a ocupação romana da Península
Ibérica e sede de bispado no período suevo e visigótico até à ocupação muçulmana. Em 1199 a sede episcopal só foi
transferida para a Guarda. Território entregue à Ordem dos Templários e, extinta esta no reinado de D. Dinis, transitou para a
Ordem de Cristo. A riqueza do seu património arqueológico
explica-se pela sobreposição de ocupações. Os trabalhos arqueológicos do século XX concentraram-se na Catedral,
no Lagar de Varas, no Museu Epigráfico e nas ruínas do Paço dos Bispos,
fornecendo um caudal volumoso de informação. Trabalhos arqueológicos permitiram recuar a
história local e encontrar os mais antigos baptistérios conhecidos em
Portugal: uma das piscinas bap
tismais terá mesmo sido utilizada no
século IV, o que a transformou num dos vestígios mais recuados do
cristianismo no território que atualmente é Portugal.
O edifício religioso que define Idanha-a-Velha alimentou controvérsias. Dom Fernando de Almeida não teve dúvidas em ver na Sé um monumento dos primeiros cristãos, mas, no final do século XX, foi proposto que o edifício terá sido, ao invés, uma mesquita, do final do século IX, local de culto de Ibn Marwan, um rebelde contra o poder de Córdova. Na verdade, a Sé é um dos mais enigmáticos monumentos da Alta Idade Média portuguesa. A maior parte do monumento atual corresponde ao registo quinhentista e uma inscrição com o ano 1593 valida essa datação. No século XIX, perdeu a função de culto e foi transformada em cemitério. Já nas ruínas do Paço dos Bispos não há certeza sobre a antiguidade das camadas que circundam a Sé. Dom Fernando de Almeida sugeriu que seriam do Paço Episcopal Visigótico, mas o mais certo é serem de simples habitações de época posterior, embora ainda medieval.
A descoberta, em 2018, de uma porta na muralha de acesso à cidade, de origem romana, mantém vivo o debate sobre as origens de Idanha-a-Velha
A Sé de Idanha-a-Velha: de planta retangular com dois eixos ortogonais |
Restauro dos Painéis de S. Vicente
No início de 2022 os Painéis de S. Vicente podem ser vistos sem a camada de verniz que lhe confere o brilho. O verniz tem uma função de película protetora que impede a sujidade de se colar à tinta e ajuda a fixar e evidenciar as cores. A passagem do tempo pode escurecer esse verniz.
As camadas de verniz que ao longo de séculos foram sendo aplicadas com o objetivo de proteger a pintura e de facilitar a sua leitura estão agora a ser estudadas a partir de microamostras e os resultados vão dizer aos técnicos, entre muitas outras coisas, qual é o sistema de limpeza mais adequado para as retirar, que solventes ou misturas de solventes terão de ser usados.
Os técnicos esperam vir a conseguir remover praticamente todas as camadas de verniz que hoje escurecem os Painéis, mas não é certo que o consigam. O que está agora em curso faz parte de uma espécie de linhagem, de um esforço de séculos para proteger esta pintura e garantir que ela continuará a intrigar quem a vir por muitas gerações.
Intervenção no Painel da Relíquia |